Cotidiano Titulo COTIDIANO
Aqui o conhecimento vira cinzas
Por Rodolfo de Souza
06/09/2018 | 07:00
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Mais um museu se perde nas chamas da noite. Acervo de milhões de peças é consumido pelo fogo insensível, que não hesita em destruir o que é belo e de inestimável valor. Talvez porque não saiba mesmo o que faz é que devora o bom e poupa o mau.

O mau que dizimou o museu veio na forma de uma praga devoradora de recursos, que teria deixado à míngua todo aquele conjunto que pertencia à Cultura brasileira, valiosa Cultura. Note, amigo leitor, como é prática comum neste País atentar contra tudo o que leva ao conhecimento, prato que falta na mesa do brasileiro que dele poderia se fartar e, uma vez bem alimentado, acordar do ostracismo que o torna tão infeliz. 

Como se sabe, as universidades estão entregues às traças! Mas que importância tem isso, afinal? A Educação Básica nesta terra de meu Deus há muito foi abandonada em prol das futilidades que não exigem muito do pensamento. 

Falta, como sempre faltou, vontade política para investir num setor cujo crescimento interessa a poucas pessoas. E o resultado do descaso com ele é sentido nas urnas em que se coloca sempre o número dos mesmos candidatos. Desta forma, a coisa segue o roteiro escrito por uma minoria que prima pela pouca sabedoria do povo, que lhe garante a manutenção do poder. Normalmente é esta minoria, a tal consumidora de recursos, que desdenha da importância do que se perdeu nas chamas. 

E a gente de parco saber se enternece por causa do sinistro, mas logo volta a sorrir um sorriso banguelo, sem compreender que dependemos da expansão da inteligência para construir uma sociedade melhor.

Logicamente que nem todas as pessoas dividem comigo ou com você este anseio, amigo, uma vez que tudo é felicidade na bolha que abriga uma pequena parcela. É gente satisfeita com a conjuntura, que só sente alguma apreensão diante da possibilidade de alguém de fora da redoma vir a ascender na corrida desenfreada para o sucesso, aparentemente concebido somente para alguns.

E é justamente neste ponto onde é possível encontrar o dedo sujo de quem luta para manter as coisas como estão. Povo, afinal, é povo, feito só para servir e obedecer, sem jamais questionar e, muito menos, contestar. Por isso, é melhor que continue assim, com a mente envolvida em assuntos banais que lhe ofuscam a visão e não lhe permitem enxergar a realidade dos fatos. É este o conceito que tem de povo, portanto, aquele que se empenha em trabalhar contra o progresso desta imensa Nação, que é feita de povo.

E o museu se foi, levando consigo milênios de história deste nosso chão e de outras terras também. Mas veja, sobrou o meteorito! E por que não haveria de sobreviver em meio a um fogo tão brando, objeto que colidiu, um dia, com a atmosfera deste planeta? 

Ele é duro na queda, maciço, insensível tal qual o fogo, elemento da natureza que devorou o conhecimento, embora, não todo ele. Resta-nos a esperança de que há ainda muita coisa e muita gente em busca daquilo que pode representar a liberdade. E a destruição do que guardava o museu não deve ser empecilho para esta conquista. Somente mais uma tragédia para mostrar ao mundo o descaso com os verdadeiros valores desta Pátria. Só isso. 




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