Economia Titulo Crise financeira
Não há pacote anticrise nas prefeituras do Grande ABC

Prefeituras não definiram conjunto de medidas que podem aliviar economia e combater demissões

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
02/02/2009 | 07:02
Compartilhar notícia


A turbulência provocada pela crise econômica e a consequente onda de demissões na região ainda não estão sendo encaradas com a devida urgência pelas prefeituras. Apesar de não haver sinais e ações concretas e emergenciais no poder público das sete cidades, haverá neste mês um encontro entre os secretários municipais de desenvolvimento econômico e o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.

Mesmo assim, as prefeituras da região afirmam que têm se esforçado por capacitar as pessoas para reintegrá-las ao mercado de trabalho e identificar as fragilidades das empresas para auxiliá-las a gerir melhor sua administração, além de localizar novos nichos de mercado para conter as demissões no Grande ABC.

Em entrevista com os secretários de desenvolvimento econômico de Diadema, Santo André e São Caetano, o Diário identificou as principais ações de combate à crise.

O secretário de São Bernardo, segundo sua assessoria, por motivo de agenda não pôde responder à reportagem. O secretário de Ribeirão Pires enviou nota, assim como a prefeitura de Mauá, que ainda não nomeou alguém para o cargo. O representante de Rio Grande da Serra não se manifestou.

Para o especialista em economia e sociedade regional Jeroen Klink, não é só o poder público que pode resolver as questões da crise. Na opinião dele, é preciso aproveitar o laboratório de políticas públicas de que é formado o Grande ABC e realizar uma gestão compartilhada. "É preciso juntar sindicatos, entidades representativas e poder público para coletar informações, diagnosticar onde está o problema e então fazer um pacto mais amplo, montando medidas conjunturais e estruturais para melhorar a competitividade sistêmica das empresas da região, discutindo como diversificar a economia regional e deixar as empresas locais menos vulneráveis".

Demissões - Desde outubro, quando se deu o estopim da turbulência financeira, a economia nacional desacelerou, após ter alcançado recordes de produção, caso da indústria automobilística, e as demissões começaram a aparecer. Somente em dezembro, 8.620 postos formais de trabalho foram fechados na região. Os setores que mais encerraram vagas foram: indústria (4.699) - puxada pela cadeia automobilística; serviços (2.484), construção civil (870) e comércio (714). Este último, foi um dos setores que segurou os índices que incluem trabalho informal, já que foi beneficiado pelo fim de ano e o 13º salário. Como os dados disponíveis referem-se a dezembro, no balanço de janeiro deve haver ainda mais cortes.

O setor automotivo da região representa 29% da indústria nacional. São Bernardo é responsável por 46,1%, São Caetano por 43,2%, Santo André por 14,3% e Diadema representa 13,1%. Tanto que é inevitável o efeito dominó, já que estão aqui grandes montadoras e inúmeras autopeças. Só as metalúrgicas demitiram 1.194 trabalhadores desde novembro - somente na última semana foram demitidos 302.

Prefeituras apostam em capacitação

DIADEMA
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Diadema, Luiz Paulo Bresciani, diz que a preocupação é solucionar o problema em sua raiz, o que se traduz em medidas de médio e longo prazo, mas não há, por enquanto, ação imediata para frear o desemprego. Ainda mais no município, onde se tem a presença de muitas pequenas autopeças, que, por dependerem exclusivamente do pedido das fornecedoras oficiais das montadoras, ficaram sem trabalho.

"O governo de Diadema não vai ficar assistindo à crise. Vai buscar fortalecer a indústria local, o que é uma tarefa permanente", disse Bresciani. Segundo o secretário, a ideia é estreitar a relação com a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e com o Sebrae para qualificar a gestão dos comércios de bairro e capacitar melhor as micro e pequenas, como APLs (Arranjo Produtivo Local) de plástico e metal-mecânico. Uma das possibilidades é a substituição de importações, além de investir em tecnologia e qualidade com recursos disponíveis da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Quanto à oferta de crédito, Bresciani foi categórico: "está fora de nossa alçada". Ele mencionou a oferta de microcrédito a partir do Banco do Povo, mas disse que o empréstimo se encaixa mais a pequenos negócios informais. Ao ser questionado sobre a possibilidade de reduzir tarifas ou postergar o pagamento de tributos às empresas, o secretário alegou que Diadema já possui duas leis - de 2004 e 2008 - que favorecem a facilidade no pagamento do IPTU em função dos investimentos, geração de emprego e renda.

Segundo o secretário, Diadema já sente os efeitos da diminuição de atividade, e isso gera uma queda na arrecadação da receita de alguns impostos. "Nós temos de aguardar sinais mais consistentes do mercado. Precisamos de indicadores melhores, por exemplo, de uma tendência da atividade industrial para os próximos dois meses, para que possamos discutir medidas em relação à carga tributária."

SÃO CAETANO
O secretário de Desenvolvimento Econômico e Relações do Trabalho, Celso Amâncio, destacou duas providências. Segundo Amâncio, "estão sendo estudadas maneiras de baixar os impostos para atrair empresas e, dessa maneira, ampliar o emprego, além de incentivar as já existentes a permanecer na cidade".

Outra atitude é a utilização do microcrédito para a micro e pequena empresa que encontrar dificuldade em obter financiamento junto aos bancos. "Basta me procurar que analisaremos o caso", afirmou.

Para Amâncio, 2008 foi um ano irreal, pois no País o crédito foi liberado muito mais do que as pessoas podiam assumir. Muitos compraram carro no limite da prestação. "Eu diria até que a crise veio em boa hora, para frear esse comportamento", e completa: "Por isso, no próximo dia 18, haverá um evento da secretaria para reunir comércio, serviços e empresas em geral, Sebrae, Senac e associação comercial na tentativa de auxiliar na gestão do negócio dos micro e pequenos empresários. Essa sinergia entre os empresários é muito produtiva."

SANTO ANDRÉ
O secretário de Desenvolvimento e Ação Regional de Santo André, Vanderlei Retondo, destacou que, para tentar conter os efeitos da turbulência, a Prefeitura atuará em duas frentes: o reforço nas ações de apoio às empresas - ele planeja o fortalecimento do SAX (Serviço de Apoio à Exportação) - e parcerias com empresas para programas de qualificação profissional de trabalhadores desempregados.

Retondo afirmou ainda que a intenção não é agir isoladamente, mas buscar uma articulação com as outras prefeituras da região. "Sabendo do que as empresas precisam, será possível saber se podemos ajudar, de acordo com a demanda de cada uma delas".

Em relação a criar oportunidades para a colocação de pessoal no mercado de trabalho, o secretário de Santo André avalia que o Centro Público de Trabalho e Renda (que é municipal) é suficiente para essa tarefa. O órgão faz cadastro de pessoas em busca de vagas e auxilia na recolocação de profissionais nas empresas.

A partir deste mês, serão convocadas três mil pessoas, entre desempregados, trabalhadores sem qualificação e profissionais informais para se reciclarem. A capacitação será oferecida para área da construção civil, como pedreiro, eletricista e marceneiro. "A saída para a crise é a criatividade. As empresas e os profissionais têm de ser criativos."

MAUÁ
Em nota, a Prefeitura de Mauá diz que no entendimento do prefeito Oswaldo Dias e sua equipe a prioridade é organizar o caos herdado. Segundo o comunicado, "O plano de governo terá de ser revisto. Quando se fez o plano, o entendimento era de que receberíamos a cidade não com dinheiro em caixa, mas sem restos a pagar, da forma que a lei estabelece. No entanto, recebemos com mais de 50% de déficit, algo próximo de R$ 200 milhões a pagar".

Ainda em nota, a prefeitura diz que "do ponto de vista estratégico para o desenvolvimento da cidade, é fundamental o tripé: infraestrutura, educação (qualificação profissional) e atração de investimentos. Compreendemos que existe na infraestrutura a possibilidade de trabalhar junto ao governo do Estado na geração de emprego e renda. E há clareza de que Mauá precisa trabalhar junto ao empresariado questões que evidenciem a vantagem de investir na cidade".

RIBEIRÃO PIRES
Na nota enviada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Ribeirão Pires, Marcelo Menato, no início de dezembro de 2008 foi formada a 1ª turma do PEQ (Programa Estadual de Qualificação Profissional). "Trata-se de um programa da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Ribeirão Pires e o Centro Paula Souza, que capacitou 70 pessoas que encontravam-se fora do mercado de trabalho. Muitos conseguiram vaga no comércio no próprio mês de dezembro."

Em relação às ações futuras, Menato afirmou que a secretaria está em negociação com o Governo do Estado de São Paulo para trazer o PAT (Posto de Atendimento ao Trabalhador) e o Banco do Povo para o município no primeiro semestre deste ano. "Desta forma teremos um suporte adequado ao cidadão, mais cursos de qualificação, otimização dos serviços prestados aos trabalhadores e recursos financeiros a um custo mais acessível para os empreendedores. Com esta parceria poderemos também ampliar o processo de formalidade de trabalhadores informais."

O secretário citou também a fase final da construção do novo terminal rodoviário, que disponibilizará cerca de 16 quiosques comerciais para futuros empreendedores. Lembrou ainda da lei de incentivos fiscais, "que viabiliza aos empresários, através de suas normas, a instalação de novas empresas no município". (Colaborou Leone Farias)




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;