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Tricotando a sucessão

Michel Temer na Câmara, José Sarney no Senado. Está certo, o PMDB é um partido dividido...

Por Carlos Brickmann
11/02/2009 | 00:00
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Michel Temer na Câmara, José Sarney no Senado. Está certo, o PMDB é um partido dividido, mas é capaz de se unir fortemente, todos amigos desde criancinhas, irmãos de sangue, se tiverem a perspectiva de chegar a algum palácio. O PMDB é o maior partido brasileiro, mas não tem candidato à Presidência.

Aécio Neves governa Minas, bem avaliado, simpático, neto de um mito da política, o ex-presidente Tancredo Neves. Aécio é tucano desde criancinha, mas um palácio fala tão forte que foi capaz de se aliar ao PT na eleição de Belo Horizonte. Aécio é bom candidato, mas parece rejeitado pelo seu partido, o PSDB.

Um partido forte sem candidato, um candidato forte sem partido. E um presidente da República ainda sem caminhos, já que sua candidata é difícil e a segunda reeleição - o sonho de seu partido - ainda não existe. Pode dar certo: se Aécio correr o risco de sair do PSDB para o PMDB e conseguir ser candidato, talvez se transforme num plano alternativo e conveniente para Lula. Tudo indica que a reeleição será substituída, e logo, por um mandato mais longo, de cinco anos. Aécio se elegeria e Lula iria se preparar para sua volta triunfal, em 2015.

Mas estamos ainda longe das eleições. José Serra, candidatíssimo, está atento - e o PSDB também. O PMDB já convidou gente de fora para ser candidato apenas para traí-la na convenção - foi o que ocorreu com Itamar Franco. E voltar daqui a cinco anos é um sonho possível - possível, mas sonho. De qualquer forma, a ideia existe, e existe, entre os políticos hábeis, quem a considere viável.

OS RUSSOS

Pouco antes do jogo entre Brasil e União Soviética, pela Copa do Mundo de 1958 (deu Brasil, 2x0), o técnico Vicente Feola explicava aos jogadores como superar a forte defesa soviética. O ponta-direita Garrincha fez então sua pergunta imortal: "Mas já combinaram com os russos?" Um plano complexo, que envolve unir um partido historicamente desunido, afastar do PMDB de São Paulo do governador Serra, levar um político desconfiado como Aécio a trocar de partido e convencer o presidente Lula de que daqui a cinco anos volta a ser a vez dele, parece que só funciona se houver alguém que combine com o adversário. Mas o fato é que, em 1958, o Brasil superou a defesa soviética usando exatamente as jogadas sugeridas pelo técnico Feola.

EXPOSIÇÃO

O deputado Edmar Moreira era dono do castelo, tinha várias empresas de segurança, tinha lá suas pendências jurídicas, e vivia tranquilo, esquecido, no Congresso. Aí decidiu lançar-se candidato, contra a vontade de seu partido, à segunda vice-presidência da Câmara, justo aquela que comanda a Comissão de Ética. Não tinha nada a fazer lá: aparentemente, queria apenas holofotes. Ganhou todos os holofotes: tudo o que queria deixar em paz acabou sendo exposto. Teve de renunciar ao cargo, teve de sair do partido, corre o risco de perder o mandato. É sempre bom relembrar o velho provérbio: macaco que muito pula quer chumbo.

BOAS OU MÁS NOTÍCIAS

O presidente Lula deu uma aula de como lidar com políticos: transformou a Marcha de Prefeitos, que era contra ele, numa manifestação favorável ao governo (até mesmo com a presença da ministra Dilma Rousseff). Os prefeitos ganharam uma série de vantagens, até a possibilidade de rolar mais uma vez suas dívidas - mesmo os que já as rolaram, mesmo os que não pagaram as prestações. A Lei de Responsabilidade Fiscal provavelmente terá de ser esquecida. E a conta? A conta quem paga não é o presidente, caro leitor. Adivinhe quem é o pagador!

MÁS NOTÍCIAS

A renda agrícola, segundo dados do governo, deve cair 8,4% neste ano. Uma empresa tradicional, a Zoomp, teve anteontem a falência decretada. Lojas de luxo (aquele setor mais resistente à crise) estão fechando: Fause Haten, Giselle Nasser.

GOLFE SOCIAL

O Ministério do Esporte acaba de conceder algo como R$ 10 milhões de incentivos fiscais aos golfistas. O golfe é um esporte de elite, praticado por pouco mais de 15 mil pessoas em todo o País, nenhuma delas pobre ou de classe média baixa. Já para manter os ginastas olímpicos brasileiros, não houve dinheiro.




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