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Brasil defende criaçao de moeda comum para o Mercosul
Do Diário do Grande ABC
30/10/1999 | 12:57
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Se depender do Brasil, a moeda comum do Mercosul estará na pauta das discussoes sobre as alternativas para revitalizar a integraçao com os sócios Argentina, Paraguai e Uruguai. Mas a prioridade para o governo brasileiro continua sendo o equilíbrio macroeconômico baseado no ajuste fiscal em todo o bloco. Portanto, o projeto de moeda única fica para um futuro ainda distante. 'O maior problema hoje é manter a estabilizaçao, o que só depende do aspecto fiscal``, comentou Marcos Caramuru, titular da Secretaria de Assuntos Internacionais (Sain) do Ministério da Fazenda.

Caramuru é o representante do Brasil no grupo de coordenaçao macroeconômica do Mercosul lançado este ano pelos presidentes dos quatro países com o objetivo de trabalhar na harmonizaçao de políticas fiscais. É o primeiro passo concreto para chegar ao que o presidente Fernando Henrique Cardoso chamou de 'pequeno Maastricht`` do Mercosul, uma referência ao tratado de 1991 que lançou as bases para a criaçao da moeda única européia, o euro. A idéia do presidente brasileiro e do argentino Carlos Menem, anunciada em abril, durante uma reuniao em Sao José dos Campos (SP), é chegar à unificaçao das políticas macroeconômicas que permita, a longo prazo, instituir uma moeda comum do Mercosul.

O grupo, composto por especialistas dos ministérios de economia e finanças e bancos centrais dos quatro países, tem mantido contatos informais e está desde agosto analisando e consolidando dados relativos às contas públicas. 'Estamos harmonizando os dados monetários, fiscais, da balança de pagamentos e fazendo um cenário prospectivo dos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI)``, disse o secretário. O Paraguai é o único dos quatro que nunca fez acordo com o Fundo.

Por causa da troca de governo na Argentina, o grupo suspendeu suas atividades e está aguardando a nomeaçao dos novos representantes para continuar seu trabalho. Mas deve apresentar um relatório preliminar na reuniao ministerial do Grupo Mercado Comum marcada para a semana que vem em Montevidéu, Uruguai. Para Caramuru, a manutençao do câmbio fixo na Argentina em oposiçao ao câmbio flutuante no Brasil, fato que provocou um enorme desequilíbrio comercial na regiao, nao é o dado determinante para ampliar a integraçao e chegar a uma harmonizaçao macroeconômica.

Para comprovar a tese, ele mostra o comportamento do fluxo de comércio entre o Brasil e a Argentina entre janeiro e setembro deste ano. Ao mesmo tempo em que as exportaçoes caíram 27,02%, as importaçoes caíram 29,63%, segundo dados da Sain. A queda brusca nos dois sentidos do comércio é explicada pela recessao e nao exatamente pelo câmbio: 'Se fosse pelo câmbio, o normal seria que as exportaçoes tivessem sofrido menos e as importaçoes sofrido mais. Isso significa que o peso maior foi da recessao``.

Com o reaquecimento esperado para a economia brasileira no ano que vem, a expectativa é de que haja novos atritos como os que abalaram as bases do Mercosul este ano, com os argentinos exercendo enorme pressao protecionista e levantando barreiras a diversos produtos exportados pelo Brasil, e vice-versa. Caramuru encara esse movimento como natural já que os problemas estruturais e localizados em alguns setores menos competitivos de ambos os lados (calçados, papel e celulose e têxteis do lado argentino; leite, arroz e trigo do lado brasileiro) nao estao equacionados.

'Essas questoes localizadas foram tratadas por setores privados, o que tem dois aspectos: um positivo, que é a soluçao dos problemas, e um negativo, que é a continuidade do comércio administrado``. Um dos trabalhos do grupo de coordenaçao também será 'estabelecer a diferença entre as deficiências setoriais e macroeconômicas``. A fórmula para resolver estas deficiências, diz o secretário, simplesmente nao existe por enquanto. Por isso os resultados do trabalho de harmonizaçao devem levar muito tempo.




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