O general Pinochet, que no dia 25 de novembro passado completou 84 anos, se propôs a erradicar ``o câncer marxista' quando tomou o poder em 11 de setembro de 1973, num golpe que culminou com o suicídio do presidente socialista Salvador Allende.

Vinte e seis anos depois, submetido na capital britânica ao que considera um ``seqüestro', o ex-ditador, que governou o Chile até março de 1990, nao poderá votar no próximo domingo, para evitar que outro socialista, o economista Ricardo Lagos, chegue à Presidência.

Lagos e o direitista Joaquín Lavín, ex-assessor de Pinochet, se projetam como os candidatos com maior opçao, mas ambos coincidem com o governo do presidente Eduardo Frei em conseguir a libertaçao do octogenário general, para que enfrente no Chile mais de 50 denúncias por crimes políticos e violaçoes dos direitos humanos.

No dia 16 de outubro do ano passado, agentes da Scotland Yard entraram em uma clínica londrina, onde Pinochet se recuperava de uma operaçao da coluna. A partir daí começou para ele a mais inesperada e humilhante página de sua vida.

Era um dramático contraste com o poder que exerceu por quase 17 anos, quando fechou o Parlamento, proscreveu os sindicatos e partidos, implantou o toque de recolher e o estado de sítio e lançou contra seus adversários uma repressao sem precedentes no país. ``No Chile, tomo conhecimento de qualquer folha que se mexe', foi uma de suas mais famosas frases.

Nascido no dia 25 de novembro de 1915 no porto de Valparaíso, a 100 km de Santiago, Pinochet surgiu na história do Chile para projetar sua influência sobre seus 15 milhoes de habitantes por quase um quarto de século, até que deixou o comando do Exército em março do ano passado.

Alvo de numerosas denúncias por assassinato, torturas e outras violaçoes dos direitos humanos, no dia 7 de setembro de 1986 escapou de uma emboscada onde morreram cinco de seus guarda-costas, em um ataque guerrilheiro da esquerdista Frente Patriótica Manuel Rodríguez (FPMR). A sombra dos discípulos da ``Escola de Chicago', impôs um modelo de economia liberal, mas enfrentou dificuldades com os Estados Unidos pelo assassinato em Washington do ex-chanceler socialista Orlando Letelier, executado por agentes da Dina, a polícia política do regime militar, no dia 21 de setembro de 1976.

Quatro anos depois, em pleno vôo sobre o Pacífico, teve de cancelar uma visita às Filipinas, quando surpreendentemente o presidente Ferdinand Marcos lhe retirou o convite ``por motivos de segurança', em março de 1980.

Embora se declare católico, Pinochet manteve tensas relaçoes com a Igreja, mas em abril de 1987 foi anfitriao do Papa Joao Paulo II, que visitou Chile e Argentina depois de sua mediaçao no conflito do Canal Beagle, que nove anos antes situou os dois países à beira da guerra.

Especialista em geopolítica e estratégia, o general perdeu uma significativa batalha no plebiscito de 5 de outubro de 1988, quando mais de 53% dos votantes disseram ``Nao' e frustraram sua intençao de continuar no poder até 1997, para completar 24 anos de governo.

O fracasso se repetiu na eleiçao presidencial de dezembro de 1989 e três meses depois, em março de 1990, entregou o poder ao líder democrata cristao da oposiçao, Patricio Aylwin.

Mas seu afastamento do governo nao impediu Pinochet de manter o comando militar, que ocuparia durante os oito anos seguintes, amparado nas leis que promulgou antes de deixar o palácio presidencial de La Moneda.

Sob o governo do presidente Eduardo Frei, sucessor de Aylwin desde março de 1994, Pinochet foi perdendo destaque e só reapareceu, abruptamente, quando se tornou senador vitalício, no dia 11 de março do ano passado, um dia depois de entregar a chefia do Exército. Protegido por seu novo foro parlamentar, o ex-ditador viajou á Europa seis meses depois, sem imaginar que dessa viagem nao voltaria tao cedo.