Sem dúvidas, eu não poderia deixar de compartilhar, neste espaço, minhas impressões, emoções e expectativas após ser conduzido à responsabilidade de tamanha relevância. 

Conheci a Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), antes de seu próprio nascimento. Eu tinha 6 anos, em 1982, e naquele período as políticas públicas e ofertas estatais de serviços e programas voltados às pessoas com deficiências eram coisas raras de se encontrar. 
Foi em meio a esse cenário que meu pai, Sr. Sebastião Divino Ferrari, e mais algumas dezenas de metalúrgicos de uma grande montadora do Grande ABC passaram a se organizar para criar uma associação. 

Nas minhas memórias ainda são bastante claras as reuniões intermináveis. Lá os pais falavam de seus sonhos e medos relacionados aos filhos: ‘Eles precisarão trabalhar quando crescerem, necessitarão de atendimento, precisam estudar'. Em meio a tanto desespero e união, nasceu a Avape, uma entidade que promovia festas e desenvolvia um grande conjunto de esforços para dar seus primeiros passos.

Para encurtar a história, a entidade cresceu, tornou-se referência em habilitação e reabilitação clínica e profissional para diversos tipos de deficiências, estruturando uma área robusta de empreendimentos para financiamento da missão. Para essa transformação, foram necessários quase 20 anos, e foi lá pelos anos de 2005 ou talvez 2006 que eu passei novamente a ter contato com a entidade, convidado pelo então presidente Marcos Gonçalves. 

Nosso afastamento, meu e de meus pais, da organização, se deu por conta de alguns motivos: o primeiro talvez tenha sido em virtude de um aspecto logístico. Em 1984, dois anos depois da fundação da Avape, acabamos mudando de residência em busca da primeira casa própria do velho BNH (Banco Nacional da Habitação), fomos morar na periferia de São Mateus, cidade de São Paulo. Somado a isso, a Avape cresceu no início com foco principalmente nas deficiências intelectual e física, não havendo, então, para mim, uma pessoa cega, serviços que pudessem interessar.

Mas de volta aos anos 2000, como eu disse no parágrafo passado, meu retorno se deu por conta de um convite. Eu já era um militante com atuação nacional e internacional junto ao segmento de pessoas com deficiência, e somado a isso ainda era filho de fundador. Assim, fui chamado a fazer parte de um dos conselhos da organização. Novamente resumindo, passei a conhecer desde então uma entidade com corpo técnico diferenciado, metodologias de ponta, e um compromisso com o usuário pautado não pela pena ou ajuda, mas pela busca de sua autonomia e por sua consciência enquanto cidadão detentor de direitos. 

Foi assim, em meio a uma história de idas e vindas, que de seis anos para cá pude conhecer e me apaixonar pela entidade que meus pais ajudaram a fundar. Infelizmente, como nem tudo são flores, também vi a organização perder receitas, enfrentar alguns problemas de gestão, e passar por enormes dificuldades financeiras. 

Contei-lhes tudo isso, pois no dia 30 de abril, fui condu/CPzido, pela assembleia de associados da organização, à presidência da instituição. 

Assumir esse enorme compromisso não é algo simples, porém tenho a convicção de que este trabalho será realizado a muitas mãos e mentes. Conto com o apoio dos conselheiros da Avape, de empresários, da classe política, de movimentos sindicais, outras organizações não governamentais, colaboradores da entidade e, principalmente, com a participação ativa das pessoas com deficiência.

* Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes).