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Destinos abençoados por Maria

França, Portugal, Bósnia e México têm rotinas transformadas por relatos de aparições da Virgem

Por Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
09/10/2008 | 07:04
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França, Portugal, Bósnia-Herzegóvina, México. Aparentemente, estes países não têm muito em comum não fosse o privilégio de abrigarem cidades que tiveram suas rotinas transformadas por relatos de aparições da Virgem Maria. Em todos eles, Nossa Senhora apresentava-se como uma imagem radiosa e de indescritível beleza, interessada em incitar o povo à prece e, vez ou outra, revelar segredos mantidos a sete chaves.

Uma dessas visões data de exatos 150 anos atrás. Em 11 de fevereiro de 1858, uma jovem chamada Bernardette Soubirous, então com 14 anos, avistou uma luminosa senhora de branco dentro de uma gruta no povoado de Lourdes, na França, quando ia buscar lenha na beira do rio. Era a primeira das 18 aparições que prosseguiriam até julho do mesmo ano e que mudariam o destino não só da vila como da própria garota, posteriormente canonizada pelo papa Pio 10º.

A princípio, a imagem não revelou sua identidade. Pediu apenas que Bernardette retornasse 15 vezes à caverna. No decorrer das visitas, no entanto, identificou-se como Nossa Senhora, solicitou que construíssem uma capela no local e garantiu que Bernardette seria muito feliz, no outro mundo.

Na nona aparição, mandou a jovem escavar a terra dentro da gruta. No meio da lama, começou a jorrar um jato de águas puras, que até hoje atraem milhares de pessoas em busca de curas milagrosas. A Igreja reconhece 67 delas. São casos de esclerose múltipla, paralisia, cegueira. Mas há milhares de outros relatos ainda em estudo por médicos e religiosos do mundo inteiro.

Hoje, Lourdes ostenta o título de centro espiritual mais visitado da França. Atrai 6 milhões de pessoas por ano, vindas de 130 países, e celebra 70 missas diárias. A basílica subterrânea de Pio 10º comporta 30 mil fiéis. Mas os pontos mais procurados são a Gruta das Aparições, o moinho, o calabouço e a igreja paroquial.

Para celebrar os 150 anos da aparição, o papa Bento 16 rezou uma série de missas no santuário entre os últimos dias 12 e 15. Em sua homilia, exaltou o lado espiritual da peregrinação. "Nós não vamos a Lourdes em busca de milagres. A cura verdadeira é o amor da mãe de Cristo." Mesmo assim, ungiu com óleo consagrado alguns enfermos em macas e cadeiras de rodas.
Como nem todo mundo é santo, a visita do pontífice também foi marcada por um episódio desagradável: uma bandeja de prata dourada usada na missa sumiu pouco depois da eucaristia.

NEVERS
Na Borgonha, Bernardette Soubirous viveu como freira da Congregação das Irmãs da Caridade de Nevers e morreu aos 35 anos. Foram 13 anos de oração, coroados por um mistério que até hoje instiga a curiosidade dos 500 mil peregrinos que visitam a cidade todos os anos. Morta em 1879, Bernardette foi enterrada em um jardim do convento. Trinta anos depois, constatou-se que seu corpo permanecia intacto. Desde então, ele está exposto em uma urna de vidro na capela de Saint-Gildard, sem sinais de deterioração, desafiando o tempo e as leis da natureza. Mais um milagre de Lourdes.

Segredos de Fátima

Na próxima segunda-feira, uma multidão de devotos de Nossa Senhora deverá lotar o santuário de Fátima, a 120 quilômetros de Lisboa, em Portugal, para celebrar a data da última aparição da Virgem em solo português. Foi ali, onde hoje está erguida a Capela das Aparições, que Maria deu o ar da graça pela primeira vez, em 13 de maio de 1917, a Lúcia de Jesus dos Santos, então com 10 anos, e a seus primos mais novos - Francisco, 9, e Jacinta Marto, 7 -, que faleceram de pneumonia poucos anos depois e foram beatificados pelo papa em 2000.

Contam os relatos que uma figura muito brilhante, com um terço branco nas mãos, pediu às crianças que rezassem muito e convidou-as a retornar à Cova de Iria nos cinco meses seguintes, sempre no dia 13. Na última aparição, em 13 de outubro, cerca de 70 mil pessoas acompanharam os três pastorinhos até o local, onde a santa solicitou que fosse erguida uma capela em seu nome, e presenciaram o fenômeno que ficou conhecido como o ‘milagre do sol': o astro girou sobre si mesmo, como uma roda de fogo, mudou de cores várias vezes e pareceu lançar-se sobre a Terra antes de voltar à posição original.

Em meio à multidão, somente Lúcia - que mais tarde se tornou freira e morreu em fevereiro de 2005, aos 97 anos - ouviu os três segredos de Fátima, que anunciavam o fim da Primeira Guerra Mundial, o curso da Segunda e um suposto atentado contra a vida de um papa, mantido em segredo durante décadas e revelado apenas recentemente como sendo o tiro que atingiu João Paulo II em 13 de maio de 1981.

Na ocasião da morte de irmã Lúcia, o pontífice afirmou que se sentia muito próximo da freira e que estava convencido de que a Virgem de Fátima o havia salvo do atentado. Durante seu pontificado, João Paulo II viajou três vezes a Fátima e doou ao santuário uma das balas que o atingiram.

Hoje, o santuário de Fátima é um dos roteiros religiosos mais respeitados do mundo. No ano passado, por ocasião dos 90 anos das aparições, recebeu 5,5 milhões de fiéis, o que lhe confere um certo ar pop, com uma infinidade de lojinhas de estátuas, velas, terços, medalhas e outros suvenires que seus parentes católicos pedirão antes do embarque.

A antiga basílica neobarroca, com capacidade para 600 pessoas, ostenta uma torre de 65 metros e uma esplanada duas vezes maior que a de São Pedro, em Roma, onde os devotos de Fátima fazem uma procissão todas as noites à luz de velas. Para comportar o crescente número de visitantes, uma nova basílica, para 9.000 fiéis, foi inaugurada no ano passado.

A cerca de um quilômetro do santuário, vale visitar as casas de Lúcia e da família Marto em Aljustrel e percorrer a trilha agreste - meio à la Jerusalém - que pontua os locais das demais aparições.

Medjugorje: a mais recente

Embora pouco divulgada, a aparição mais recente, e também mais longa, é a de Nossa Senhora de Medjugorje, na Bósnia-Herzegóvina. A primeira vez que a Virgem surgiu flutuando sobre os montes da ex-Iugoslávia foi em 24 de junho de 1981. Jovens viram uma moça bonita, com um bebê nos braços, na colina de Podbrdo, às 18h.

A partir de então, Nossa Senhora passou a aparecer para seis crianças. Três delas - já adultos - garantem ouvir suas mensagens de paz até hoje. Mas deverão perder o contato assim que a entidade lhes revelar o décimo segredo sobre acontecimentos que sobrevirão à humanidade. Cada profecia será divulgada três dias antes de ocorrer.

Enquanto isso não acontece, a vila assiste a fenômenos que operam milagres na fé de seus visitantes e coleciona centenas de relatos de curas inexplicáveis. Um dos mais comentados foi a visão coletiva de chamas e da palavra mir (que significa paz), em letras douradas, no céu do povoado, documentada em vídeo.

Mesmo assim, o governo comunista tentou abafar as visões: prendeu as crianças e proibiu que qualquer pessoa subisse a montanha. O padre local, Jozo Zovko, foi preso por proteger os videntes. Mas não adiantou: a Virgem passou a aparecer onde as crianças estivessem. Os psicólogos, médicos e pedagogos escalados para tutorar os menores acabavam convertidos e a fama do vilarejo crescia.

Ainda mais depois que duas bombas lançadas por Belgrado sobre Medjugorje durante a guerra civil de 1991 simplesmente não explodiram. Uma prova de que, mesmo sem apoio de mídia, governo ou Igreja, as pessoas continuam à procura de Maria.

Guadalupe, o símbolo da fé mexicana
Um dos relatos mais antigos da aparição de Nossa Senhora remete ao México. Trata-se da Virgem de Guadalupe, vista por um índio em 9 de dezembro de 1531 e considerada até hoje como o maior símbolo da fé católica em território mexicano. Seja no Norte, Sul ou na região central do país, você sempre encontrará um templo dedicado à santa, idolatrada por dez entre dez hispânicos.

No extremo Norte, por exemplo, a Catedral de Nossa Senhora de Guadalupe é ponto de parada obrigatório para quem visita o município de Tijuana. Em Zacatecas, no Centro do país, tem o Convento de Guadalupe. E no Sudeste, a cidade histórica de Campeche, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em 1999, abriga um templo secular dedicado à Virgem. Isso só para citar alguns monumentos.

A construção mais famosa do país, no entanto, é a basílica da Cidade do México, erguida no mesmo local onde a mãe de Jesus teria aparecido para o índio Juan Diego, no morro do Tepeyac.

Reza a história que a imagem teria pedido ao indígena que relatasse o acontecido ao bispo da Cidade do México, então capital do império asteca, e que fosse erguido um templo em seu nome no local.

Diante da exigência de provas por parte do pároco, Maria fez crescer flores no morro semidesértico e sugeriu que Juan as entregasse ao bispo. Poucos dias depois, no dia 12 de dezembro, o visionário as colocou em uma manta e as levou ao religioso, que caiu de joelhos quando retirou todas as flores do saco improvisado com as próprias roupas do índio: no pano rústico, aparecia impressa a imagem da Virgem Maria.

Não demorou muito para que uma igreja fosse erguida no topo do morro. Depois foi construído um segundo templo, maior e mais luxuoso, que também teve a estrutura abalada pelo passar dos anos, até construir-se a basílica atual, que guarda a tela com o manto original.

Considerada um dos santuários católicos mais visitados do mundo, a Vila de Guadalupe recebe atualmente cerca de 20 milhões de devotos por ano e pelo menos 500 peregrinos vindos das mais variadas partes do país e até além de suas fronteiras. Só no dia 12 de dezembro, 3 milhões de fiéis visitam o templo para orar, pedir milagres ou agradecer alguma graça atendida. Sem contar os inúmeros vendedores de estatuetas e os dançarinos que se concentram diante da basílica para oferecer performances em honra da ‘Patrona del Tepeyac'.

Consagrada em 1976, a Basílica de Guadalupe comporta 10 mil pessoas. Mas quem fica de fora em meio à multidão de devotos também pode conferir outros monumentos de destaque na vila, como o antigo santuário, construído em 1709 e que hoje é um museu de arte virreinal; a capela do Pocito, em estilo barroco; e o cemitério de Tepeyac, que também possui um museu.

ESCRITO NAS ESTRELAS
Para as culturas pré-hispânicas, o dia 12 de dezembro marca o solstício de inverno, quando a Terra atinge o ponto máximo de distância do Sol. Na simbologia indígena, é o dia em que o Sol triunfa sobre as trevas e passa a se aproximar, novamente vitorioso.

As estrelas mais brilhantes que aparecem desenhadas no manto que cobre a Virgem de Guadalupe apresentam a mesma posição das principais constelações visíveis a partir do Vale do México nessa mesma data.

Brasil louva Aparecida

No Brasil, o maior santuário do mundo dedicado a Nossa Senhora da Conceição - conhecida aqui como Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do País - deverá atrair cerca de 200 mil fiéis à cidade paulista de Aparecida, no próximo domingo, por conta do feriado nacional em homenagem à santa.

Mas o movimento é contínuo o ano todo. Principalmente aos fins de semana, quando pode-se visitar a basílica nova, com capacidade para 45 mil pessoas, o museu sacro, o mirante e a sala das promessas. Uma passarela liga o templo à basílica velha, erguida entre 1846 e 1888.

No último dia 3, a cidade iniciou as novenas, que se estenderão até este sábado com missas à tarde e à noite. Já no domingo, a programação em homenagem ao Dia de Nossa Senhora contará com alvorada festiva, missas, consagração solene, procissão, show musical e queima de fogos de artifício.

Diferentemente de outros santuários, a história da Virgem brasileira não inclui relatos de visões, mas o misterioso aparecimento de uma estátua nas águas do Rio Paraíba do Sul em 1717.

Tudo começou quando chegou a notícia de que o Conde de Assumar, D.Pedro de Almeida e Portugal, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar por Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje Ouro Preto (MG). Convocados pela Câmara, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram à procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram.

Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu. João Alves lançou a rede nas águas e apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Lançou novamente a rede e apanhou a cabeça que faltava à estátua. Daí em diante os peixes chegaram em abundância para os três humildes pescadores.




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