Política Titulo Saída
Moro deixa governo Bolsonaro

Ex-ministro tomou decisão após presidente demitir seu braço-direito do comando da PF, Maurício Valeixo

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
24/04/2020 | 10:15
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Fotos Públicas


Sergio Moro acaba de anunciar sua saída do governo Bolsonaro. O agora ex-ministro da Justiça tomou a decisão após o presidente demitir seu braço-direito do comando da Polícia Federal, Maurício Valeixo. A exoneração foi publicada hoje no Diário Oficial da União. A publicação diz que ele ''''saiu a pedido'''', o que não foi o caso.

"A partir do segundo semestre do ano passado passou a ter uma insistência do presidente da troca do comando da Polícia Federal. Primeiro do superintendente do Rio de Janeiro, sem motivo da substituição, mas ele queria sair do cargo por questões pessoais. Neste cenário, acabamos concordando em promover a troca por substituição técnica. (...) O presidente, no entanto, passou a insistir na troca do diretor-geral e eu disse que precisava de uma causa, relacionada a uma insuficiência de desempenho, erro grave. O que vi, durante todo esse período, foi um trabalho bem-feito. O grande problema de realizar a troca havia violação de uma promessa de que eu teria carta-branca, não haveria causa para substituição e ficava claro a interferência política na PF, o que gera abalo na confiabilidade. Ia gerar uma desorganização. Busquei postergar essa decisão, mas sempre me veio a sinalização de que seria grande equivoco. Ontem conversei com o presidente e houve uma insistência. Disse a ele que seria uma intervenção política e ele disse que seria mesmo."

Moro afirmou, então, que fez outras sinalizações de substituição e não obteve resposta. "O grande problema é que não são tanta questão de quem colocar. O problema é por que trocar? O presidente me disse mais de uma vez expressamente que queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que pudesse ligar, colher informações, relatórios de inteligência, e realmente não é o papel da Polícia Federal passar essas informações. Depois de tantas pressões para que ele saísse, demonstrou de fato a intenção de não atrapalhar, mas nunca isso voluntariamente. Eu sinto que tenho o dever de tentar defender a instituição e por todos esses motivos, busquei alternativa para evitar uma crise política durante a pandemia, mas entendi que eu não podia deixar de lado o meu compromisso com estado de direito. A exoneração foi publicada, mas não assinei esse decreto. Em nenhum momento o diretor apresentou pedido formal de exoneração. Fui surpreendido, isso foi ofensivo. Para mim esse último ato é uma sinalização de que o presidente me quer fora do cargo." Lembrou que teve divergências e convergências com Bolsonaro. "De todo modo, o meu entendimento foi que não tinha como aceitar essa substituição. Não me senti confortável (em ficar). Tenho de preservar minha biografia."

O ex-juíz da Lava-Jato disse que sempre teve medo da interferência do governo federal no andamento da operação e, por isso, nomeou Valeixo para comando da Polícia Federal. "Sempre foi fundam ental a autonomia da PF para alcançar os resultados. (...) No final de 2018 fui convidado a ser Ministro da Justiça e segurança pública pelo presidente e o que foi combinado foi que teríamos compromisso com combate à corrupção, crime organizado e comunidade violenta. Carta branca para nomear todos os assessores, inclusive desses órgãos, como a Polícia Federal. O presidente concordou com os compromissos, falou publicamente que me daria carta-branca e aceitei o convite pensando que as coisas evoluíssem, convite aceito pela sociedade." O que, ao fim, não aconteceu. 

Os rumores da saída de Moro começaram ontem, quando Bolsonaro o chamou para uma reunião pela manhã. Moro teria sido contrário à demissão e disse que saíria do governo caso fosse efetivada. O presidente pediu ajuda de ministros militares para contornar a situação. Com a confirmação da saída de Valeixo, hoje, Moro convocou pronunciamento para as 11 na sede da Pasta, onde confirmou sua saída. 




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