Cultura & Lazer Titulo
Guerreiros Brasileiros
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
15/08/2005 | 07:57
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Resgatar a auto-estima do brasileiro foi proposta recente de uma campanha da ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes) com o apoio do governo federal. Com o slogan ‘o melhor do Brasil é o brasileiro’, a ação lançada em 2004 agora soa vazia, enlameada pela enxurrada de denúncias de corrupção. É grave, principalmente quando se sabe que a iniciativa respondia a duas pesquisas de opinião. A primeira, realizada em 2002 pelo Sebrae, identificou a baixa auto-estima como um dos pontos fracos do brasileiro. No ano seguinte, outro estudo, o Latibarômetro, confirmava que o brasileiro é o povo com menor auto-estima da América Latina – apenas 4% dos entrevistados declaravam confiar em seus compatriotas.

"Não percam a esperança", disse o presidente Lula ao encerrar seu chocho pedido de desculpas na última sexta-feira. Tarefa difícil, principalmente para os jovens decepcionados, que novamente começam a ser instados a ir às ruas. A inspiração para esses neo-caras-pintadas pode agora estar no passado, na história de brasileiros insuspeitos. Gente que nasceu, cresceu e morreu coerente com seus ideais. E para combater outro cacoete tupiniquim – a falta de memória – chega em boa hora a coleção de biografias A Luta de Cada Um (Instituto Callis, R$ 18 cada).

São seis simpáticos livros que contam a história de brasileiros e brasileiras notáveis que dedicaram sua existência a melhorar o país, em tempos e contextos diversos. Alguns morreram lutando. Seres humanos que aceleraram a rotação do seu tempo, deixaram legados de avanços e hoje correm risco de cair em esquecimento.

Nessa primeira leva estão Pagu, múltipla artista modernista e mulher de vanguarda (o único título que sai por R$ 24); Luiz Gama, mulato baiano abolicionista que venceu obstáculos impostos pela escravidão; Irmã Dulce, religiosa que fez diferença na vida de centenas de soteropolitanos com obras assistenciais; o índio manau Ajuricaba, heróico guerreiro que morreu lutando contra dominadores holandeses; Zumbi, negro símbolo da batalha contra a escravidão no Brasil; e o líder seringueiro Chico Mendes, assassinado por defender os interesses dos povos da floresta.

"A escolha dos autores foi muito importante. Eles teriam de ter paixão pelos biografados para contagiar o jovem leitor com a energia dos personagens", diz Simone Kubric, editora assistente da série do Instituto Callis. "Marcio Souza, por exemplo, é de Manaus e vive a realidade de Chico Mendes. Mabel Velloso é baiana e católica como Irmã Dulce...", completa. Até os lançamentos dos livros foram regionalizados.

A idéia é provocar um intercâmbio de ícones no decorrer da leitura da série. "O adolescente leitor de Salvador que já conhece Luiz Gama poderá se interessar pela paulista Pagu e vice-versa", comenta a editora.

E se o público alvo é jovem – leia-se internauta e consumidor de cultura fast food –, a linguagem foi outra preocupação. Os textos são leves, mas não apelam a recursos fáceis para se tornar bacaninhas. Adultos podem lê-los sem sustos. Colabora para o dinamismo o projeto gráfico de Camila Mesquita. A artista elege uma segunda cor para o volume e segue pontuando os textos com fotos, reproduções, pequenos textos destacados. Tudo bem ao gosto da geração acostumada a hiperlinks.

O Instituto Callis, como de hábito, pretende trabalhar os livros junto a educadores já que funcionam sob medida em sala de aula. Mais informações podem ser obtidas no site www.callis.com.br.




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