Reformulado e adaptado para ser mais enxuto, o panorama da temporada 2009 da Fórmula 1 será modificado por mudanças significativas causadas direta e indiretamente pelos efeitos da crise mundial. As cotas menores de patrocínio e investimentos mais restritos despontaram como tendência principal para o ano, e levaram a FIA (Federação Mundial de Automobilsimo) promover uma série de discussões, mudanças técnicas e de procedimento como solução para minimizar os problemas da categoria.

O maior destaque negativo, porém, ficou por conta da Honda. A segunda maior montadora japonesa anunciou no final de 2008 que abandonaria da Fórmula 1 neste ano. Ela participava da competição desde a década de 1960 e era uma das equipes mais antigas da modalidade.

O caso da escuderia japonesa deu margem para a discussão mais imediata de instaurar uma medida de redução de custos, na tentativa de evitar novos cortes. A proposta de padronização comunicada pela FIA foi vista com bons olhos pela maioria das escuderias, o que facilitou as negociações e devem entrar em vigor a partir do ano que vem.

O projeto para 2010 basicamente inclui mais partes comuns nos carros (motores, rodas, freios e conjuntos de suspensões) e pesquisas em sistemas de recuperação de energia. Além destas medidas, que algumas equipes podem considerar restritivas (a Ferrari já reclamou ano passado), a FIA pretende manter a rivalidade técnica na categoria mediante a definição de áreas específicas de livre desenvolvimento.

Para este ano, porém, a realidade segue incerta. Só o Grande Prêmio da Austrália (que abre a competição) acusou um déficit de R$ 27 milhões este ano, e a França decidiu pura e simplesmente anular a organização de um GP em 2009.

Outro fato que chamou atenção foi a queda de braço entre a Fota (associação de equipes) e a Fia, no tocante às regras. Um novo regulamento, que determinaria o campeão pelo número de vitórias, chegou a ser aprovado. Mas após uma semana, foi anulado, e o antigo (campeão é decretado pelo número de pontos), foi mantido.

BRAWN - A Honda será substituída em 2009 pela Brawn GP, de propriedade de Ross Brawn. Os pilotos serão o inglês Jenson Button e o brasileiro Rubens Barrichello, mesma dupla que representou a escuderia japonesa no campeonato passado. Os motores serão fornecidos pela Mercedes-Benz. A montadora alemã exigiu uma série de garantias financeiras de que a equipe participará de toda a temporada 2009, no que foi atendida por Brawn.

Contrário ao que várias pessoas pensam, o trabalho de desenvolvimento não foi deixado de lado após o anúncio do fim dos investimentos da Honda Motor Company.

Alterações visam ‘ressuscitar' emoção

A temporada 2009 apontará grandes mudanças aerodinâmicas nos carros da Fórmula 1. A FIA aprovou uma significativa queda do uso da pressão sobre o ar exercido pelos componentes do carro, o que, basicamente, alterou o desenho dos aerofólios. A asa frontal será móvel e controlada por um motor elétrico. Ela ganhou largura e se aproximou do chão, o que maximiza o efeito com o solo. Com isso, os pilotos poderão alterar o ângulo de ataque de acordo com o ponto da pista em que estiverem.

Já a peça da área traseira foi encurtado na horizontal e elevado na vertical. Assim, é provável que as tão almejadas ultrapassagens voltem à rotina da categoria. Esta é a maior mudança nas regras da categoria desde o fim de 1997.

Até o ano passado, quando um piloto perseguia o adversário em curvas de média e alta, perdia muita pressão aerodinâmica somente na parte dianteira, graças à turbulência emitida pelo carro da frente. A instabilidade provocava desequilíbrio, que minava as chances de aproximação na reta, e impedia a ocorrência da ultrapassagem.

Os chifres, miniasas e afins estão proibidos para 2009. A bigorna (ou rabo de tubarão), um alongamento da tampa do motor, não tem impedimentos no novo regulamento. Com as novidades, estratégias renovadas também devem ser adaptadas. As equipes devem ficar atentas às zebras mais altas, sobretudo a Toyota, uma das poucas escuderias que optou pelo bico fino. A extremidade da asa está bastante baixa e pode sofrer danos nas curvas.

MOTOR E PNEUS - Diferentemente da temporada 2008, quando os motores tinham de durar duas corridas, agora deverão durar três provas, podendo intercalar. Para facilitar a identificação, os pneus sofreram alterações nos nomes. O antigo pneu de chuva passará a se chamar intermediário, e o de pista extremamente molhada terá a denominação de chuva.

Fora da F-1 desde o fim de 1997, os slicks (lisos) estão de volta. A intenção, com isso, é recuperar a perda aerodinâmica com a maior aderência gerada pelos novos compostos, o que já foi comprovado durante os vários testes da pré-temporada.

Construtores

Dez equipes entram na disputa pelo título de construtores na temporada. A Ferrari, que venceu nove das últimas 11 disputas, é apontada como a favorita. Mclaren, Renault, BMW-Sauber, Branw GP e Toyota (as duas últimas tiveram bons desempenhos nos testes) estão entre as que podem surprender. Já a Williams promete fazer mais do que no ano passado, quando ficou apenas em oitava, com 26 pontos. Force India, STR e RBR compõem o bloco das equipes que devem figurar na parte de baixo da tabela.

Na aba da tradição sobre rodas da família Piquet, Nelsinho terá outro ano de Fórmula 1 na escuderia Renault para mostrar que tem condições de melhorar a performance irregular que marcou sua campanha na temporada anterior. O piloto foi um dos principais alvos das críticas em 2008.

Principal cotado para acabar com o jejum de 17 anos sem títulos da F-1 para o Brasil, Felipe Massa acredita que terá melhor sorte na temporada. O piloto da Ferrari chegou bem perto da taça em 2008, mas deixou de ficar com os títulos nos segundos finais da última prova. Rubens Barrichello, piloto que mais disputou Grandes Prêmios na história da Fórmula 1 está pronto para mais um ano de disputas. O brasileiro vai ser o número um da Brawn, escuderia que substituirá a Honda, e os bons desempenhos nos primeiros treinamentos são sua principal fonte de motivação.