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'Guerra' contra a dengue não acabou
Por Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
07/12/2009 | 07:01
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A combinação de fatores climáticos, como a incidência de chuvas e de altas temperaturas para a primavera, com o descaso da população ante os focos do mosquito transmissor, ameaça trazer de volta o 'fantasma' da dengue ao Estado de São Paulo. É o que avalia o secretário estadual da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, para quem somente uma vigilância permanente é capaz de deter a doença.

Em entrevista exclusiva à APJ (Associação Paulista de Jornais), ele sustenta que o alerta deve ser mantido. "Isso é que nos preocupa. Estamos com uma primavera extremamente quente e chuvosa. E isso facilita a proliferação do mosquito. Todos os meteorologistas dizem que o verão será muito quente e chuvoso. Ou seja, ou a gente elimina agora os focos de criação e mata os mosquitos ou vamos enfrentar problemas sérios", afirma.

Em 2007, São Paulo registrou mais de 92 mil casos de dengue. Um ano depois, esse número caiu mais de 90%. Até outubro deste ano, o Estado detectou 6.579 contaminações.

"A situação está sob controle no Estado. Isso faz com que as pessoas relaxem um pouco e digam que a dengue está resolvida. Sabemos que 80% dos focos do mosquito estão dentro das casas. Então, se a gente não tiver a mobilização das pessoas, o risco da epidemia passa a ser iminente."

Para massificar o combate à dengue principalmente nos municípios que registraram maior incidência proporcional de criadouros do Aedes aegypti, o governo estadual conta com um 'exército' simbólico de 12 mosquitões-bonecões que serão expostos em locais de grande fluxo de pessoas.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

APJ - Quais as singularidades da campanha contra a dengue neste verão?
LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA - Como estamos com número de casos menor que no ano passado, quanto tivemos uma redução de 90% em relação a 1997, a situação está sob controle. Isso faz com que as pessoas relaxem um pouco e digam que a dengue está resolvida. Sabemos que 80% dos focos do mosquito estão dentro das casas. Então, se a gente não tiver a mobilização das pessoas, o risco da epidemia passa a ser iminente.

APJ - Como o Estado está agindo para mapear os focos que ainda resistem?
BARRADAS - Fizemos uma pesquisa desde o início do ano para saber a porcentagem das casas que têm criadouro do mosquito. O agente vai casa a casa contando quais têm o foco. Se você tem menos de 5% das casas contaminadas, o risco de epidemia é pequeno. Nosso objetivo é manter as cidades paulistas com um índice de infestação abaixo de 5%.

APJ - É possível eliminar os focos?
BARRADAS - Nosso objetivo não é acabar com o mosquito, pois está fora do alcance. Teríamos que eliminar o mosquito em outros Estados, o que é impossível. Queremos, sim, reduzir. Até agora estamos conseguindo isso. Porém, isso (a redução dos casos) tem consequência, que é o relaxamento. Na hora que as pessoas relaxam, aparece o mosquito.

APJ - Como, então, chamar a atenção das pessoas para os riscos?
BARRADAS - Resolvemos inovar. Fizemos um levantamento e estamos entregando um mosquitão, um boneco de plástico gigante do mosquito da dengue, às cidades que têm índice mais alto. O intuito é conscientizar a população local, as ONGs, para mostrar que o mosquito não foi embora. Se a gente trabalhar bem agora, a gente vai conseguir passar o verão sem a dengue voltar para São Paulo. As equipes estão visitando mais de 100 cidades. Resolvemos introduzir esta novidade em 12 cidades que têm maior índice para alertar as pessoas.

APJ - Com o período de férias, aumenta o fluxo de turistas em direção ao Litoral. E sabemos que nestas cidades há uma preocupação maior com relação às casas de veraneio. Qual a ação específica para as cidades de praia?
BARRADAS - Estamos tendo atenção com o Guarujá, por exemplo. Pode ter um bairro ou outro em situação pior. Por isso, o mosquitão está lá. Também estamos no pedágio distribuindo folhetos sobre os cuidados nas casas de veraneio, pedindo às pessoas que verifiquem se há recipientes ou condições que favoreçam o surgimento de criadouro do mosquito. A gente precisa continuar o trabalho. No Litoral Norte, não há um município que exija trabalho especial.

APJ - A dengue tem sua proliferação diretamente relacionada ao clima. Com as chuvas e o calor chegando antes mesmo do fim da primavera, aumenta o risco?
BARRADAS - Isso é que nos preocupa. Estamos com uma primavera extremamente quente e chuvosa. E isso facilita a proliferação do mosquito. Todos os meteorologistas dizem que o verão será muito quente e chuvoso. Ou seja, ou a gente elimina agora os focos de criação e mata os mosquitos no final da primavera ou vamos enfrentar problemas sérios no verão.

APJ - O Estado recorreu a estratégias como o uso de torpedos para alertar a população. Isso voltará a ocorrer?
BARRADAS - Fizemos um acordo com a operadora de celular Vivo para que enviem alertas aos usuários. O objetivo é mobilizar a população mesmo e este tipo de comunicação funciona muito. As pessoas precisam ficar atentas e devem lembrar sempre que o cuidado deve ser permanente.




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