O Brasil, nos últimos anos, tem concentrado as exportações em commodities, ou seja, produtos básicos como minério de ferro, petróleo, soja e açúcar. Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado ontem, mostra essa tendência e o maior impacto socioambiental que essa priorização acarreta.

De 2000 a 2008, de acordo com o relatório Comércio Internacional e Sustentabilidade Socioambiental no Brasil, do instituto, o valor das exportações brasileiras em dólares cresceu cerca de 260%. No mesmo período, no entanto, as encomendas de itens de alta tecnologia ao Exterior tiveram expansão de 68% e os produtos não industriais registraram crescimento de 515%.

Com isso, a participação dos itens de tecnologia de ponta caíram de 12% para 6% na pauta de exportações enquanto a fatia dos não industriais subiu de 17% para 28%.

MEIO AMBIENTE - O impacto ambiental dos produtos básicos é analisado, no estudo, pela intensidade de energia necessária para a produção, na comparação com o setor manufatureiro.

Para produzir o correspondente a US$ 1 milhão, a indústria de papel e celulose, por exemplo, consome energia de mais de 700 TEP (Toneladas Equivalentes de Petróleo) enquanto a indústria de transformação (que inclui as fabricantes de automóveis, eletrodomésticos e máquinas e equipamentos) utiliza apenas 200 TEPs.

O especialista Jorge Hargrave, do Ipea, observa ainda que os produtores de itens brutos têm menor potencial de geração de riqueza, de criação de empregos e de arrecadação tributária que os itens manufaturados; limitam a incorporação de novas tecnologias; levam, em muitos casos, à monoculturas em larga escala (caso de soja e cana-de-açúcar) e são intensivos em agrotóxicos.

Hargrave acrescenta que o sistema tributário brasileiro não estimula as exportações de alta tecnologia, ao contrário do que ocorre em muitos países desenvolvidos.

No entanto, ele salienta que, mais do que dizer se a opção pelas commodities é boa ou ruim, é importante que essas variáveis sejam levadas em conta nas decisões estratégicas do País. "A sociedade tem que saber que isso implica custos ambientais", afirma.