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Região precisa de outro Hospital Mário Covas, diz superintendente

Unidade de Saúde completa 14 anos e tem como desafio atender demanda crescente

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
19/11/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Segundo maior equipamento de Saúde do Estado, o Hospital Mário Covas, de Santo André, completa amanhã 14 anos de funcionamento com a tarefa principal, ao longo desse período, de atender à demanda que necessita de cirurgias de alta complexidade, vinda das sete cidades. Mas, para dar conta do recado, o Grande ABC precisaria de pelo menos mais uma unidade similar. A afirmação é do superintendente Desiré Carlos Callegari.

“Antes (da inserção do Mário Covas), a gente vivia de mandar a alta complexidade para o Hospital das Clínicas e outros da Capital. Com a vinda dele, nenhum caso hoje, a menos que seja por falta de vagas, precisa ser encaminhado para fora da região. O que a gente sente é que nesses 14 anos ele até ficou pequeno para a demanda que existe, precisaríamos de outros”, disse Callegari ontem, durante sessão solene na Câmara andreense em homenagem ao aniversário do hospital. De 2001 para cá, a população aumentou 17,39%, passando de 2,3 milhões de pessoas para 2,7 milhões. “Essa região tem quase 3 milhões de habitantes e é rodeada de rodovias que causam acidentes. Ainda tem a situação urbana, que provoca doenças coronarianas, ou seja, hoje temos uma demanda grande de alta complexidade. Não vejo que o Mário Covas seja a solução, precisamos de outros. Mais um hospital do mesmo porte já seria suficiente para que a gente não tivesse as filas da alta complexidade que hoje existem”, acrescentou. A unidade foi uma das pioneiras sob a administração de uma organização social de Saúde, a Fundação do ABC.

A especialidade do equipamento é a cirurgia de alta complexidade em ortopedia (que possui a maior demanda, com média mensal de 1.800 consultas), neurocirurgia, cardiovascular, aparelho digestivo e urologia, além de oncologia clínica adulto e infantil.

Mesmo com atendimento no limite, a situação dos pacientes seria extremamente crítica se não existisse o Hospital Mário Covas, segundo especialistas. “Certamente a Saúde no Grande ABC poderia sofrer um colapso. Não há outro com tamanha estrutura e especialidades em atendimento”, destacou o professor da Escola de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo Victor Hugo Bigoli.

“Sem esse equipamento, os hospitais da Capital estariam superlotados”, avalia a professora de Saúde Coletiva da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Vânia Barbosa do Nascimento. Ela pontua que, de 2001 para cá, os municípios aprimoraram seus atendimentos de média complexidade, contribuindo para que o Mário Covas tente suprir a deficiência que existe em termos de internação para os casos mais complexos. Porém, salientou que seria necessário planejamento integrado na região “para definir melhor que áreas não estamos conseguindo atender e investir nelas”.

Apesar da necessidade de mais unidades similares, fazer o projeto sair do papel é extremamente difícil e o Mário Covas é prova disso. O prédio começou a ser construído em 1976, denominado como Hospital Regional de Clínicas. Sofreu várias interrupções por falta de recursos até que, em 1991, foi totalmente paralisado, sendo retomado somente nos anos 2000. O compromisso de efetivar a obra foi promessa de campanha do governador eleito para assumir o mandato em 1995 Mário Covas (do PSDB, morto em março de 2001, antes da inauguração). A entrega foi feita pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o então prefeito Celso Daniel (PT – morto em 2002) em novembro de 2001. “Covas declarou que não começaria nenhuma obra enquanto não estivessem terminados os esqueletos de 18 hospitais inacabados”, lembrou o então secretário estadual de Saúde, José da Silva Guedes.

Mais que ampliação de atendimento, ele ressalta que o hospital também impacta na formação de profissionais da FMABC, mantida pela Fundação do ABC. “Ao mesmo tempo em que era momento de melhorar a assistência, beneficiava também a qualidade de ensino. A FMABC certamente melhorou muito as suas características depois de ter o Hospital Mário Covas”, disse Guedes.

O hospital foi construído para ter 350 leitos, mas possui 332 e há mais 14 em fase de implantação, com previsão de entrega para o início de 2016. “Existe projeto, que já foi entregue para o Estado, para fazer um anexo com a parte administrativa e ganhar 1.200 m² de área para mais enfermarias. Esse plano está há dois anos em poder do Estado para que seja executado e estamos esperando um melhor momento financeiro para fazer”, afirmou Callegari.

O orçamento do hospital previsto para 2015 é de R$ 164 milhões, sendo 50% para custeio de pessoal, 25% para serviços (exames), e 23,2% para material de consumo e o restante para despesas diversas. “Hoje o que se gasta anualmente no Hospital Mário Covas, constrói um hospital e meio por ano”, frisou o coordenador de Serviços de Saúde do Estado, Geraldo Reple Sobrinho, que foi superintendente da unidade por uma década.

Farmácia ainda é o principal gargalo

Passados 14 anos de atuação, a Farmácia de Alto Custo ainda é o principal gargalo do Hospital Estadual Mário Covas. O cenário é de longas filas de espera, que chegam a durar quatro horas, para a retirada de remédios. Quem tem ‘sorte’ aguarda sentado, mas, como há mais pessoas que assentos, a maioria fica em pé. Os ventiladores instalados no espaço não dão conta do abafamento, o que causa ainda mais desconforto. E quem acha a situação caótica e quer documentar por meio de foto ou filmagem, não pode: na sala, cartazes advertem a proibição do registro de imagens e vídeos.

A farmácia, que disponibiliza 247 tipos de medicamentos, atende 36 mil pessoas por mês, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Com o objetivo de proporcionar mais comodidade aos usuários, passou a agendar data e hora para a dispensação das medicações. No entanto, a aglomeração permanece. A corretora de imóveis Michele Gavassa, 40 anos , moradora de Santo André, estava agendada na terça-feira no primeiro horário, às 7h, para pegar medicamento de tratamento de pele para o filho. “Saí de lá às 9h20. Nada mudou com o agendamento, as filas ainda são imensas e a espera é de no mínimo três horas”, contou.

O transtorno se agrava quando, depois de muito aguardar, o paciente com hora marcada é informado que o remédio está em falta. “Estávamos marcados para as 15h, ficamos uma hora e dez minutos na fila para pegar uma medicação para colesterol e, ao chegar no balcão, não tinha o remédio”, reclamou a aposentada Therezinha Leite Ruanes, 64, de São Bernardo.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, com o agendamento “foi possível constatar melhoria no tempo de espera, com redução de até 40%”. Sobre as filas que persistem, a Pasta argumenta que muitos pacientes ainda não respeitam as datas e horários marcados e comparecem à farmácia sem agendamento, sobrecarregando o atendimento planejado. “Mesmo assim, a unidade não deixou de atender e distribuir os medicamentos, entretanto, com um tempo de espera maior para os pacientes sem agendamento”, declarou, completando: “Outro fato relevante que deve ser levado em consideração é que, em razão dos feriados, o mês de novembro possui apenas 19 dias úteis, portanto, estima-se que haverá aumento no número de pacientes agendados por dia.”

Com relação à descentralização da entrega, a Pasta afirmou que está em contato constante com os municípios da região, “analisando e discutindo todas as propostas apresentadas”. “As alternativas estão sendo definidas e a secretaria, em conjunto com as prefeituras, optará pela opção de distribuição que atenda às necessidades dos pacientes”, concluiu, em nota. 




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