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Vila brasileira se divide na torcida entre Brasil e Paraguai
Do Diário do Grande ABC
14/07/2000 | 18:06
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Uma certa vila brasileira vai ter o sotaque e a torcida bastante divididos na terça-feira, quando os vizinhos sul-americanos Brasil e Paraguai se enfrentam mais uma vez, agora pelas Eliminatórias da Copa de 2002.

A Vila Paraguaia, bairro em Foz do Iguaçu, perto do centro da cidade, nao nega o nome que tem e é, do Oiapoque ao Chuí, o lugar com mais paraguaios vivendo em terras brasileiras. No dia do jogo, o verde-amarelo vai se misturar nas ruas com o vermelho, azul e branco. Mas, aqui, a rivalidade é em clima de paz e bastante familiar.

É que, curiosamente, a maior parte das famílias tem parentes dos dois países. Ora os avôs sao paraguaios, os filhos brasileiros e os netos de ambos os países ou vice-versa.

Um exemplo claro é o que acontece na Mariscal Francisco Solano Lopes, rua com nome daquele que chefiava seu país no que se chamou de guerra do Paraguai. É lá a casa do jogador iguaçuense Curê, meio-campo 29 anos com passagens pelo Cerro Porteño, Olímpia e Cerro Corá, ambos do Paraguai, e Atlético Mineiro e Bahia (clube atual), do Brasil. Seu pai, Juan Vicente Chaves, já falecido, era paraguaio e torcedor fanático do Cerro. Casou-se com Clotilde Chaves, também paraguaia, e teve cinco filhos brasileiros. As quatro irmas de Curê - Sandra, Miriam, Margarida e Blanca - sao todas torcedoras do Flamengo, do Rio. Mas Daniel Quintana, 20 anos, primo de Curê, é paraguaio. Se nao for ao estádio Defensores del Chaco, estará na casa da família para torcer pelo seu país.

``Sou minoria aqui, mas o Paraguai vai sair vencedor, com certeza', disse Daniel, torcedor fanático do Cerro que tem como ídolo da sua seleçao o atacante Hugo Brizuela, atualmente defendendo o Universidad de Chile. ``Que nada, o Brasil ganhará de 3 a 0', brincou Sandra Chaves, a anfitria.

Daniel gosta de ser do contra. Como a maioria na família é rubro-negra, no Brasil acaba torcendo pelo Vasco e pelo Palmeiras - o sobrinho Anderson, 8 anos, é corintiano. ``Aqui nos reunimos sempre em dia de jogos. No Brasil x Paraguai, entao, é uma festa. Fazemos muita farra e bebemos muita cerveja. As ruas ficam embandeiradas e há festival de fogos. Mas aqui no bairro há muitos paraguaios', disse Sandra.

O seu marido, César Rolum, gaúcho e torcedor do Internacional, ostentava camisa do zagueiro e ídolo paraguaio Gamarra, quando por lá jogou, em 1995. Em toda a casa, há sempre algo que liga os dois países. No andar de cima, onde Curê reserva um quarto para guardar troféus, quadros, camisas e faixas de campeao, um exemplo da fé dividida. Bem lá no alto, numa prateleira, lado a lado, as imagens da Santa Aparecida, padroeira paraguaia, e Nossa Senhora da Aparecida, a do Brasil. ``O Curê sempre reza para as duas e lembra do pai', afirmou Samira, namorada do jogador e estudante de Jornalismo.

Na Vila Paraguaia, fé, paixao e amizade se unem, mesmo que em torcidas opostas. Talvez a previsao de César para o resultado do jogo seja a melhor para a ocasiao. ``Acho que vai dar um empate nesse jogo. Vai ser 1 a 1, e o gol do Paraguai vai ser do Chilavert (goleiro), de pênalti.'




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