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Velocidade permitida
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
22/11/2009 | 07:00
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Já imaginou atingir mais de 100 km/h mesmo sem ter idade para dirigir? Quem participa de campeonatos de kart, de moto ou de outras categorias de velocidade pode e deve pisar no acelerador se quiser vencer.

 "É adrenalina total", conta Renan Gama, 17 anos, de São Bernardo. O garoto corre desde os 8, já participou de todas as categorias de kart e ganhou o direito de competir na Fórmula Ford. "Correr é minha vida, mas sei que só posso na pista. Falta um ano para tirar a carteira. Por enquanto, só ando de bicicleta", brinca.

Apesar de ainda faltarem quatro anos para que Victor Franzoni, 14, de Santo André, consiga permissão para dirigir, o piloto está bem acostumado à velocidade. Ele começou a correr aos 4 anos e já na primeira prova atingiu os 90 km/h. "Nasci correndo. Dentro do carro é o lugar em que me sinto melhor", revela o garoto, que está com viagem marcada para Malásia, já que foi tricampeão da Copa Brasil de Kart.

A três anos de poder dirigir oficialmente, Eduardo Banzoli, 15, de Santo André, também está bem colocado nos campeonatos de kart. Ele - cuja paixão pelo kart começou aos 7 anos - garante que o medo não pode fazer parte da lista de sensações que sente um piloto durante a corrida. "Se tiver medo, não acelera, então perde. Mas precisa ter responsabilidade e atenção para não se machucar."

Renan, Victor e Eduardo sonham em ser pilotos de Fórmula 1. Nesta modalidade o carro atinge, só na primeira marcha, cerca de 156 km/h. Durante a corrida pode chegar a 320km/h!

Motovelocidade - Nos campeonatos de moto, a velocidade também é ingrediente necessário. Kauê Fernandes, 14, de São Bernardo, chega a 90km/h na categoria 85 cilindradas (na motovelocidade pode-se chegar a 300km/h). "É muita emoção", descreve. O garoto não tem pressa de tirar carteira de habilitação. "Gosto do jeito que está: não corro risco de machucar as pessoas, não tomo multa e ainda me divirto." O pai, Agnaldo Pereira, 35, acha ótimo. "Fico tranquilo nas competições porque é um lugar fechado e ele sabe o que faz."

Menina também pisa fundo
Ela é delicada, adora cor-de-rosa, já pensou em ser bailarina, mas trocou rapidinho as sapatilhas pelo kart quando sentiu a sensação da velocidade. Luana Pedrosa, 17, do Rio de Janeiro, vem se destacando nos campeonatos, apesar de competir há dois anos. "Nunca me imaginei piloto, mas estou simplesmente adorando. Minha vida mudou completamente", afirma a menina, que poderá ser vista na Fórmula 3 em 2010.

Por não ter garotas suficientes para criar uma competição específica, Luana compete com os meninos: de igual para igual. "No começo, eu senti um pouco de dificuldade para ser aceita, mas depois conquistei meu espaço. Dentro do kart não importa o sexo, e sim, quem acelera mais", conta Luana.

A carioca já sofreu alguns acidentes, mas nada que tirasse sua vontade de correr. "Bater faz parte. Afinal, o meu kart chega a alcançar 140km/h com motor preparado para competição. É muito rápido, qualquer desvio pode significar acidente." Para errar o menos possível, ela treina seis horas por dia, completando entre 130 a 150 voltas.

A um ano de tirar carteira de motorista, a garota revela que anda de moto há algum tempo. "Sempre gostei de motor", brinca Luana, que sabe que não vai chegar nem perto dos 140km/h quando estiver no trânsito. "Isso vai ser complicado, mas devo respeitar as regras do trânsito, assim como as regras dos campeonatos."

Bruno Senna começou tarde
"Fiz apenas uma ou outra corrida de kart. Andava mais na fazenda da família em Tatuí, no interior de São Paulo. Parei com tudo logo depois da morte do meu tio e só voltei para valer em 2004, com 21 anos", conta Bruno Senna, sobrinho do Ayrton.

Bruno tinha 10 anos quando o tio morreu no GP de Ímola em 1994. "Achava que ia se levantar e chacoalhar a poeira. Foi um momento triste, porque perdi a referência."

O piloto de 26 anos disse que não teve muito contato com a velocidade quando era mais novo, mas sabia que era o que queria. "Com a morte do meu tio, a família desanimou. Passei a adolescência fora das pistas, mas sempre gostei de carro."

Bruno insistiu e voltou ao kart com 18 anos. Passou pela Fórmula BMW, Fórmula 3 e GP2. Treinava tanto no começo que quebrou algumas costelas com a trepidação do carro. Mesmo assim, não tem medo de se machucar. "Os acidentes fazem parte e os níveis de segurança são altíssimos."

Agora Bruno está empolgado com a estreia na Fórmula 1 em 2010, pela equipe Campos Meta. "Sinto uma ansiedade saudável. Não vejo a hora de começar a treinar, mas só vou andar no carro da equipe nos testes coletivos de fevereiro. Em compensação, serão quatro semanas seguidas de muita corrida."

18 anos é muito para dirigir?
No Brasil, a lei permite que apenas maiores de 18 anos possam dirigir. A permissão só vem depois de passar por curso, provas e aulas de direção. O mesmo vale para quem quer pilotar moto.

Isso porque aqui a maioridade penal - a idade em que se responde legalmente por seus atos - é acima dos 18 anos. Em outros países, como nos Estados Unidos, adolescentes de 16 anos já podem dirigir. Há um projeto de lei do deputado Albérico Filho (PMDB-MA) que antecipa de 18 para 16 a idade mínima.

Para o heptacampeão brasileiro de motovelocidade Gilson Scudeler, 43, de Mauá, seria interessante que jovens com menos de 18 pudessem ter contato com moto e carro, aos poucos. "Sempre gostei de velocidade e andava de moto desde os 10. Como era proibido, fazia besteira. Quando comecei a dirigir de verdade tive consciência. Se fosse permitido dirigir desde os 16, o jovem iria aprender as técnicas."

Para ele, é bom também que os pilotos de kart e motovelocidade comecem a treinar cedo. "Nos campeonatos, estão equipados, preparados, seguros. Aprendem a controlar a máquina."

Mundo das corridas
A idade mínima para correr de kart hoje no Brasil é de 6 anos (na categoria piloto mirim). Depois vêm as categorias Cadete (8 a 11 anos), Júnior Menor (11 a 13), Júnior (13 e 14), Graduados A e B (são para os maiores de 14 que se destacam nas competições).

O preço médio de um kart é de R$ 5.000. Um capacete de fibra de vidro custa quase R$ 1.000, sendo que os modelos mais resistentes chegam a R$ 4.000. Para participar de uma etapa de um campeonato gasta-se cerca de R$ 15 mil (o mais barato). Em um campeonato da Fórmula 3, por exemplo, a quantia chega a mais de R$ 1 milhão. E por aí vai. É um esporte muito caro, por isso muitos pilotos só conseguem correr se tiverem patrocinadores.

Para maior agilidade em caso de acidentes, os macacões dos pilotos devem ter o nome completo, tipo sanguíneo e fator RH.




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