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Preço do gás muda rotina na região

Com botijão vendido a até R$ 89,90, famílias de menor renda adotam alternativas para driblar disparada

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
25/11/2018 | 07:37
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EBC


Com custo médio de R$ 68,04 na região, mas vendido até por R$ 89,90, o preço do botijão do gás de cozinha pode representar até 10% do orçamento das famílias que recebem um salário mínimo (R$ 954). O insumo, considerado essencial para a preparação dos alimentos, já passou por quatro reajustes neste ano pela Petrobras, sendo que, em 6 de novembro, a majoração foi de 8,5%. Por conta dessa constante variação, famílias com rendas menores recorrem a formas alternativas de cozinhar, até retirando alimentos da mesa, e mudando toda a organização das contas.

Os preços do botijão foram levantados pelo Diário com base nos dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). A cidade com o menor valor registrado é Mauá: R$ 50. O mais caro está em São Caetano, com R$ 89,90 (veja mais informações na arte acima).

A caixa de supermercado aposentada Maria de Fátima Peres, 58 anos, moradora do Jardim Santo André, precisou rever o orçamento da casa para continuar comprando o botijão. “A gente tem de se virar, não tem outro meio. No ano passado, eu pagava R$ 50 e agora, no mesmo lugar, já custa R$ 70. Então, eu sempre corto alguma coisa que iria comprar, principalmente a mistura. Em vez de comprar um quilo de carne, compro abobrinha, por exemplo, ou meio quilo de carne. E o dinheiro que economizo já vou guardando para o gás”, contou ela, que mora junto com o filho de 14 anos.

Além da aposentadoria, no valor de um salário mínimo, ela também conta com a pensão do filho (R$ 400). “Por isso ainda me considero privilegiada. Consigo cortar no meu orçamento. Tem pessoas em uma situação ainda pior do que eu.”

A cuidadora Renilda Soares da Paz, 50, mora no Parque Reid, em Diadema, com mais três pessoas. Atualmente, ela está desempregada, mas, por conta de bicos, recebe média de R$ 900 por mês. “Eu também conto com a ajuda dos meus filhos que trabalham. Mas as coisas não estão fáceis. Já consegui economizar 15 dias de gás com algumas mudanças. Carnes e frango eu asso no forno elétrico. A água para o café ou o arroz eu esquento no micro-ondas até ferver. Então, eu praticamente não uso o fogão”, ponderou ela, que, no ano passado, pagava R$ 54. Agora, R$ 68.

A estudante do Ensino Médio Laryssa do Santos Nogueira, 17, mora com o marido e o filho de 11 meses na invasão do núcleo Dominicanos, em Santo André. No local, algumas pessoas precisaram recorrer ao carvão para cozinhar. Sem nenhuma renda na família, já que todos estão desempregados, a última vez que Laryssa comprou gás foi há três meses. “Não tenho nenhuma condição de comprar outro. Então, eu vou me virando como posso. O botijão está no fim, então cozinho na casa da minha mãe ou da minha irmã. Não temos uma renda fixa, já que meu marido procura emprego. O que conseguimos é por conta de recolher materiais recicláveis e damos prioridade para a comida.”

Nova política impactou nos valores do insumo

Desde 2017, a Petrobras iniciou outra política de preços para o GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) residencial, que calcula o valor do botijão para as distribuidoras com base no mercado internacional com divulgação de ajustes periodicamente. Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff (PT) também pôs fim ao represamento de preços do insumo, que desde 2013 era mantido praticamente estável. Segundo especialista, essas duas mudanças representaram impacto importante para as famílias de menor renda.

Em 2015, o produto era encontrado no Grande ABC por R$ 44. No máximo, por R$ 55. Ou seja, o maior preço de agora é 63% a mais do que o de três anos atrás na região.

“A liberdade de preços tem vantagens e desvantagens. Mas ela coloca um preço que é essencial na vida das famílias, passando por variações gigantescas. De 2013 a 2015, as variações não eram tão grandes e aconteciam somente por conta do preço nas distribuidoras e os impostos, o que vem mudando de 2016 para cá”, avaliou o economista e professor coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição. 




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