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Prefeituras gastam só com
uma empresa R$ 99 mi
Sérgio Vieria
Do Diário do Grande ABC
10/01/2011 | 07:23
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As prefeituras de Santo André, São Bernardo e Mauá gastaram R$ 99 milhões no ano passado com apenas uma empresa ‘guarda-chuva' - com contratos de vários segmentos -, a Logic Engenharia e Construção Ltda.

O valor corresponde a 1,4% dos orçamentos das administrações do Grande ABC em 2010, de R$ 7 bilhões. Também equivale a mais do que o dobro que a peça orçamentária de Rio Grande da Serra no período, de R$ 41 milhões. É como se a empresa conseguisse em um ano a metade do valor pago pela Mega da Virada deste ano. Os valores dos contratos com as administrações constam nos portais da transparência dos governos municipais.

Ao todo, a empresa possui 323 contratos com as três administrações. É como se ela participasse de praticamente um processo licitatório por dia, que rendeu aos cofres da empresa R$ 271,2 mil a cada 24 horas de 2010 somente dos governos municipais. As contratações foram feitas por meio de registro de preços ou pregão presencial.

O município comandado por Aidan Ravin (PTB) desembolsou R$ 39,4 milhões. A cidade dirigida por Luiz Marinho (PT) pagou à Logic no ano passado R$ 49,6 milhões. Já a Prefeitura capitaneada por Oswaldo Dias (PT) arcou com R$ 10 milhões.

Na maior parte dos contratos, há a expressão ‘adequação', sem apresentar, nos portais das administrações municipais, mais detalhes do serviço executado pela empresa.

No caso de Santo André, por exemplo, a Logic foi contratada em 2010 para prestar serviços como readequação do prédio do Poupatempo da Saúde, reparo no gramado do Estádio Bruno José Daniel, reforma da plataforma da estação da Vila de Paranapiacaba, reforma da copa do 3º andar da Secretaria Municipal de Cultura, adequação do Teatro Municipal, manutenção da piscina do clube Pedro Dell'Antônia, muro de arrimo do Cemitério do Curuçá, entre outros. São 98 processos de contratação da empresa no ano passado.

 

MAIS CONTRATOS

Em São Bernardo, foram 194 contratos, para realizar entre outros serviços, pintura e hidráulica da Secretaria de Educação, conservação do Teatro Lauro Gomes e manutenção de diversas Emebs (Escolas Municipais de Educação Básica). Em Mauá, foram 31 acordos entre o governo petista e a Logic, divididos entre as Secretarias de Serviços Urbanos, Educação e Saúde.

Entre as ações contratadas, estão manutenção de prédios públicos, adequação da UBS (Unidade Básica de Saúde) Central para AME (Ambulatório Médico de Especialidades) e manutenção predial do Hospital Municipal Doutor Radamés Nardini.

Questionadas sobre a quantidade de contratos celebrados com apenas uma empresa, as Prefeituras de Santo André, São Bernardo e Mauá não falaram sobre o assunto.

 

Sócio contribui para campanhas petistas

 

A Logic Engenharia e Construção Ltda., com sede em Pinheiros, em São Paulo, apresenta, segundo a Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo), capital atual de R$ 15 milhões. Com participação de R$ 13,5 milhões, Rogério Ricco Bertoni é o sócio majoritário da Logic. Reilson Duque da Cruz e André Roberto de Albergaria Arantes aparecem com R$ 750 mil cada um.

Também têm participação no quadro societário da Logic as empresas Duque Arantes Planejamento e Construção Ltda., Home Upgrade SA, F&R Funilaria e Pintura SC Ltda ME, Televideo Comércio Representações e Serviços Ltda, JJO Construtora e Incorporadora Ltda., Building Administração e Participações SA e André Roberto de Albergaria Arantes ME.

Os diretores da empresa respondem à ação no TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, sob acusação de terem infringido a lei 8666/93 (lei de licitações), cometido possíveis práticas ilegais em concorrências públicas e assinado contratos milionários sem licitação com a Prefeitura de Suzano, administrada pelo petista Marcelo Cândido.

 

DOAÇÕES

Nas duas últimas eleições, Bertoni fez doações, como pessoa física, para candidatos. Em 2008, doou R$ 5.000 para o então candidato a vereador Goulart (PTB) e R$ 100 mil para o comitê municipal de candidatos a vereador do PTB. Na região, o então prefeiturável de São Bernardo Luiz Marinho (PT) recebeu R$ 20 mil do dono da Logic.

No ano passado, ele repassou recursos para três candidatos petistas: R$ 5.000 para Geraldo Leite da Cruz, a estadual; R$ 5.000 a Vicente Cândido, a federal e R$ 10 mil a Marta Suplicy, a senadora. Os três foram eleitos. Reilson, outro sócio da Logic, também doou R$ 10 mil para a campanha deste ano da ex-prefeita de São Paulo.

Em 2006, a Logic doou R$ 15 mil para a campanha de Oswaldo Dias (PT), que na ocasião tentava vaga de deputado federal. O petista não conseguiu assegurar cadeira e ficou com a segunda suplência da legenda no pleito.

Entre 2008 e 2010, a Logic recebeu R$ 8 milhões do governo federal, conforme consta no Portal da Transparência, da Controladoria-Geral da União.

Os gastos foram realizados pela Advocacia-Geral da União, órgão vinculado diretamente à Presidência da República. Pelo portal do governo federal, a empresa foi contratada para implementação de unidades da Procuradoria-Geral Federal em São Paulo.

Em 2009, o vereador de Mauá Atila Jacomussi (PV) entrou com ação no setor de crimes de prefeitos no Ministério Público, por conta das inúmeras contratações. Em novembro do ano passado, o órgão solicitou mais informações à Promotoria de Mauá.




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