Política Titulo Especial
Lula lá: 15 anos depois

Uma década e meia após a vitória de 2002, petista tenta voltar às urnas em momento diferente

Por Júnior Carvalho
29/10/2017 | 07:00
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Orlando Filho 28/10/02


 Quinze anos depois de vencer sua primeira eleição presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja reencontro com as urnas. Hoje com 72 anos de idade e na oposição após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), o cenário é distante do histórico 27 de outubro de 2002, segundo turno da disputa com José Serra (PSDB). Em julho, Lula foi condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá, o que pode barrar sua candidatura. Para completar, o ex-presidente ainda é réu em mais quatro processos no âmbito da Operação Lava Jato e em outras investigações que nasceram da apuração do esquema de corrupção na Petrobras. Em fevereiro, Lula ficou viúvo após a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Para o PT, os números também não são bons. Lula caminha para a primeira eleição depois da desidratação do partido na eleição de 2016, quando sofreu perdas em municípios historicamente petistas, como no Grande ABC. Será uma disputa em que o PT estará no comando de 256 prefeituras pelo País, número maior que o cenário de 2002 (governava 187 cidades), porém bem menor que o de 2006 (411), 2010 (558) e de 2014 (638).

O ex-presidente, porém, parece resistir. Pesquisa Datafolha divulgada em setembro revelou que, apesar da sentença proferida pelo juiz Sérgio Moro, Lula lidera todos os cenários de intenções de voto. A sondagem revela vantagem, inclusive, em todas hipóteses de segundo turno, com exceção se o adversário for Moro (que descarta candidatura), na qual o petista está numericamente à frente, mas em empate técnico com o magistrado.

A narrativa da defesa jurídica do ex-presidente e de seus aliados é de que a condenação é meramente política e faz parte de tentativa de impedir Lula de voltar a disputar a Presidência da República. Com o discurso “eleição sem Lula é fraude”, eleitores do petista seguem fazendo campanha para o ex-presidente, que também voltou a rodar o País em busca de votos, reeditando sua tradicional caravana.

Para Karina Kufa, coordenadora da especialização de Direito Eleitoral do IDP (Instituto de Direito Público) de São Paulo, Lula pode vencer a batalha jurídica na disputa. Ela explica que, na hipótese de o petista ser condenado em segunda instância até a data do registro da candidatura, Lula terá o nome indeferido, mas poderá concorrer sob liminar. “No ato do registro de candidatura o processo não estará transitado em julgado e, portanto, Lula não poderia sofrer sanções. Por mais que o STF (Supremo Tribunal Federal) tenha decidido o cumprimento da pena após condenação em segunda instância, há movimento no sentido de modificar esse julgamento. Isso pode vir a mudar. Assim, essa liminar acaba não sendo difícil porque ele (Lula) se basearia na Constituição, alegando a presunção de inocência”, analisa. Karina sustenta que, mesmo que não conquiste a liminar favorável à candidatura, Lula poderia seguir, ficha suja, com a candidatura e, às vésperas da eleição, desistir e escolher um substituto. Nessa altura, seria substituído após intensa campanha como candidato.

No aspecto político, Maria do Socorro Souza Braga, da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), destaca que, ao contrário de 2002, Lula e o petismo não conseguirão repetir o discurso que o ajudou a levar o primeiro operário ao Planalto: combate à corrupção. Em contrapartida, a rejeição histórica a Michel Temer (PMDB) e eventual cenário econômico negativo poderão reverter esse jogo. “Temer tem uma gestão muito fácil de se contrapor. Quanto pior a economia estiver em 2018, do ponto de vista para os candidatos da oposição, todas as legendas que estão na base desse governo, como o PSDB, vão ser responsabilizadas pela piora na qualidade de vida dos indivíduos. É aí que Lula sairia favorecido”, destaca.

Para o professor Luiz Silvério, da Universidade Metodista, caso a candidatura de Lula não se viabilize, os partidos de esquerda precisarão indicar alguma figura que absorva o “projeto que Lula representa”. Nesse contexto, Silvério elenca as políticas sociais dos governos petistas. “Não sei responder que absorveria isso. Talvez o Ciro (Gomes, PDT, ex-governador do Ceará) ou Fernando Haddad (PT, ex-prefeito da Capital)”.




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