Economia Titulo Crise
Setor de autopeças sofre com parada das montadoras

Indústrias têm queda estimada de 2% a 3% nas
vendas no primeiro trimestre deste ano

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
12/04/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


As indústrias de autopeças da região começam a sentir os reflexos das paradas de produção das montadoras, que estão dando férias coletivas, folgas e licenças remuneradas para adequar os estoques de carros à demanda retraída. A freada na fabricação de veículos significa diminuição nos pedidos para suprir as linhas de montagem, com impacto direto nos elos dessa cadeia produtiva, segundo representantes do setor.

Por causa desse movimento das montadoras, o presidente do Sindipeças (Sindicato da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), Paulo Butori, estima queda de 2% a 3% no faturamento real (descontada a inflação) das autopeças no primeiro trimestre, ante igual período de 2013, embora ele ressalte que os resultados do segmento de janeiro a março não estão consolidados.

As paradas na fabricação de veículos preocupam, diz o empresário Mario Milani, que é presidente da indústria de buzinas Fiamm, em São Bernardo. Sua empresa, que conta com 110 funcionários, ainda aguarda para verificar como será a redução das encomendas, mas ele assinala que não está descartado também dar férias coletivas aos funcionários.

Outro empresário do ramo, Fausto Cestari, que é presidente da indústria de componentes automotivos MRS, em Mauá, também acompanha com apreensão o cenário do setor. Ele verifica que há sinais de recuo nos pedidos para abril e maio e avalia que, dependendo de como se comportar a demanda nos próximos meses, poderá ter de fazer ajustes em sua atividade.

Butori observa ainda que o segmento vinha convivendo com margens de lucro apertadas, por causa da forte concorrência com os produtos importados e, ao mesmo tempo, com volumes altos de encomendas, já que a fabricação de veículos seguia em alta. “Se os volumes também caem é o pior dos mundos”, afirma.

Mesmo quem não fornece às montadoras tem sentido o mercado retraído. Renato Cicarelli, presidente da metalúrgica IGP, de Diadema, até 2013 fornecia o capô para o Gol G4, da Volskwagen, que deixou de ser fabricado. O foco de sua empresa hoje é o segmento de reposição (lojas de autopeças), que teve redução de 20% a 30% nos pedidos neste ano. “A economia está mais devagar e os lojistas também tiveram queda de vendas”, afirma.

PERSPECTIVAS

O presidente do Sindipeças assinala ainda que o cenário para os próximos meses não é animador, já que o ambiente macroeconômico está se agravando, com redução de crédito e juros e inflação em alta. Além disso, neste ano, a Copa do Mundo também não ajuda o segmento, pois a atenção dos consumidores se concentra nesse evento, diz Butori.

A entidade projeta para o ano todo crescimento de 5,5% nas vendas nominais (sem incluir a taxa inflacionária) de autopeças. Isso significa que, com o atual ritmo do custo de vida – que já chega a 6,15%, pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 12 meses terminados em março –, as fabricantes fecharão 2014 com desempenho negativo. Além disso, a previsão é de recuo de 3,6% na produção nacional de automóveis: de 2,717 milhões em 2013 para 2,623 milhões em 2014.

Outro fator de preocupação é o crescente deficit comercial (importações superiores às exportações), que deve chegar a US$ 10 bilhões em 2014, segundo o Sindipeças. Butori assinala que esse valor pode ser ainda maior e ultrapassar US$ 11 bilhões. Colabora para isso o câmbio, já que o dólar, que havia se valorizado ante o real, voltou a cair neste mês.

Sindipeças negocia para evitar demissões no segmento

O presidente do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes de Veículos Automotores), Paulo Butori, afirma que tem conversado com o governo em busca de alternativas para que não haja redução do nível de emprego no setor, por exemplo, com redução da carga tributária e flexibilização da jornada de trabalho.

Segundo o dirigente, existe compromisso do setor com o governo para que não haja decréscimo do emprego, por causa da diminuição do encargo sobre a folha de pagamento, com a mudança da cobrança da contribuição previdenciária, de 20% da folha, para até 2% do faturamento bruto.

No entanto, se continuar em baixa o ritmo atual de vendas de carros, haverá dificuldades de manter os postos de trabalho na área de autopeças. Atualmente, o segmento conta com 221 mil empregados. Butori acrescentou que tem buscado diálogo também com os sindicatos de metalúrgicos, para oferecer proposta conjunta a esse cenário difícil.

Uma das alternativas, que já foi apresentada ao governo, segundo ele, é medida adotada na Alemanha, para proteger os empregos em momentos de crise. No país europeu, quando determinado segmento tem redução expressiva das vendas, em vez de dispensar seus trabalhadores, as empresas os mantêm em jornada de trabalho reduzida. Elas pagam metade do salário e o governo remunera percentual da outra metade. “Superado o problema, tudo volta ao normal, com ganhos para todos”, observa o dirigente.

Ele acrescenta que a preocupação é que a redução de postos na área de autopeças reflita no restante da economia, já que os desempregados tendem a reduzir o consumo.          




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