Cultura & Lazer Titulo Entrevista
Lygia por Lygia

TV Cultura exibe hoje às 22h rica entrevista com a
escritora; série é a primeira do projeto Autor por Autor

Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
11/11/2009 | 07:00
Compartilhar notícia


Lygia Fagundes Telles, 86 anos, formada em Educação Física e Direito, começou a escrever os primeiros contos aos 8 anos. Publicou 28 livros. Seu primeiro romance, "Ciranda de Pedra", é de 1954. Casou-se duas vezes. Lutou contra o Estado Novo e em "As Meninas", de 1973, apontou as barbaridades que os torturados do regime militar sofriam nos porões das prisões.

A história da escritora, recheada de reminiscências, é o destaque do programa Lygia por Lygia, que a TV Cultura exibe hoje, às 22h.

A série é a primeira do projeto especial Autor por Autor, que a Cultura criou em parceria com a SescTV e planeja executar a partir do ano que vem.

Com texto de Maria Adelaide Amaral, o programa traz depoimentos de Lygia e interpretações dos atores Eva Wilma, Regina Braga e Luciano Chiorolli, que se revezam para dar vida à história da escritora e aos personagens que a compuseram. Tudo encenado em um cenário virtual, com banners com imagens e cenas da vida de Lygia.

A escritora começa contando sobre a origem de seu nome, inspirado na mocinha cristã do livro Quo Vadis?, de Henryk Sienkiewicz. Lygia, a personagem, era refém de Roma e foi amarrada nua no lombo de um touro, exposta para todo Coliseu. A grafia do nome, com y, já foi motivo de controvérsias na história de Lygia. "Minha professora do primário implicava com o y, e eu comecei a assinar com i", conta, O poeta Carlos Drummond de Andrade é que fez com que Lygia assumisse a grafia correta. "Ele me disse para aceitar as minhas raízes."

Outra história envolvendo o Quo Vadis vem de Vinicius de Moraes, que também foi batizado por causa do livro. "Ele me pediu em casamento, já que nossos nomes vinham do casal protagonista do romance. Disse que não, porque ele já era casado."

Uma de suas lembranças é a de sua "tia antiquíssima", a Elzira Morta Virgem. "Ela se apaixonou por um mulato e a família toda proibiu o romance. Ela ficou tão triste que enfiava toalhas molhadas, frias, debaixo da camisa, para ficar doente. Morreu de tuberculose."

Desde menina começou a escrever contos nos cadernos escolares e decidiu na juventude que seria uma escritora engajada com seu tempo. "Eu não poderia escrever sobre flores e bombons em um país tão duro como o meu".

VOCAÇÃO - A ideia de entrar para a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde era uma das seis mulheres em meio a mais de 200 homens, no início, teve restrições por parte dos pais. A mãe de Lygia disse: "Verdadeira temeridade, quer afastar os pretendentes. Todo homem tem medo de ter mulher inteligente. Só os que não pensam em casamento é que ficam amigos da gente".

Lygia guarda com carinho as histórias dos pais. Da mãe, pegou a expressão que utiliza até hoje ‘mulher goiabada'. "Ela cozinhava doce num tacho de cobre". Do pai, o prazer pelo risco: "Ele era apostador de jogos de azar. Eu virei apostadora das palavras".

Lygia já fazia esgrima, estudava Direito e era soldado de uma legião que lutava contra a Segunda Guerra, quando recebeu o convite para ser atriz de teatro. A mãe, já quase conformada com a solteirice da filha, falou: "Você já é soldado, está numa escola de homens, tem a profissão de escritora, que nenhuma mulher exerce. Quer ser atriz? Agora é que não casa nunca".

Um dia, em um lançamento de livro, começou a chorar porque alguns homens chegaram e disseram que ela tinha de ser apenas bonita, não escritora. "Falei que tinha uma vocação. Eu acredito nisso, que vem a ser a liberdade de cumprir essa vontade que vem das profundezas. Em latim, vocare, o chamado. É assumir o ofício que se aceita com alegria, porque é o ofício do prazer."

No fim, Lygia conta que sua missão não está findada. "Estou buscando a mim mesma, e procurando me desembrulhar, como desembrulho minhas personagens. Eu me conheço? Não. Talvez, na morte eu consiga me encontrar. Na fé, esperança e caridade, que são os preceitos que eu sigo, talvez eu me encontre. E na morte, diga: Que maravilha, a vida era isso."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;