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Técnica ajuda mãe adotiva a amamentar
Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
20/08/2012 | 07:00
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Uma técnica ainda pouco difundida garante às mães não-gestantes o direito de amamentar bebês adotivos. A prática, denominada translactação, também pode ser utilizada por mães biológicas que têm dificuldades de amamentar nos primeiros dias após o nascimento ou quando prematuros não têm força suficiente para sugar o leite materno.

A técnica consiste em colocar no mamilo da mãe uma pequena sonda ligada a um recipiente com leite industrial ou materno. Quando o bebê suga o seio, recebe o conteúdo pelo tubo acoplado. Por meio da sucção contínua, a produção de leite da mulher é estimulada. Desta forma a criança também aprende, gradativamente, a associar o peito materno à alimentação.

Para garantir sucesso, a prática pode ser associada a outras técnicas, como massagens nas mamas e movimento de ordenha manual. Os medicamentos que podem incentivar a produção láctea nas mulheres são os galactogogos. No caso de mães de filhos adotivos, o indicado é que a preparação comece um mês antes da adoção.

Em mães biológicas, a produção do hormônio prolactina, que estimula a produção do leite, tem início durante a gestação. As mães de filhos adotivos conseguem o mesmo com uso da medicação. "Porém, o remédio não faz efeito sozinho. A massagem completa e principal é feita pela boquinha do bebê por meio da translactação, além de a sucção garantir a produção da prolactina", explica a coordenadora de pediatria do HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo e neonatologista da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), Cibele Wolf Lebrão. O hospital dispõe de equipe multidisciplinar treinada para facilitar e apoiar a iniciativa. A esteticista Eliane Santos, moradora do bairro Taboão, conseguiu resultados na primeira semana. (leia ao lado).

A ideia é que a translactação seja utilizada provisoriamente até que a criança se adapte à amamentação, ganhe peso e a produção láctea da mãe esteja em bons níveis. Aos poucos, o bebê conseguirá fazer o exercício correto para sucção do leite e não precisará mais do auxílio da sonda improvisada.

A técnica, além de atender o desejo de muitas mães adotivas, induz a criança a fortalecer o sistema imunológico. "A mãe produzirá igual à mãe biológica. É o mesmo leite. Com isso, a criança tem menos risco de ficar doente, de pegar alergias e conta com todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento saudável", explica Fabíola Bottechia Rinaldi, nutricionista do Ambulatório de Aleitamento Materno do HMU.


Uso da translactação não exige idade limite para início

O lento processo de adoção no Brasil atrapalha o uso da técnica em alguns casos. Muitas mães aguardam meses ou anos pela decisão judicial. Enquanto isso, crianças que estão sob cuidados dos Conselhos Tutelares são acostumadas com ingestão de leite artificial.

Mesmo assim, de acordo com a neonatologista do HMU de São Bernardo, Cibele Wolf Lebrão, não há idade limite para que a criança e a mãe iniciem a técnica juntas. "Quanto antes, melhor. Sempre faremos a tentativa se a mãe manifestar vontade. Se por acaso o bebê não aderir, aconselhamos a não prosseguir com a técnica", explica.

A translactação tem livre demanda. Quanto mais vezes for feita ao dia, melhor. A mãe precisa estar atenta aos sinais de fome da criança, como quando a criança procura o seio, se curva no colo ou faz menção de cheirar o peito.

O esforço que o bebê empenha para conseguir sugar o leite é fundamental para o desenvolvimento correto da dentição e da musculatura da boca. A evolução do processo é avaliada semanalmente com monitoramento do peso, fotos de antes e depois (das mamas e do bebê) e orientações da equipe pediátrica. Estima-se que, a cada mamada, o bebê consiga sugar cerca de 30 mililitros. Por dia, o volume é, em média, de 120 mililitros.

Mesmo com a oferta da assistência gratuita, a procura espontânea das mães pela técnica ainda é rara no hospital. Até hoje apenas três mulheres passaram pelo acompanhamento com seus bebês.

‘Nunca tinha imaginado. É coisa de Deus'
Foi na UBS (Unidade Básica de Saúde) do bairro Taboão, em São Bernardo, que a esteticista Eliane Santos, 36 anos, recebeu as primeiras orientações de como amamentar a pequena Lara, que hoje tem 1 mês e 20 dias. Era apenas a primeira consulta com o pediatra. "Nunca tinha passado pela minha cabeça", confessa. Empolgada com a novidade apresentada pela médica, logo buscou informações no HMU (Hospital Municipal Universitário).

Mesmo condicionada ao leite artificial nos primeiros dias de vida, a criança logo se adaptou à técnica ensinada pelos profissionais do hospital. "Ela queria tanto, procurava tanto (a mama), que se acostumou mais rápido do que eu", disse a mãe. Saudável e com capacidade de gerar outros filhos, Eliane optou pela adoção para satisfazer antigo desejo de ajudar crianças rejeitadas. A decisão teve apoio do marido.

Foi necessária apenas uma semana após a primeira consulta no hospital para que a translactação, aliada à medicação, desse os primeiros sinais.

Os seios aumentaram e a criança ganhou peso. Eliane não encontra palavras para descrever a sensação. "É natureza. Coisa de Deus. Extremamente emocionante. Sou abençoada." A mãe espera ter outros filhos, biológicos ou adotivos, mas declara que o momento é de se dedicar à filha.




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