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Uma longa espera

Anderson Vieira desapareceu há 16 anos em S.Bernardo; mãe ainda procura forças para tentar encontrá-lo

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
01/09/2019 | 07:02
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Nario Barbosa/DGABC


Transformar o silêncio que se estende há quase 16 anos, a dúvida de possível reencontro e a esperança em luta fazem parte do dia a dia da vida da dona de casa Marli Vieira, 62 anos. Moradora do Parque Selecta, em São Bernardo, desde o dia 28 de outubro de 2003, uma terça-feira, o filho da técnica de enfermagem aposentada, Anderson Vieira Rodrigues, na época com 28 anos, desapareceu, por volta das 15h, e nunca mais foi visto.

Embora portador de deficiência mental (oligofrenia) e autismo, Anderson estudava, realizava o tratamento de equoterapia e jogava bola no Jardim Palermo, onde a família morava.

Já apresentando histórico de ter fugido outras vezes, no dia do último desaparecimento, Marli só percebeu que o filho não tinha retornado para casa no início da noite. E então resolveu tomar providências. “Fui até a delegacia já sem notícias do meu filho. Quando cheguei, pediram para esperar pelo menos 24 horas para fazer o BO (Boletim de Ocorrência), mas insisti que fizessem naquele momento. Era meu filho e o tempo estava passando. O Anderson tinha 28 anos, mas o seu QI (quociente de inteligência) era de uma criança de 6 a 8 anos”, compara.

Marli, que é mãe de mais duas filhas e avó de três netos, tenta seguir em frente após a morte do marido há dois anos e meio. “Apesar de todas as dificuldades que tenho enfrentado, nunca perdi as esperanças. Quero reencontrá-lo antes de partir deste mundo”, ressalta.

Ainda na época, a dona de casa conta que procurou a ABCD (Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas), mais conhecida como Mães da Sé, um movimento permanente de mães que buscam encontrar seus filhos e auxiliam outras famílias igualmente em casos de desaparecimento. “Me juntei às Mães da Sé no ano do desaparecimento do Anderson e fiquei por pelo menos quatro anos. Meu marido me ajudava muito, mas precisei abandonar, pois adoeci tempos depois”, comenta.

Hoje, a dona de casa lamenta por não ter mais a mesma disposição para seguir à procura do filho, devido a um câncer no pulmão e seu tratamento semanal. “Com as minhas condições, não consigo ir aos encontros (da Mães da Sé). Fazemos as progressões nas fotos de como o Anderson estaria hoje e divulgamos. Mas cada vez fica mais difícil”, conta. Marli ainda fala sobre a relação que tinha com o filho. “Ele era muito apegado comigo, me ajudava, estava sempre por aqui”, finaliza.

CENÁRIO
Segundo dados obtidos pelo Diário pela Lei de Acesso à Informação, constam registrados no período de janeiro a junho (primeiro semestre) deste ano, em todo o Grande ABC, total de 446 ocorrências sobre o desaparecimento de pessoas.

A delegada titular da 4ª Delegacia de Investigações sobre Pessoas Desaparecidas, Maria Helena do Nascimento, diz que ainda no primeiro semestre de 2019, em todo o Estado de São Paulo, foram registradas 12.381 ocorrências por desaparecimento.

“Observando o cenário geral que recebemos, alguns casos de crianças que desaparecem, muitas vezes, são por questões de conflitos em casa, como, por exemplo, a separação dos pais. Outros casos de adolescentes também, como conflitos familiares, maus-tratos ou por quererem ser donos de si mesmos, o que acontece muitas vezes”, ressalta. Já no cenário de desaparecimento de adultos, muitas vezes são por motivos de drogas ou alcoolismo.

Maria Helena ainda comenta sobre a importância de registrar o BO. “É fundamental se dirigir à delegacia mais próxima ou (acessar a) delegacia eletrônica. Prestar todas as informações possíveis, como roupas, tatuagens e objetos. Além disso, também é necessário que faça o boletim de encontro, caso a pessoa retorne.”

Site para cadastro nacional está desatualizado

O site para realizar o cadastro nacional dos desaparecimentos de crianças e adolescentes está com problemas na atualização, pelo menos desde 2014.

Advogado especialista em direitos da criança e do adolescente e membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo, Ariel de Castro Alves destaca a importância deste cadastro estar em dia para a procura dos desaparecidos. “Além da desatualização, o cadastro já apresentou problema de instabilidade quando ficou fora do ar em 2018. Neste ano, voltou a funcionar, porém, apenas com 64 casos cadastrados em 14 Estados”, comenta.

Ariel ainda conta que, desde 2009, ano em que entrou a vigor, até hoje, nunca teve uma efetividade de cadastro. “Em dez anos, nunca funcionou completamente. Já faz anos que órgãos reivindicam a solução desses problemas, mas nunca melhorou”, lamenta.

Além disso, o advogado destaca que existem outros registros no País, de outras categorias, funcionando diariamente. “O cadastro nacional com esse objetivo certamente seria um banco de dados fundamental. O Brasil já tem cadastro de veículos roubados, imóveis, mas para isso não funciona. A ausência de cadastros gera ainda mais angústia e desespero aos familiares, e acaba diminuindo as chances de encontrá-las”, finaliza.

Criado no dia 17 de dezembro de 2009, pela Lei 12.127, e lançado pelo governo federal no ano seguinte, o cadastro nacional pode ser acessado pelo link www.desaparecidos.gov.br.




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