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O silêncio é de ouro

O debate da Rede Bandeirantes deve ser analisado não pelo que foi dito, mas pelo que não se disse

Por Carlos Brickmann
08/08/2010 | 00:00
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O debate da Rede Bandeirantes deve ser analisado não pelo que foi dito, mas pelo que não se disse. O Samu das criancinhas, as varizes, o poema de Marina eram dispensáveis. Todos eram contra o crack - mas como combatê-lo? Como lidar com os cocaleros bolivianos? Os ataques criminosos em São Paulo, que se orgulha da redução de homicídios, não valem discussão? E, com duas mulheres candidatas, não se fala na condenação à morte, por apedrejamento, de uma mulher no Irã, viúva acusada de ter tido sexo sem casamento com o novo parceiro?

Corrupção? Câmbio? O auxílio generoso a estrangeiros, sem que essa generosidade tenha sido estendida aos brasileiros? As CPIs sepultadas por maiorias obedientes na Assembleia paulista e no Congresso? E que lugar melhor do que um debate em rede nacional de TV para exigir que o candidato José Serra prove a ligação do PT da candidata Dilma Rousseff com os narcoguerrilheiros das Farc, denunciadas por seu vice Índio da Costa e endossadas por ele?

E deixaram Plínio de Arruda Sampaio posar de radical de esquerda - ele, que foi secretário e braço direito do governador paulista Carvalho Pinto, a moderação em pessoa; que foi secretário do prefeito paulistano Prestes Maia, cuja maior proximidade com a esquerda era a mulher comunista; que foi colega do moderadíssimo Franco Montoro no ultramoderadérrimo Partido Democrata Cristão. Dizem que os jovens são incendiários e, à medida em que ganham experiência, se transformam em bombeiros. Por que deixar Plínio posar de Benjamin Button?

VICE-VERSA E VERSA-VICE

Apagões aéreos tendem a gerar grandes frases. Foi num apagão aéreo que a então ministra Marta Suplicy sugeriu aos passageiros abandonados o seu imortal

"relaxa e goza". E no apagão atual quem se destaca é o ministro do Turismo, Luiz Barreto: ele garantiu que os atrasos dos aviões foram um problema pontual. O ministro está enganado: o problema é que nos voos da Gol nada foi pontual.

ACORDA, VICE!

O vice-presidente José Alencar insiste em prejudicar sua própria biografia, até agora exemplar, no caso da senhora que pede que ele a reconheça como filha. Além de se negar ao exame de DNA, que resolveria o caso, continua insultando a mãe da possível filha, chamando-a de prostituta. Afirmou que é absurdo pedir exame de DNA a todos os que estiveram na zona. Pois é: se ele estava na zona, se a moça estava na zona, e ambos na zona se encontraram, por que só ela sofre tentativa de desmoralização? E tudo na vida tem seus riscos. Pode-se, por exemplo, gerar uma filha inesperada, e que nem por isso deixa de ser filha.

O CIGARRO NA JUSTIÇA

A sentença ainda não é definitiva: há recursos possíveis. Mas, em primeira instância, a Cia. de Cigarros Souza Cruz foi condenada a pagar as despesas de tratamento de saúde, mais honorários de advogado, mais reparação de R$ 500 mil aos herdeiros de uma senhora que fumou por 40 anos e morreu devido ao vício. De acordo com a sentença, a Souza Cruz sabia desde 1964 dos riscos do cigarro, e estaria obrigada "a ser transparente e advertir a respeito, o que visivelmente e declaradamente não fez". A sentença histórica pode ser encontrada no ótimo portal jurídico www.espacovital.com.br.

PROMOTORES EM TUDO

O Ministério Público Federal recomenda que as redes providenciem, para os debates, um intérprete de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) e também legendas, estas para que os surdos que não entendem sinais possam assistir ao programa. E ameaça: se a recomendação não for atendida, moverá ação civil pública. A exigência é assinada pela procuradora Eugênia Fávero e pelo procurador regional eleitoral em São Paulo, Pedro Barbosa Pereira Neto. OK, a idéia é ótima - mas como produzir legendas num programa ao vivo? Produzir legendas exige algum tempo. E mexer com TV exige conhecimento de TV.




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