Vergonha e dor. Esses são os sentimentos que a dona de casa Karen Santos de Jesus, 19 anos, sente ao relembrar pelo que passou na parto de cesárea de sua filha no dia 6 de maio no Hospital Nardini, em Mauá. Moradora do Jardim Sílvia, ela acusa o local de ter "esquecido" dentro dela, durante o procedimento cirúrgico, grande pedaço de gaze usado para estancar o sangramento. E contratou advogado para processar a Prefeitura e pedir providências no CRM (Conselho Regional de Medicina).

No dia 2, Karen tirou com as próprias mãos o tecido de dentro de si. Após cinco meses, descobriu o motivo dos seus problemas. Reclama que na única consulta pela qual passou desde o parto, dois meses depois após a cirurgia, na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) São João, apesar de reclamar do mau cheiro e das dores, sequer foi examinada. "O médico disse que eram coisas normais", disse.

O mau cheiro se agravou após o período. O vazamento de fluídos também. A dona de casa começou a usar fraldas para evitar constrangimentos. "Eu evitava falar no assunto, mas não tinha jeito. O cheiro era tão forte que eu levantava da cama. Penso no que os outros sentiam e não diziam por vergonha", disse o seu marido, o porteiro Celso José de França, 32.

No último dia 11, Karen foi ao Nardini relatar que havia eliminado a gaze. Reclama de negligência. A assessoria do hospital rebate e diz que nos exames ginecológicos e laboratoriais, nada foi constatado. E que em procedimentos de cesariana não se justifica a presença de qualquer material na região vaginal.

"Deveria ter ido direto à delegacia, não tirado com a mão. Claro que eles não vão assumir o erro. Eles podiam ter me examinado inteira, mas não fizeram", completou. A dona de casa diz que as dores se intensificaram após puxar a gaze. Especialistas ouvidos pelo Diário enfatizaram que o caso é possível. E que fora do comum seria a mãe sentir dor após cinco meses do parto devido aos analgésicos que lhe são aplicados na anestesia. A presença de algo estranho no útero justificaria os vazamentos que ela teve e que pararam após o tecido sair.

"Foram cinco meses achando que eu tinha alguma infecção. Não podia sair de casa. É muito chato você ver que as pessoas te olham, apontam, acham que você não tem higiene", disse.

Apesar de não ter aberto sindicância, a direção do hospital se colocou à disposição para a realização de outros exames. A família registrou o caso no 1º DP (Centro) local. A investigação preliminar ainda não foi concluída para a abertura do inquérito. O CRM também aguarda a comunicação para apurar se houve erro médico.