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Caso Diniz: petistas vão ter de mexer em tabu
Por Murilo Murça de Carvalho
Correspondente em Brasília
28/02/2004 | 20:32
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O escândalo Waldomiro Diniz fará com que o governo do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mexa em outro dos seus tabus e coloque as mãos na gaiola dos arapongas, como é conhecida a Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Substituta do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações) e vinculada ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, à Abin também cabe a investigação dos funcionários públicos que ocupam cargos estratégicos.

A agência não foi acionada para investigar o nomeado para a subchefia de Assuntos Parlamentares da Casa Civil da Presidência da República, Waldomiro Diniz. Por preconceito e, ou, despreparo dos novos governantes para a necessidade de conhecer em profundidade seus principais colaboradores, a investigação não foi feita e o resultado foi a pior crise já enfrentada pelo governo Lula.

Desde que o ex-presidente do PSDB, deputado Aloísio Nunes Ferreira, ocupou a Secretaria-Geral da Presidência da República, no governo Fernando Henrique Cardoso, essa investigação tornou-se automática e rotineira para todos os nomeados para ocupar cargos de chefia ou assessoramento superiores, particularmente os classificados como de “natureza especial”, como o de Waldomiro. Esse aspecto foi negligenciado pela equipe de transição do PT.

Somente o atual ministro de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, se interessou pelo assunto e, na época da transição, fez uma rápida visita à sede da Abin, no Setor Policial Sul de Brasília. Com a posse, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, foi substituído pelo general Jorge Armando Felix. Pelo menos por seis meses, Felix não despachou diretamente com o presidente Lula uma única vez.

Nos três primeiros meses de mandato, Felix esteve com Lula por três vezes, sempre em audiências conjuntas com outros ministros e não há notícia de que tenha despachado direta e isoladamente com o presidente da República para lhe repassar informações estratégicas.

A explicação pela não-investigação não só de Waldomiro, mas de muitos dos atuais ocupantes de postos estratégicos no governo Lula, está no fato de que a Abin, disciplinada na tradição militar, não investiga ninguém do governo por conta própria, mas só quando acionada. Assim, a primeira leva de nomeações contou exclusivamente com o aval dos superiores responsáveis pela indicação e nomeação, que foi o caso do ministro José Dirceu, da Casa Civil, em relação ao seu subordinado direto Waldomiro Diniz.

Na época dos governos militares, o SNI estendeu uma rede de informantes por todos os órgãos públicos, incluindo universidades e empresas de economia mista, redações de jornais, grupos teatrais, sindicatos, movimentos sociais, igrejas etc. À época, a preocupação principal era ideológica, de caça aos comunistas.

Graças ao trabalho de espionagem, os militares conseguiram desmontar grande parte das organizações de esquerda que se tornariam as principais fornecedoras de quadros para o futuro Partido dos Trabalhadores e demais partidos legalizados com a democratização do país. Nasceu daí a profunda desconfiança de muita gente, agora no governo ou em sua base de apoio, contra os serviços oficiais de informação.

O governo do PT, no entanto, já está tomando a providência de fazer as pazes, não com o velho SNI ou com a atual gaiola dos arapongas, mas com a informação, indispensável para o exercício do poder e seleção dos seus quadros.




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