Foi assim e assim será, 20 anos depois de sua estréia nos Estados Unidos. Em março do próximo ano, a fim de celebrar as duas décadas de lançamento do maior filme dos anos 80, os estúdios Universal preparam um relançamento que sucumbirá à práxis da temporada, manifestada entre cineastas como George Lucas, Francis Ford Coppola e William Friedkin. E.T. finalmente terá o seu “director’s cut”, a versão do diretor.
O significado disso, todo bom cinéfilo conhece. Cenas novas, discretas (mas fundamentais) mudanças em seqüências conhecidas e toda sorte de facilidades que só a tecnologia digital advinda após Jurassic Park (do mesmo Spielberg), em 1993, pode proporcionar.
Spielberg, de tesoura empunhada, e a produtora Kathleen Kennedy, com as justificativas na ponta da língua. “Não é pelo dinheiro. Nós queremos apresentar o filme apropriadamente, em uma tela de cinema, para novas gerações.” OK, as finanças ficam em segundo plano, mas seria tolice não considerar um faturamento inflável para a reestréia, que engordaria os US$ 702 milhões já arrecadados em todo o mundo de 1982 para cá. O cofrinho entupido de dólares é a prova de que também pode ser atribuído a Spielberg o milagre da multiplicação – ele precisou de pouco mais de US$ 10 milhões para concluir E.T..
O retorno da cambaleante criatura aos projetores promete um arrastão de novidades. Serão dez minutos a mais de filme, que incluem a cena em que E.T. e o garoto Elliott (Henry Thomas) tomam banho – excluída na época dadas as limitações dos efeitos especiais; os movimentos dos lábios do alienígena serão aperfeiçoados graças ao tratamento do CGI (tecnologia digital); a tomada do Halloween, quando Elliott e seu irmão passeiam com o extraterrestre de estimação fantasiado de fantasma, será esticada; e ainda haverá a aparição-relâmpago de Harrison Ford, excluída pelo temor de que o ator, então ascendente, pudesse roubar a cena.
Tudo dentro dos conformes até Spielberg decalcar um certo maneirismo politicamente correto, evidente em mudanças cabais na nova versão de E.T.. As armas portadas pelos agentes do governo que rastreiam a molecada serão substituídas digitalmente por walkie-talkies e palavras como “pênis” e “terrorista” foram excluídas dos diálogos. Quem diria, até mesmo o famoso pacifista interplanetário, retratado pelo cineasta como uma versão em crepon da saga cristã, contribuiria para a infantilização crescente do cinema hollywoodiano.
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