Economia Titulo Novos tempos
Adesão ao home office pode crescer 25% após Covid-19

Modalidade traz benefícios a funcionário e empregador, porém, requer cuidado com direitos

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
19/04/2020 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Com o aumento da adesão do home office em razão da quarentena imposta pelo novo coronavírus, a modalidade deverá se tornar tendência em todo o País. A estimativa é que o número de pessoas trabalhando de casa cresça até 25% a médio prazo – conforme levantamento mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2018, 3,8 milhões de brasileiros operam na modalidade. A projeção foi divulgada na última semana pelo Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano).

“A questão digital é muito importante e vem se consolidando desde a década de 1970, com crescimento exponencial a partir dos anos 1990, com o advento do e-mail. Atualmente, temos processos produtivos muito influenciados por essas questões”, afirmou Jefferson José da Conceição, coordenador do Conjuscs. “A crise causada pela Covid-19 fez diversos setores aderirem ao home office, e a modalidade deve crescer porque as empresas que antes não adotavam (o teletrabalho) agora aprenderam na prática como fazer.”

Além de a quarentena ter viabilizado que as companhias “experimentassem” a modalidade, o pesquisador avalia que este período pode mudar a forma como o trabalho é visto. “(O home office) Dá autonomia e flexibilidade aos empregados, mostra que, independentemente de onde estiver, o mais importante é estar conectado na rede de trabalho, e também otimiza o tempo daquela pessoa que fica, que às vezes perde três, quatro horas diárias no deslocamento.”

Para as empresas, a vantagem pode ser ganho da produtividade e a economia no pagamento de benefícios, como o vale-transporte. “Mas o que não pode ser deixado de lado é o relacionamento entre os colaboradores, a questão social. Reuniões virtuais podem ser organizadas, porém, é preciso ter todo um cuidado com este aspecto”, ponderou Conceição.

O teletrabalho é comumente associado ao setor de serviços. E, mesmo a região sendo industrial, a tendência de crescimento do home office é a mesma. “A indústria tem relação intensa com toda cadeia, inclusive com a área de serviços, que tem crescido nos últimos anos”, assinalou o pesquisador. Para se ter ideia, em 1989, o setor de serviços empregava 120,6 mil pessoas, número que saltou para 319,5 mil (62,2%) em 2017. No mesmo período, a quantidade de funcionários na indústria foi de 360 mil para 182,2 mil (-50,6%).

RELAÇÕES TRABALHISTAS
A advogada trabalhista e pesquisadora do Conjuscs Maria da Consolação Vegi alerta que o home office pode precarizar as relações trabalhistas, uma vez que a fiscalização para avaliar as condições de trabalho ficam inviáveis. “Principalmente com a crise atual, as pessoas estão com medo de perderem seus empregos e podem se sujeitar a condições abusivas”, explicou.

A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) não diz respeito ao controle de jornada no trabalho remoto. Todavia, a Justiça recomenda que as marcações sejam feitas sempre que possível. Com a reforma trabalhista, em 2017, ficou determinado que o empregador deve arcar com custos de compra e manutenção ou fornecimento de infraestrutura para desempenho da função, a exemplo de notebook e plano de internet. A advogada defende que a empresa ofereça outros equipamentos, como mesa e cadeira, para melhorar a ergonomia e evitar o desenvolvimento de doenças ocupacionais.

Funcionários dizem sentir a falta de convívio social com o trabalho em casa
Entre os trabalhadores, a falta da convivência com colegas é o principal fator negativo do home office. “Antes, eu passava meio período no computador e depois, costumava ir em algumas empresas. Mas agora estou estranhando passar o dia todo fechada em casa e tenho que me policiar muito para não me distrair com a televisão ou com as atividades domésticas”, contou a assistente financeira Tânia Pires Gomes da Silva, 52 anos, de Santo André.

A analista de qualidade de São Bernardo Paula Rodrigues, 28, investiu na organização para manter o rendimento. “Fiz um escritório em casa para poder me concentrar e ter uma postura melhor para trabalhar”, afirmou. Embora defenda que a modalidade ofereça mais concentração, o trabalho remoto tem desvantagens, como a falta de estar presencialmente para obter informações de outros setores e o controle para não ultrapassar a carga horária.

Apesar de também sentir falta de se relacionar com os colegas, o engenheiro de processos Ricardo Mora, 46, de São Caetano, está aprovando a experiência. As principais vantagens para ele são o tempo economizado no trajeto e a possibilidade de dar uma pausa e poder olhar pela janela.

Escola descobre opções com isolamento
Exemplo de empresa que conheceu o home office e acabou descobrindo novas opções para os negócios é a Enjoy, escola de idiomas com sede administrativa em São Caetano. Desde o início da quarentena, tanto a equipe administrativa quanto das escolas estão trabalhando remotamente.

Antes, recursos on-line eram utilizados como complemento das atividades presenciais. Após a experiência de ministrar aulas virtuais, a rede pretende apostar em aulas 100% virtuais. Outro plano é possibilitar que as entrevistas para matrícula também sejam on-line.

Já visando economizar no pagamento de vale-transporte e otimizar a rotina dos colaboradores, algumas áreas, como marketing e em cargos de liderança, irão trabalhar remotamente. O fundador Denis Sá, inclusive, planeja realizar as próprias funções em home office. “Se encontrarmos um caminho, quero continuar assim, vendendo as franquias e dando palestras de casa, sem precisar ficar viajando pelo País.”

Para manter o relacionamento e ajudar os funcionários a manterem a rotina, eles participam de reuniões on-line diariamente, às 8h. 




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