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O semeador de ventos
Por Carlos Brickmann
31/08/2014 | 07:00
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Aécio Neves passou boa parte do tempo, no início de sua campanha, montando acordos em todo o País. Discretamente, habilmente, rachou partidos alinhados a outros candidatos (exemplos: Pezão, PMDB do Rio, está oficialmente com Dilma, mas extraoficialmente tinha se aliado a ele; o PSB paulista de Márcio França estava, claro, com Eduardo Campos, mas também com Aécio).

Bastou uma semana de alta acelerada de Marina Silva nas pesquisas para que tudo mudasse: até os tucanos de bico mais comprido já estão assobiando, olhando para os lados e torcendo para quem ninguém os note. Aécio chegou àquela fase de inferno astral de campanha em que os inimigos são muito menos perigosos do que os amigos.

Alckmin, por exemplo, é franco favorito para o governo paulista, é Aécio desde criancinha, mas transferir seus votos a ele, convenhamos, dá trabalho. Marconi Perillo é favoritíssimo em Goiás e alma gêmea de Aécio, mas como pode impedir que amigos que o apoiam para o governo façam propaganda de Dilma para a Presidência? E Serra, à frente na luta para o Senado, não estaria sossegado demais quando se trata de transferir votos para o candidato à Presidência?

Ninguém fará a grosseria de lembrar que, nas três eleições presidenciais anteriores, Aécio assistiu com calma à derrota de seus aliados. Em 2010, fez campanha – não em Minas, onde tinha votos, mas viajando para regiões onde jamais tinham ouvido falar dele. Para o PSDB, o importante é derrotar o PT, mesmo que seja com Marina. O semeador de ventos que colha sozinho suas tempestades.

O Recordando
Em 2010, o PSDB sonhou com a chapa Serra e Aécio, unindo São Paulo e Minas. Aécio deu a entender a caciques tucanos que ficaria feliz com a vice. Quando a ideia vazou, seus aliados abriram fogo, acusando Serra de tentar salvar-se da derrota obrigando Aécio a candidatar-se. A pancada doeu; e Serra, sem alternativa, escolheu o primeiro vice que conseguiu laçar, o fluminense Índio da Costa, desconhecido fora do Rio. Entre as qualidades que Serra porventura tenha, certamente não está a capacidade de perdoar. Engolir ofensas passadas por um objetivo comum, que o beneficie, vá lá; mas vingar-se é gostoso demais.

O voto dos debates
Quem ganhou o primeiro debate entre os candidatos à Presidência, na Rede Bandeirantes? Depende de quem assistiu: para os dilmistas, foi Dilma; para os marineiros, Marina; para os aecistas, Aécio. Pois cada espectador vê o debate de acordo com sua tendência, aceitando melhor as teses com as quais concorda. E qual a consequência eleitoral deste debate? Nenhuma: debate pode derrubar (o que não aconteceu), mas só em raríssimas ocasiões irá impulsionar um candidato. Para este colunista, Marina Silva foi a melhor, seguida por Eduardo Jorge (que, porém, não tem como subir) e Aécio (que, entretanto, não empolga). Eleitoralmente, é um debate com o qual ou sem o qual a pesquisa continua tal e qual.

Sim, não, talvez
A campanha de Marina é um poço de contradições: o agronegócio a encara com desconfiança, mas confia em seu vice Beto Albuquerque. Marina é conservadora em questões de comportamento, mas muitos de seus adeptos defendem posições menos rígidas. Marina mantém muito da ideologia estatizante dos tempos de PT, mas seu principal assessor da área econômica, Eduardo Gianetti da Fonseca, desconfia de intervenções estatais. Haverá choques entre Marina e equipe? Talvez – mas não se deve esquecer o que a História ensina sobre flexibilidade quando se trata de chegar ao poder. Um bom caso é o de Henrique de Navarra, que comandava as forças protestantes durante as guerras religiosas na França. Surgiu-lhe a oportunidade de chegar ao trono, mas teria de virar católico. Henrique se tornou católico, com uma frase famosa – “Paris bem vale uma missa” – e decretou a liberdade religiosa na França. Houve paz e ganharam todos.

Nuvem passageira
É importante não esquecer, como dizia Magalhães Pinto, que política é como nuvem: olha-se, está de um jeito, olha-se de novo, está de outro. Marina está indo bem, mas ainda não ganhou. Pesquisa é bom, mas o que elege é voto na urna.

Juízo, Excelências
A economia está em recessão, o Orçamento federal vive de contabilidade criativa, e os ministros do Supremo bem agora pedem aumento de 22%? Pedido errado, na hora errada – quando se anuncia 8% para o mínimo, 5,5% para os aposentados, e no ano que vem. Estarão os ministros deixando de perceber o que ocorre no País? Imaginarão que este não é problema deles? Pois informem-se: é.

A Marina que não é Marina
Começou como mal-entendido, virou golpinho eleitoral de baixo nível. É um vídeo em que Lula pede votos para Marina, a maravilhosa, fantástica, que merece ser eleita. Este colunista chegou a pensar que o vídeo era antigo, do tempo de Marina Silva no PT; mas não é, não. É atual; manifesta o apoio de Lula a Marina Santanna, candidata ao Senado pelo PT goiano. Alguém botou no início e no fim do vídeo o logotipo de Marina Silva, espalhou-o na internet e pronto. Marina Silva, claro, já disse que não sabia de nada. Mas como tirar o vídeo da internet?




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