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Polícia de SP esclareceu 35 de 88 chacinas em 99
Por Do Diário do Grande ABC
07/05/2000 | 17:22
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Um campo de futebol devorado pelo mato foi a lembrança que restou, além do medo, para os moradores do bairro Jardim Santa Rita de Cássia, em Osasco, na Grande Sao Paulo. No local, na madrugada de 16 de outubro de 1999, ocorreu uma chacina. Seis pessoas foram mortas, três delas da mesma família. Até hoje, a polícia nao conseguiu prender os autores do crime. Essa é apenas uma das 53 chacinas que ocorreram no ano passado que ficaram sem soluçao.

No total foram registradas na regiao metropolitana de Sao Paulo 88 chacinas, com 302 mortos. Desses crimes, segundo a Secretaria da Segurança Pública, 47 ocorreram na capital somando 154 vítimas e 41 foram registrados nos municípios da Grande Sao Paulo, resultando em 148 vítimas.

os casos ocorridos na capital, 26 foram esclarecidos, o que corresponde a 55,3% das chacinas. Já na regiao da Grande Sao Paulo, a situaçao é diferente. Apenas nove das 41 chacinas tiveram os autores identificados e presos. O número corresponde a 21,9% dos casos.

Este ano já foram registradas 35 crimes do gênero na regiao metropolitana de Sao Paulo, totalizando 123 mortes. A capital foi cenário de 22 execuçoes em massa, que resultaram em 75 mortos. Desses casos, 14 foram já conseguiram ser esclarecidos pela polícia.

A Grande Sao Paulo computou de janeiro até hoje 13 casos. A Assessoria de Imprensa da Secretaria da Segurança Púlica nao soube informar quantos casos foram esclarecidos. A última chacina registrada ocorreu na madrugada deste sábado, em Embu. Três homens foram executados com diversos tiros. A polícia nao tem pistas dos assassinos.

Silêncio - A lei do silêncio e o medo que as testemunhas têm de revelar detalhes sobre o crime que presenciaram é a maior dificuldade da polícia durante a investigaçao de uma chacina.

"Essa é a nossa principal dificuldade, pois para conseguirmos provas para pedir a prisao de alguém precisamos de depoimento, reconhecimento e outras informaçoes formais", informa o delegado responsável pela Equipe Especial de Investigaçao de Homicídios Múltiplos, José Carlos Soares.

A delegacia antichacina, como é conhecida popularmente, pertence ao Departamento de Homicídios e Proteçao à Pessoa (DHPP) e foi criada em fevereiro deste ano exclusivamente para cuidar das chacinas que ocorrem na capital. Os crimes do gênero praticados na Grande Sao Paulo geralmente sao investigados pelos departamentos de homicídios do local.

"Esses assassinos aterrorizam os moradores da comunidade, pois têm a coragem de matar em plena luz do dia", conta o delegado. "Isso causa um clima de terror onde o que prevalece é a lei do silêncio."

"O que a testemunha precisa saber é quando se trata de homicídios múltiplos o assassino nao responde em liberdade", afirma Soares. "Esse é o maior medo da testemunha, que o assassino saia da cadeia e se vingue", explica ele. "Se houvesse mais denúncias, com certeza o número de esclarecimentos seria maior."

Medo - Mesmo após quase sete meses, o que prevalece entre os moradores do bairro Jardim Santa Rita de Cássia, em Osasco, é a lei do silêncio. Ninguém sabe ou viu nada a respeito da chacina no local, que resultou em seis mortos.

Na beira do campo de futebol funcionava um bar onde as pessoas iam beber, conversar e dançar forró, quando na madrugada do 16 de outubro, um grupo de homens armados invadiu a festa e iniciou um tiroteio.

"Foi tiro para tudo que é lado", revela C.M., 37 anos. "Sempre aparecia alguém baleado, após alguma briga no bar, mas no dia da chacina foi uma confusao e uma pavor que nao dá para explicar."

Segundo C., o que comentam na regiao que é a chacina ocorreu por causa de briga de ponto de tráfico. "Parece que foi uma gangue de outro lugar que queria dominar o bairro", comenta. "Mas nao adianta, aqui ninguém viu nada ou sabe de alguma coisa."

Há pouco tempo, o terreno onde fica o campo de futebol foi vendido para uma indústria, que construiu um muro no local.




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