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Arilza Coraça chega a 50 anos dedicados ao basquete andreense

Técnica da equipe adulta feminina de Santo André fala sobre escolhas e tabus sofridos pelas mulheres no esporte brasileiro

Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
08/03/2021 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


Arilza Coraça completou recentemente 70 anos, 50 deles dedicados ao basquete de Santo André. Em 1971, foi aprovada por Paulo Albano dos Santos e passou a defender o time da cidade, pelo qual foi multicampeã, convocada às seleções paulista e brasileira, disputou Pan-Americano e Mundial e, em 1985, em razão de lesões, decidiu encerrar a carreira como atleta para passar adiante seu conhecimento. Conciliou a função de técnica das categorias de base com o cargo de auxiliar da inseparável companheira Laís Elena, até sua aposentadoria. Desde então, assumiu o bastão e comanda o time profissional feminino (com pequena janela na qual foi assistente de Bruno Guidorizzi). E, atualmente, faz os ajustes finais para a décima participação da equipe na Liga de Basquete Feminino – primeira campeã e única a disputar todas as edições da competição. 

E se tem algo que pouco mudou nestas cinco décadas dedicadas à formação e ao desenvolvimento da modalidade andreense é o abismo que existe entre o esporte masculino e o feminino. Nada melhor do que levantar este debate também na esfera esportiva neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Inclusive, Arilza será a única treinadora da Liga de Basquete Feminino, enquanto as outras sete equipes terão homens no comando. Mais uma mostra deste cenário desigual na modalidade que reflete em toda a estrutura desportiva, partindo desde a base dessa cadeia, formada pelas atletas. 

“A atleta mulher sente mais dificuldade do que o atleta homem em qualquer país. E no Brasil a diferença é gritante, porque muitas vezes o preconceito começa na família, o tabu se inicia em casa. Já aconteceu de eu descobrir menina talentosa e os pais não deixarem treinar porque queriam a formação dela como preparação para o lar, para cuidar da casa. Hoje mudou, melhorou, mas existe muito tabu e tratamento diferente. E o esporte masculino tem privilégio muito grande, basta ver a diferença de remuneração”, compara ela, que ainda lida e vê frequentemente mulheres em conflito com outras escolhas, como casamento e maternidade. No Santo André, entretanto, muito até pela atuação e instrução da técnica, há três mães no elenco: Letícia, Jaqueline e Sassá.

Natural de Itapira, no Interior, Arilza teve dentro de casa o apoio que falta a muitas meninas. “Minha maior incentivadora foi minha irmã, Antônia Coraça, que no domingo passado (28), veio a falecer (mal súbito). Minha professora de educação física, Dona Cida, foi quem me iniciou. E minha irmã que montou equipe para a gente disputar Jogos Regionais e Abertos”, recorda. “Depois, ela me trouxe para São Paulo para fazer faculdade na USP.”

E a partir da aprovação no teste para o time andreense, Arilza passou a fazer dupla jornada. Lecionava aulas de educação física e, à noite, treinava no extinto clube da Pirelli. Após concluir a faculdade, prestou concurso para dar aulas em Santo André, foi aprovada e se mudou definitivamente. Foi professora por 30 anos. “Ajudei a formar homens e mulheres”, celebra a treinadora, que vai além: “Percebo que mesmo aquelas que passaram por mim na iniciação e se tornaram atletas olímpicas ou foram para a Seleção Brasileira, o que mais valorizam é a formação integral que tiveram. Sempre tive preocupação em encaminhá-las e valorizar o estudo, porque paralelamente com a formação como atleta, me preocupava com a formação educacional.”

NBA

Enquanto Arilza é exclusiva na LBF, recentemente, a norte-americana naturalizada russa e ex-armadora Becky Hammon, 43 anos, se tornou a primeira mulher a comandar um time na principal liga do mundo, à frente do San Antonio Spurs diante do Los Angeles Lakers após a expulsão do técnico Gregg Popovich. Segundo Arilza, esse fato tem grande relevância. “Foi a prova de que a mulher é tão competente quanto o homem e pode assumir qualquer função, em qualquer departamento, basta se preparar e estar disposta a cumprir as determinações que o cargo exige. Deve ser valorizado quem é competente, independentemente de gênero. Fiquei muito feliz por ela”, exalta.

Time acerta detalhes para a estreia

Santo André faz seus últimos ajustes para a estreia na edição 2021 da Liga de Basquete Feminino, a partir de sábado, contra o Ituano, no Interior. A equipe renovou com peças fundamentais como Ariadna, Jaqueline, Letícia, Lays e Maria Carolina, repatriou Sassá, trouxe Carol Ribeiro e Milena, conta com a argentina Pag Gonzales e ainda tem jovens da base, como Marcella, Aninha, Stephany e Aisha.

“Gostamos de desafios, pois desde a primeira edição da LBF e até hoje sabemos o quanto superamos e agora ainda mais, diante da pandemia que nos assola e nos leva a muita superação e aprendizado”, destaca a técnica Arilza Coraça. “Hoje posso falar com certeza que, em todos estes anos e em todas as edições da Liga de Basquete Feminina, somos vencedoras e estimulamos todas nossas atletas para que pudéssemos, entre outras coisas, formar a atleta, a cidadã e, acima de tudo, mulheres de bem, que são espelhos e também para as da base que se espelham nas adultas. Santo André entra para a disputa desta LBF com uma equipe muito competitiva. Chegaremos preparados para a competição, visando mais um título”, conclui. 




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