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Zuenir Ventura, um crítico otimista
Jean Oliveira
Especial para o Diário
22/08/2010 | 07:14
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O escritor e jornalista Zuenir Ventura credita às falhas estruturais da educação do Brasil a dificuldade da nação em criar um País de leitores. Crítico das políticas de alfabetização, ele afirma que é preciso rever a forma com que se trata a literatura nos bancos escolares.

Mas, apesar de também se dizer preocupado com as mudanças nas leis ambientais e decretar que a atual geração perdeu o sonho de mudar a História, ele se diz otimista. "Todos os nossos problemas podem ser resolvidos com vontade política".

Zuenir, que hoje mora no Rio, nasceu em Além Paraíba (MG), em 1931. Trabalhou em publicações como O Globo, Jornal do Brasil, Veja e Época. Foi aluno de Manuel Bandeira na Universidade Federal do Rio, com quem tinha aulas de literatura hispano-americana.

Com Cidade Partida (1994), um retrato da violência no Rio, venceu o Prêmio Jabuti na categoria reportagem. Em 2008, lançou 1968: O Que Fizemos de Nós, que retoma uma de suas obras mais conhecidas, 1968: O Ano que Não Terminou (1988).

O fracasso do socialismo não significa necessariamente a vitória do capitalismo. Esta é uma das discussões presentes no livro Conversa Sobre o Tempo (Editora Agir), que o senhor assina ao lado de Luís Fernando Veríssimo. Como é esta nova obra?
ZUENIR VENTURA - Foi um livro muito interessante, em que o (jornalista) Arthur Dapieve mediou nossas discussões. A gente discute sobre família, política, paixões e morte.

O senhor acredita que o Brasil lê o suficiente para estar bem informado?
ZUENIR
- Não, não lê! Nem para estar bem informado sobre os acontecimentos, a cultura, nem a história. É um País que, realmente, lê muito pouco. Claro que hoje, segundo as estatísticas, o brasileiro está lendo mais do que lia há algum tempo. Isso é bom, mas ainda é muito pouco.

Por que os brasileiros leem tão pouco?
ZUENIR
- Vários fatores contribuem para isso. Primeiro, o poder aquisitivo é baixo. Mas, também, nos falta uma cultura para a leitura. Os jovens não têm o costume, nem um ambiente propício, em suas casas, para praticar a leitura. E nem sempre as escolas, o ensino em todos os níveis, consegue atrair os jovens para a literatura, a informação impressa. A leitura tem que ser um prazer, não um dever!

O nosso sistema educacional falha, então, na formação de leitores e de cidadãos?
ZUENIR
- A gente começa a ler por meio de uma boa alfabetização. Por isso, a gente tem que ver a má qualidade do nosso ensino, desde a base até a universidade. Os países que tratam a educação como um instrumento de formação de conhecimento, enfim como patrimônio, mostram que quando há formação, tem gente lendo. O nível de leitura é melhor. Então, é claro que deve existir um envolvimento maior da imprensa, mas há de haver, sobretudo, engajamento das universidades, das escolas.

O senhor acredita que a imprensa deveria ser mais engajada nesse processo de formação de leitores por meio de iniciativas próprias ou de aprofundamento de discussões sobre cultura e literatura, por exemplo?
ZUENIR - Não se pode atribuir à imprensa o que não é papel dela. O trabalho da imprensa não é fazer esse trabalho pedagógico, embora haja sempre em uma notícia uma dimensão didática. Ela está sempre passando uma informação. Mas isso é papel da universidade, da sociedade. Não se pode jogar para imprensa esta responsabilidade. É claro que as mídias, principalmente as impressas, colaboram, mas elas trabalham com a notícia. O menino vai aprender a ler na escola, não lendo jornal ou vendo televisão. É claro que estas mídias são importantes, mas apenas como complementação.

O senhor abordou no livro 1968: O Ano que Não Terminou,os anseios e as lutas de uma geração que queria mudar o mundo. Em 2008, porém, o senhor escreveu 1968 - O que Fizemos de Nós, comparando os jovens do passado com os atuais. Quais são as principais diferenças e semelhanças encontradas por meio da sua pesquisa?
ZUENIR - Olha, há muitas diferenças. Elas são mais marcantes que as semelhanças. A principal diferença é que a geração atual é menos interessada em política e mais voltada para si mesma. Isso faz parte também de uma cultura geral atual em que as pessoas estão muito menos preocupadas com as outras, com a coletividade. Pensam mais em si mesmas. É claro que há vários fatores que contribuem para isso. O principal deles é que a política, hoje, não seduz como antigamente. Ela (a política) não é um grande atrativo para o jovem, principalmente por causa da corrupção e das notícias diárias de baixaria nesse meio.

A forma com que a imprensa aborda a política, focando os escândalos, colabora para o distanciamento do jovem, e da população em geral, da política?
ZUENIR - Quem colabora (para este distanciamento) é a realidade! O que a imprensa faz é apenas refletir uma realidade. Então, as pessoas reclamam que na cobertura da mídia só tem corrupção e escândalo nas primeiras páginas. Mas, quem faz isso não é o jornal, pois ele não inventa essas notícias. É que hoje a gente tem uma liberdade de imprensa. Então, hoje se noticia tudo! Em 1968, você tinha a censura e você não sabia o que estava acontecendo porque não se podia noticiar. Hoje, você tem um País em que as chagas, os flagelos e as más notícias estão sempre expostos. É um País com nervo exposto. Tudo é noticiado. E daí, este cheiro, talvez ruim, que exala da realidade por meio das notícias, mas é uma ferida que tem que estar aberta mesmo.

O senhor é otimista com o futuro do Brasil?
ZUENIR
- Sim, estou e sou otimista com o futuro do nosso País e do Rio de Janeiro, aonde moro. Estou otimista, primeiro porque moramos em um País que, como diz a música, é abençoado por Deus, e não tem grandes catástrofes, guerras internas por causa de religião, cor de pele, cor dos olhos. Claro que temos algumas tragédias, como as recentes enchentes, mas todos os nossos problemas podem ser resolvidos com vontade política.




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