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Cobertores Parahyba é mantida por cooperativa
Por Do Diário do Grande ABC
30/10/1999 | 13:05
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A marca Cobertores Parahyba, uma das mais conhecidas em todo o Brasil, é mantida hoje no mercado por uma cooperativa de funcionários. Afundada em dívidas, a fábrica da Tecelagem Parahyba encerrou suas atividades em dezembro de 1993, depois de 70 anos de funcionamento em Sao José dos Campos (SP). A soluçao encontrada na época pelos proprietários da empresa, sindicatos da categoria e funcionários foi dar início a um processo de autogestao. Atualmente, a companhia é gerida pela Coopertêxtil, criada no fim do ano passado.

Atualmente, as mantas e cobertores Parahyba estao retomando o espaço perdido nas sucessivas crises da empresa, que pertenceu à família do ex-senador Severo Gomes. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil de Sao José dos Campos, Miranda Ueb Machado, foi um dos coordenadores do processo de transformaçao da antiga tecelagem para a empresa de autogestao Fábrica de Cobertores Parahyba . "A família Gomes nos chamou e ofereceu a fábrica para uma cooperativa", relembra.

O processo foi difícil. O Sindicato dos Mestres e Contra-Mestres da Indústria Têxtil também apoiou a mudança. As duas entidades de classe saíram na busca por um modelo que se adaptasse às necessidades da nova empresa. Isto foi encontrado numa fábrica de calçados, em Franca (SP), e trazido para a Cobertores Parahyba. O início das operaçoes industriais foi em março de 1994, com 150 funcionários. Cerca de 90 dias depois, já trabalhavam na linha de produçao 420 empregados numa demonstraçao clara da força da marca. "A empresa conseguiu fechar novos contratos e recuperar parte do mercado", conta a presidente do Sindicato dos Mestres, Maria Auxiliadora de Alcântara.

Uma das dificuldades foi obter capital de giro para adquirir matéria-prima e formar estoque. A saída foi promover uma parceria com os fornecedores, como a Rhodia Ster, até a chegada de US$ 7,5 milhoes financiados pelo BNDES. Como garantia o agente financiador ficou com o maquinário da tecelagem. O dinheiro foi usado para cobrir parte das dívidas trabalhistas, com fornecedores e readequar o espaço fabril. Cerca de US$ 1,5 milhao foi pago aos detentores da marca, a título de cessao de uso.

O ápice desta nova fase da fábrica foi no período de 96/97, quando novos contratos foram fechados com as grifes Pierre Cardin e Maurício de Souza. A linha de produçao tinha 460 funcionários e a marca voltou a dominar 50% do mercado nacional. Segundo os sindicalistas, a empresa voltou a enfrentar problemas administrativos e acabou por deixar de pagar o empréstimo federal. No ano passado, a Fábrica Cobertores Parahyba encerrou as atividades com uma dívida no BNDES de US$ 22 milhoes.

Nova tentativa - A experiência até certo ponto bem-sucedida da primeira tentativa levou um grupo de 50 funcionários da fábrica a tentar novamente. Em dezembro de 1998, foi criada a Coopertêxtil, cooperativa que tem gerenciado uma das mais fortes marcas no segmento de cobertores e mantas já existente no país. Atualmente a fábrica, que ainda funciona no mesmo local das anteriores, tem 320 cooperados e está conseguindo manter bons níveis de pedidos e novos contratos.

A marca foi cedida por regime de comodato aos novos administradores. Com menos de um ano de atividade, a cooperativa dá sinais claros de evoluçao e retomada da produçao. Os associados estao tendo de alongar as jornadas de trabalho para conseguir atender à demanda. Segundo os sindicalistas, a Coopertêxtil tem estimulado a criaçao de outras cooperativas de produçao nos mesmo moldes no setor têxtil. "Eles se basearam na experiência anterior e conseguiram corrigir alguns erros do sistema de autogestao", comenta Auxiliadora Alcântara.

Autogestao - Os sindicatos ligados ao setor têxtil de Sao José dos Campos estao utilizando a experiência adquirida na transformaçao da Tecelagem Parahyba para estimular a criaçao de empresas de autogestao em empresas que fecharam. Um dos mais recentes exemplos é a Cooperativa de Trabalhadores Multi-Tex, que acabou se transformando em modelo para o Programa Nacional de Geraçao de Empregos e Renda (Pronager) e para o Programa de Geraçao de Empregos e Renda do Estado de Sao Paulo. "Procuramos ajudá-los o máximo possível e eles estao indo muito bem", diz Auxiliadora Alcântara.

A Cooper Multi-Tex foi instituída em março de 1998 e hoje tem 20 cooperados na produçao e na administraçao da empresa. A carteira de clientes foi ampliada neste período e o único problema enfrentado foi a burocracia do BNDES para conseguir a liberaçao de R$ 80 mil para capital de giro e estruturaçao da cooperativa. Foram quase dois anos para conseguir a verba. "Essa foi a primeira cooperativa de pequeno porte a ser atendida pelo BNDES", explica Machado.




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