Esta quarta-feira, pela primeira vez na atormentada história entre os dois vizinhos, dois altos funcionários cubanos foram recebidos no Senado dos EUA, enquanto que há alguns dias o presidente da Câmara de Comércio norte-americana, Thomas Donohue, que representa o grupo de pressao mais poderoso do mundo, com três milhoes de empresas, realizou uma visita oficial sem precedentes à ilha.

Aos EUA viajaram Maria de la Luz B'Hamel, diretora do Departamento Comercial para a América do Norte do ministério cubano do Comércio Exterior, e Igor Montero Brito, vice-presidente do Alimport, um órgao estatal cubano que supervisiona as importaçoes e exportaçoes de produtos agrícolas. Sua visita "responde ao convite de grupos norte-americanos interessados em desenvolver as comunicaçoes com instituiçoes comerciais cubanas", precisou esta quinta-feira o porta-voz do ministério das Relaçoes Exteriores de Cuba, Alejandro González. Segundo ele, isso "demonstra o interesse deste setor como de outros setores dos Estados Unidos, para que se produza uma mudança na política desse país em relaçao a Cuba, que lhe permita participar das oportunidades de negócios e de uma relaçao comercial normal como a que Cuba oferece e mantém com outros países".

A visita foi fortemente criticada pelos meios anticastristas norte-americanos e principalmente pelos representantes republicanos do Estado da Flórida.

Refletindo por sua vez a posiçao majoritária dos meios financeiros norte-americanos, preocupados com o movimento da concorrência em direçao ao mercado cubano, a apenas algumas centenas de quilômetros, o presidente da Câmara de Comércio norte-americana manifestou em Havana sua oposiçao ao embargo, e afirmou estar "oposto a todas as sançoes bilaterais, porque nao funcionam".

Donohue, que aproveitou sua visita para fazer o inventário do incipiente setor privado cubano, visitando um restaurante privado e um mercado de camponeses, advertiu porém que uma reaproximaçao comercial entre os dois países levaria tempo e é mais "uma maratona que uma corrida curta e de alta velocidade".

Com o incentivo do presidente Bill Clinton, o governo norte-americano adotou, por sua vez, uma série de medidas para aliviar as sançoes, sobretudo nos "intercâmbios de pessoa para pessoa", como as linhas aéreas diretas, o envio de comida, de medicamentos e de dinheiro.

Desde o início de julho, a companhia norte-americana Western Union pode novamente, com a autorizaçao expressa do Departamento do Tesouro, efetuar transferências de dinheiro para Cuba, pela primeira vez desde os anos 60. Pela sétima vez, o presidente Clinton renovou recentemente, por seis meses, mais uma moratória sobre uma das disposiçoes da lei Helms Burton, adotada em 1996, que endureceu o embargo contra Cuba. A aplicaçao desta disposiçao permitiria abrir açoes judiciais nos Estados Unidos contra empresas que realizam negócios com bens norte-americanos, confiscados em Cuba após a Revoluçao de 1959.

Apesar de tudo, dez anos depois da queda do Muro de Berlim, as campanhas de propaganda ideológica dos dois países estao longe do fim. O governo cubano apresentou uma demanda contra os EUA, junto ao Tribunal Provincial de Havana, exigindo 181.000 milhoes de dólares por perdas e danos. Segundo a açao, esta soma serviria para compensar Cuba pela morte de 3.476 pessoas e pelos danos a outras 2.099, vítimas da "política agressiva dos Estados Unidos" contra a ilha, por 40 anos.