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Scolari confirma fama de 'copeiro'
Por Do Diário do Grande ABC
17/06/1999 | 00:40
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Sentado nas cadeiras numeradas do Estádio da Vila Belmiro, o técnico Luiz Felipe Scolari era um dos 2.471 torcedores que suportaram o frio e a chuva do dia 4 de junho de 1997 para assistir a despedida melancólica do Palmeiras no Paulista da temporada na goleada que sofreu para o Santos por 4 a 0.

Recém-contratado, Scolari viu pela primeira vez sua equipe, que diante do plano de emergência adotado pela diretoria, foi dirigida pelo diretor de Futebol, Sebastiao Lapola, que assumiu interinamente o cargo depois da demissao do técnico Márcio Araújo.

Scolari assistiu a uma caricatura de time e previu que teria muito trabalho. Dois anos depois, sentiu-se com a missao cumprida ao levar o Palmeiras à conquista inédita da Taça Libertadores da América na decisao contra o Deportivo Cali, quarta, no Palestra Itália.

Da equipe que observou na Vila Belmiro, o técnico manteve no elenco Velloso, Roque Júnior, Galeano, Agnaldo e Júnior, mas nem todos como titulares. Os demais, como Sandro, Dedimar, Sérgio Soares, Marquinhos e Almir foram embora. Edmílson, que também fazia parte do elenco, saiu do clube em 1998 e retornou nesta temporada. Metade da equipe campea foi contratada a pedido do treinador: Arce, Júnior Baiano, César Sampaio, Alex, Zinho, Paulo Nunes e Oseas, além dos reservas Evair, Jackson e Euller.

A diretoria do Palmeiras, com auxílio da Parmalat, patrocinadora do clube, foi buscar o treinador no Jubilo Iwata, do Japao, para onde Scolari tinha se transferido após ter sido campeao brasileiro pelo Grêmio, em 1996. Scolari nao se habituou ao futebol japonês, que ainda nao havia assimilado o regime profissional e muito menos à disciplina tática. Por isso, rescindiu seu contrato com o Jubilo Iwata.

Scolari foi apresentado como o novo treinador do Palmeiras dia 2 de junho de 97 na sala de troféus do Parque Antártica. Embora tivesse declarado no início que nao tinha a obrigaçao de ser campeao, a fama de técnico "copeiro" foi decisiva para que a multinacional acertasse um contrato de dois anos com Scolari.

Era o tempo que a empresa e o clube imaginavam que poderiam ver o time campeao da Libertadores, principal objetivo da co-gestao Palmeiras-Parmalat, e, conseqüentemente, disputar o Mundial Interclubes em Tóquio. Tal sucesso o Palmeiras nao teve nem com o atual técnico da seleçao brasileira, Wanderley Luxemburgo, apesar de ele ter ganho muitos títulos no Palmeiras: o Paulista de 1993,94 e 96, o Brasileiro de 93 e 94 e o Rio-Sao Paulo de 93.

Scolari montou a comissao técnica. Trouxe o preparador físico, Paulo Paixao, seu companheiro no Grêmio e no clube japonês, e o auxiliar-técnico, Flávio Teixeira, que, além de coordenar os amadores do clube, é com quem o treinador troca idéias sobre o esquema tático que irá adotar numa determinada partida. Teixeira é também o espiao de Scolari, ao observar os jogos do adversário.

Em pouco meses de trabalho, Scolari devolveu ao Palmeiras o espírito de time de decisao. O Alviverde chegou à final do Brasileiro de 1997 com o Vasco. Mas o time carioca, beneficiado pela campanha que fez durante a competiçao, foi campeao ao empatar os dois jogos sem gols.

Dono de personalidade forte e fama de disciplinador, Scolari disse ter enfrentado preconceitos por parte da imprensa paulista que teve resistência para aceitar seu método de trabalho.

O desentendimento do treinador com alguns jornalistas chegou ao auge no dia 17 de abril de 98, quando ele desentendeu-se com o jornalista Gilvan Ribeiro, do Diário Popular, durante uma entrevista no campo municipal de Barueri. Após a discussao com troca de ofensas, o treinador agrediu o jornalista com um soco na boca.

Um mês depois, Scolari ganhou seu primeiro título importante no Palmeiras: a Copa do Brasil, conquista que serviu de passaporte para o Alviverde disputar a Libertadores. Foi uma decisao dramática e emocionante contra o Cruzeiro.

No primeiro jogo, realizado em Belo Horizonte, o time mineiro venceu por 1 a 0. O Palmeiras teria de vencer por 2 a 0 na partida de volta, no Morumbi, para ser campeao.

Numa época em que o País já começava a viver o clima da Copa do Mundo, o Palmeiras conseguiu o resultado que precisava. O Cruzeiro, desfalcado da sua principal estrela, o goleiro Dida, que estava com a seleçao, na França, nao suportou a pressao do adversário.

Paulo Nunes fez 1 a 0, mas o gol decisivo só foi marcado por Oseas quase no fim da partida. Scolari chorou de emoçao e a torcida fez festa pela cidade, o que nao ocorria desde 1996, quando o Alviverde foi campeao paulista pela última vez.

O Palmeiras de Scolari fechou a temporada com mais uma conquista: a primeira Copa Mercosul entre equipes sul-americanas. O Alviverde decidiu a competiçao novamente contra o Cruzeiro. No primeiro jogo, em Belo Horizonte, o time mineiro venceu por 1 a 0. Na segunda partida, em Sao Paulo, o Palmeiras ganhou por 2 a 0, provocando um jogo extra. A equipe paulista ficou com o título ao vencer a terceira partida por 1 a 0 (gol marcado por Arce).

Ao começar esta temporada, o Palmeiras e a Parmalat reforçaram o elenco com as contrataçoes de César Sampaio, Jackson, Rivarola e Evair. A prioridade era mesmo a Libertadores, embora a comissao técnica e a diretoria nao tivessem firmado essa posiçao.

Uma declaraçao de Scolari, no início da competiçao, quase prejudicou o ambiente no clube. Cansado de ouvir os comentários de que seu futuro no Parque Antártica dependeria de ganhar ou nao a Libertadores, afirmou que iria embora independentemente de qualquer resultado do Palmeiras na competiçao sul-americana.

O impasse foi contornado. O treinador ganhou apoio da torcida, que lotou o Palestra Itália em outros jogos importantes, como na vitória sobre o Flamengo por 4 a 2. pelas quartas-de-final da Copa do Brasil, e nos 3 a 0 sobre o River Plate, da Argentina, pelas semifinais da Libertadores.

Na segunda-feira, após o encerramento no Paulista (o Palmeiras disputa o segundo jogo da competiçao contra o Corinthians, domingo, no Morumbi), Scolari vai decidir seu futuro. A Parmalat está empenhada na permanência do treinador, pelo menos até o fim do ano.

Assim, ele poderá preparar a equipe para a disputa do Mundial Interclubes contra o Manchester United, da Inglaterra, dia 30 de novembro em Tóquio. "Após dois anos, conquistei meu espaço no futebol paulista, passei a admirar o Palmeiras e sua torcida, e montei um time que me deixou orgulhoso."

Se renovar seu contrato com o Palmeiras, Scolari poderá ainda melhorar sua marca no clube como o treinador que teve vida mais longa no Parque Antártica nos últimos anos. Há 24 anos meses no Palmeiras, ele ultrapassou Wanderley Luxemburgo como o técnico que passou mais tempo ininterruptamente no cargo desde 1975, ano da saída de Osvaldo Brandao, que permaneceu durante quatro anos seguidos no clube alviverde.

Depois de ter adotado linha dura no ano passado, o treinador foi mais criterioso na escolha dos jogadores que foram campeoes da Libertadores. Deu preferência para jogadores casados ou atletas que contavam com uma folha sem problemas disciplinares fora de campo. Scolari adotou também concentraçoes longas nas vésperas de jogos importantes. "Nao tive um problema interno, ninguém demonstrou vaidade ou falta de companheirismo", diz. "A personalidade de cada atleta foi importante para a conquista", enaltece Scolari.




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