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Inquérito do PCC esbarra em juízes
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
07/12/2006 | 00:40
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O inquérito 974/06 da Dise (Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes) de Santo André que investiga lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital) esbarrou no poder público de Mauá. A apuração da Polícia Civil, que começou em junho, é sobre a utilização de postos que vendem combustível adulterado para ‘limpar’ dinheiro proveniente do tráfico de drogas. Durante os cinco meses de investigação, foram interceptadas conversas telefônicas em que os suspeitos dizem influenciar nas decisões de uma juíza da cidade. Outra magistrada faz várias ligações para um dos investigados.

O advogado de um dos supostos membros do esquema, em uma gravação, chega a dizer que toda a cidade pertence ao PCC. “Todo mundo fala que é do PCC. A Prefeitura é PCC. O Fórum é PCC”, diz Marcos Aurélio da Silva a um empresário que teria sofrido um golpe de seu cliente.

Escutas revelam que uma das juízas teria amizade com o empresário Sidnei Garcia, vice-presidente da Associação Comercial de Mauá. Ele foi indiciado por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, e é dono de pelo menos quatro postos de gasolina em nomes de laranjas, segundo a investigação da polícia. Sidnei Garcia teve o telefone grampeado com autorização judicial e, durante o tempo em que foi monitorado, intercala conversas com a magistrada e acusados de pertencerem ao PCC, como Felipe Geremias, o Felipe Alemão – sintonia do PCC – , Gildásio Siqueira Santos e intermediários de Wilson Roberto Cuba, conhecido como Rabugento, preso na penitenciária de segurança máxima de Presidente Venceslau. Rabugento é acusado de chefiar o esquema que envolve, só no Grande ABC, pelo menos 44 postos de gasolina, 38 pessoas, 40 contas bancárias e movimenta R$ 500 mil por mês.

Todos tiveram prisão temporária pedida e negada pela 4ª Vara Criminal de Santo André, no dia 24 de novembro. O juiz Celso Maziteli Neto alegou falta de específico enquadramento nos artigos da lei 7.960/89. Ou seja, considerou que a polícia não qualificou o crime cometido por cada um dos acusados.

Durante investigações, a Dise realizou operação em outubro em que foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão na loja de veículos Tonhos, na avenida Barão de Mauá. Foram apreendidos 22 carros. A Tonhos, que funcionava de forma irregular, era uma extensão, segundo a polícia, da loja Sidmar Comércio de Veículos Ltda., propriedade de Sidnei Garcia. Dois dias após a prisão, Marcelino Soares da Silva, um segurança da loja que havia sido preso acusado de porte ilegal de arma, teve liberdade provisória concedida pela juíza amiga de Sidnei Garcia. Apesar de atuar em Mauá, despachou num domingo em Santo André.

A magistrada negou entrevista e não informou ao Diário se estava em dia de plantão em Santo André. No documento de liberação, de número 114/06, ela justifica a decisão dizendo que o veículo tinha documentação regular e que Marcelino Soares tem residência fixa, ocupação lícita e que o delito de porte de arma não ocorreu com emprego de violência. Sidnei Garcia nega conhecer o segurança preso e o elo entre a Tonhos Veículos e a Sidmar.

Outra magistrada também é citada nos grampos pelo advogado investigado pela Dise, Umberto de Almeida Oliveira, como a “juíza amiga” que conseguiu uma liminar favorável depois de Gildásio Siqueira aplicar um golpe num empresário de Santo André. O caso em questão é processo de reintegração de posse de uma casa em um condomínio fechado em Mauá, avaliada em R$ 600 mil, movido por Gildásio – apontado pela polícia como um dos articuladores da máfia dos postos de gasolina – contra o empresário Douglas Martins do Prado. A sentença foi favorável a Gildásio e acabou reafirmada pelo Tribunal de Justiça.

O empresário Douglas do Prado alega ter quitado o negócio. Uma das provas anexadas no inquérito pelo empresário é a gravação de uma conversa entre ele e Gildásio. Na fita, Gil, como é conhecido, diz em determinado momento que “quem paga mal, paga duas vezes” e tenta fazer um acordo, em que propõe que o empresário recompre a casa que deu como parte de pagamento, com um ágio de R$ 90 mil. “Aí você esquece o processo”, diz Gildásio na gravação.

A Procuradoria-Geral do Estado informou que a competência para investigar juízes é da Corregedoria do TJ ( Tribunal de Justiça). O TJ, por sua vez, afirmou por meio da assessoria de imprensa que não se manifestaria sobre o caso. A Dise não se pronunciou sobre o inquérito. Roberto Wider, do Ministério Público de Santo André, afirma que a promotoria só se manifestará quando a investigação estiver terminada.



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