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'Conflito nos Bálcas pode se arrastar para outros países'
Do Diário do Grande ABC
24/04/1999 | 14:22
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O conflito nos balcas está a um passo de se generalizar para os países vizinhos a Iugoslávia. A previsao é do professor de linguística aplicada da Universidade de Sao Paulo (USP) e estudioso dos problemas da regiao, Alexander Janovic.

"O Exército Libertaçao de Kosovo (ELK) reivindica também a Macedônia Ocidental, que tem um terço de albaneses étnicos em sua populaçao, além do sul da Sérvia, metade de Montenegro e parte da Grécia (ao norte). Falta um espirro para a ELK operar também na Macedônia e também na Grécia. E se a Grécia entrar, contra os albaneses para defender seu território, a Turquia poderá apoiar os albaneses, como sempre fizeram desde o século 15. Aí quebram-se duas pernas da Otan na regiao (Grécia e Turquia fazem parte da organizaçao militar) e perde-se o controle da situaçao", avisa Janovic. "Talvez seja tarde demais para parar essa loucura toda".

Para o professor da USP, na raiz do conflito Otan-Iugoslávia, existem diversas - e complexas - ramificaçoes que sao pouco exploradas pela imprensa internacional. "Parte da mídia está servindo de relaçoes públicas da Otan", diz, recomendando a cobertura feita pelas redes de TV italiana (RAI) e francesa. Bem diferente do enfoque dado por agências como a CNN.

" Uma dessas ramificaçoes, diz Janovic, é a experimentaçao de novas tecnologias militares, também usadas no Golfo Pérsico durante a guerra contra o Iraque. Essa guerra só alimenta a indústria armamentista, que impulsiona algumas economias e destrói outras. A Otan está usando bombas que sao fabricadas com lixo nuclear usado em usinas e em combustível a base de urânio enriquecido. Os bombardeiros Warthogs, ou A10, estao lançando essas bombas todos os dias. Além de torrar os alvos que atingem - o urânio enriquecido é duas vezes mais denso que o chumbo - causam a Síndrome do Golfo, uma doença que atingiu mais de 100 mil pessoas no Golfo Pérsico".

Outra questao é controle das rotas de petróleo que saem da bacia do Mar Cáspio, na Asia Central. "Eles estao dando um aviso para mostrar que nao querem confusao nessa regiao. O problema é que estao fazendo da forma errada. Aquilo lá é uma regiao cheia de fendas, e de potências atômicas. É um risco muito alto levar uma guerra, como essa da Iugoslávia, para aquela regiao. A Otan está conseguindo colocar inimigos históricos, como a India e China uma no colo da outra, numa aliança militar que poderá ter conseqüências desastrosas".

Janovic desconfia também do tratamento de ajuda humanitária dado pelos Estados Unidos e demais integrantes da Otan à operaçao realizada nos Balcas. "É uma ajuda humanitária muito seletiva. A Iugoslávia é um país soberano que tem problemas internos com guerrilha do Exército de Libertaçao de Kosovo (ELK). Assim como a Espanha tem com a guerrilha basca, a França tem com os corsos e a Inglaterra com o IRA. Mas ninguém bombardeou a Espanha, França ou Inglaterra".

Janovic teme por uma guerra prolongada e dolorosa, nos moldes do que aconteceu no Vietna, caso a Otan decida por uma invasao ao território iugoslavo.

O professor da USP se baseia no histórico poder de resistência dos sérvios através dos séculos. "Eles já mostraram essa capacidade contra os turcos, durante as guerras do século 15 e também na 2ª Guerra Mundial, quando imobilizou 26 divisoes do III Reich".




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