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Barcelona, orgulho dos moradores
Henrique Munhos
Especial para o Diário
11/04/2011 | 07:00
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Edmilson Magalhães/DGABC


A cidade de Barcelona, na Espanha, tem como uma das principais características o nacionalismo pela Catalunha, uma comunidade autônoma que possui bandeira e idioma específicos.

O bairro Barcelona, em São Caetano, não tem aspirações de se tornar autônomo, assim como não tem bandeira e idioma próprios. Porém, todos os seus habitantes se enchem de orgulho. "É o melhor bairro de São Caetano, se não for o do Grande ABC", exclamou o diretor de vendas Paschoal Ricci Netto, 62 anos.

Netto foi uma espécie de guia do bairro para a equipe do Diário. Apresentou as pessoas mais antigas do Barcelona e os lugares mais visitados, além de contar das mudanças sofridas pelo bairro ao longo dos anos. Não era para menos. Fortunato Ricci, bisavô de Paschoal, foi um dos fundadores do Barcelona.

O neto nasceu no bairro são-caetanense, e viveu todo o progresso industrial pelo qual passou ao longo das décadas. "As ruas aqui eram todas de terra. Agora, temos um comércio atuante e avançamos muito com a atuação da General Motors", contou o diretor de vendas.

Assim como é característica de praticamente toda a cidade de São Caetano, a maior parte da população do bairro Barcelona é formada por idosos. Com isso, amizades de muito tempo foram pavimentadas. Comerciantes também mantiveram seus negócios por muito tempo, conquistando a clientela vizinha.

Este é o caso do quitandeiro Massao Oshiro, 52. Nascido no próprio bairro, o comércio surgiu antes mesmo de seu nascimento. "A quitanda foi do meu avô. E existe pelos menos há 50 anos", afirmou.

Por estar há muito tempo no Barcelona, Oshiro já é conhecido dos habitantes do bairro e por isso sua quitanda vive bem movimentada. Porém, até por ser um comércio de pequeno porte, o lojista tem os pés no chão e não aposta em uma ampliação do negócio. "Trabalho só com hortifrutigranjeiros, pois não tenho como competir com a concorrência em outros alimentos."

A segurança do bairro é ressaltada pelo comerciante, que se queixa somente da falta de um estacionamento. "Meus clientes não têm onde parar o carro. Nem eu tenho um estacionamento próprio, já que não tenho garagem. Com isso, tenho de pagar todo mês para parar meu carro."

Por se conhecerem há muitos anos, os habitantes do Barcelona prezam pela solidariedade. "Aqui o pessoal é muito gente boa. Sempre que alguém precisa, outro vem e ajuda", disse o imobiliário Elcio Ribeiro, 60.

Outra reclamação dos moradores do bairro foi a respeito da bagunça proporcionada pelos estudantes da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), no período noturno.

"Eles fecham as ruas, estacionam na frente das garagens e fazem um barulho muito grande. Muitos estão saindo de lá para morar em outros pontos do bairro. Eu mesmo fui um deles", declarou Ribeiro, que saiu de perto da universidade há seis anos.

 

 

O urbanismo de S.Caetano passa por aqui

 

Dois antigos loteamentos formam a estrutura básica do bairro Barcelona: as vilas Barcelona e Ressaca. Mesmo assim, partes consideráveis dos dois loteamentos originais integram bairros vizinhos, casos de Santa Paula, Santa Maria e Olímpico. Com núcleo urbano, Barcelona é um dos mais antigos bairros de São Caetano, reportando-se ao início dos anos 1920. Como espaço rural, o nome Ressaca já é conhecido no século 18.

A Vila Barcelona foi loteada pela Sociedade Anônima Fábrica Votorantim, com 70 quadras. A Votorantim chegou a construir várias casas, vendendo-as diretamente aos primeiros moradores.

As terras que constituem a vila pertenciam ao Banco União de São Paulo. Sua massa falida foi adquirida por Antonio Pereira Inácio. Coube a ele mandar lotear os terrenos da Barcelona, segundo o professor José de Souza Martins, que manuseou a documentação sobre o assunto na secretaria da Justiça.

Ao longo dos anos 1920 a venda de casas e lotes é feita diretamente pela Votorantim. A partir dos anos 1930, começam a aparecer as empresas intermediárias, como a Companhia Bandeirantes de Terrenos e Construções. A família Ricci foi uma das primeiras do bairro, ali se instalando em 1921. Moradores que chegaram na década de 1930 permanecem no bairro, entre as quais os Milani, Rossini e Mosca. No final dos anos 1940 já havia energia elétrica.

Nos anos 1950, as necessidades do bairro eram muitas. Nasce a SAB (Sociedade Amigos do Bairro) local e ruas importantes, como a Alegre e a Joana Angélica, necessitavam de infraestrutura. Água encanada e esgoto só viriam nos últimos anos da década e a pavimentação da maior parte das ruas teria que esperar pelos anos 1960. A agência dos Correios chega em 1979 e na década seguinte aparecem as agências bancárias.

Colhemos vários depoimentos de antigos moradores, entre eles Felício Ricci, que nos disse, em 1976: "Costumava caçar passarinhos num lodaçal que existia na /CWCW15área da General Motors e de toda a frente da fábrica, na baixada da ‘Vila Paula'. Ali era um pântano, com muito bentevi, bico-de-lacre, papa-capim. Na seca a gente caçava preá".

Luís Pereira, astro do Palmeiras e da Seleção Brasileira, criou-se nas ruas e várzeas de ‘Vila Barcelona'. E até 1948, pelo menos, ainda havia vacaria na Rua Conselheiro Lafaiete, como nos contou outro antigo morador, Lecarião Pereira de Melo. (Ademir Medici)

 

Padaria de portugueses é referência até fora do bairro

 

Se você perguntar para qualquer morador do Barcelona qual é o ponto mais frequentado do bairro, com certeza, a padaria Canoa, dos irmãos portugueses Antonio e José Duarte, 78 e 69 anos, respectivamente, será citada.

A fama do comércio não fica só na cidade. "Vem gente de fora para comprar os pães e doces ou comer os lanches", afirmou Antonio. Bairros de Santo André, vizinhos ao Barcelona, estão entre os principais clientes.

Os irmãos são donos da padaria desde 1966. Portanto, viram o avanço das últimas cinco décadas. "Mudou para melhor a infraestrutura e a condição de vida. Sempre gostei daqui," contou Antonio.

O companheirismo entre os irmãos foi confirmado no momento em que o Diário os procurou. Cada um afirmou que quem era o dono da padaria era o outro. Depois de alguns minutos, Antonio aceitou conversar. Porém, para a fotografia, nada feito. "Nós dois somos os donos daqui. Sem ele eu não vou tirar foto, não", ressaltou.

 Preço bom e alimentos de qualidade são os motivos do sucesso, segundo Antonio. "Não fica nada aqui de um dia para o outro". O comerciante não pensa em novos planos para a padaria. "Está muito bom assim. Vou mudar para quê?", questinou. (Henrique Munhos)




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