Plantação em Cachoeira de Minas é aberta a visitantes; grãos são exportados para Noruega e Itália
Alguma vez na vida já pensou em visitar uma fazenda de café? Não deixe esse desejo de lado, ainda mais quando isso é possível no Estado vizinho ao nosso, e dá para fazer de carro, sem desembolsos exorbitantes. Aos amantes de café e delícias da roça, nada pode ser mais prazeroso. Sem contar que a vista que se tem do topo do cafezal, a 1.050 metros de altitude, com um ‘mar’ de verde distribuído em 40 hectares, é de cair o queixo. Parece uma ‘obra’ inca, com os pés de café simetricamente plantados, separados por variedade, como espécie de Machu Picchu das Minas Gerais, guardadas as devidas proporções e sem as ruínas.
Junto há 43 anos, o casal Mara e Paulo Silva decidiu, em 2006, adaptar a Fazenda São Sebastião, em Cachoeira de Minas (cerca de uma hora de Cambuí, na beira da Rodovia Fernão Dias, e escolhida como base para percorrer o Circuito das Serras Verdes), herança da família, ao turismo rural, estudar o plantio de cafés gourmets e abrir o local ao público. “Até então cuidávamos como se fosse qualquer coisa. Sem estudar, apenas passando adiante a tradição aprendida. Era parte de nossa cultura. Quando descobrimos o quão saudável é o alimento e trocamos as variedades, descobrimos um mundo de possibilidades”, conta ela, enquanto eu anoto atentamente, entre um gole de café colhido a poucos metros de mim e passado na hora, e uma mordida em bolo de laranja fresquinho – que ouso dizer, o melhor que já comi.
“Até então a lavoura era bianual. Quando fomos estudar e nos certificar junto ao Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), descobrimos que, ao deixá-lo descansar por um ano, no período seguinte ela rendia o dobro. Começamos a passar por auditoria para poder exportar nosso café”, diz Mara.
Dos 60 mil pés de café e 500 sacas a dois anos, a fazenda adensou o plantio a 100 mil pés e 1.500 sacas por ano. Todo café é 100% arábica (típico de tempo frio e úmido), e as variedades usam menos agrotóxicos e são mais resistentes aos ventos, além de fornecer madeira – as árvores de café, cujo ciclo dura em torno de 30 anos, vão engrossando com o tempo, e quando não dão mais frutos, se pode aproveitar a madeira. “Desde 2010, produzimos móveis com ela e comercializados. Até então, apenas a queimávamos, como uma madeira qualquer.”
Hoje, o café Pé de Serra é produzido nas modalidades mundo novo, rubi, topázio, bourbon amarelo, catucaí e catuaí. Um contêiner acabou de ser embarcado para a Noruega com a intermediação da Cooper Rita (cooperativa de Santa Rita, cidade vizinha), que guarda e leiloa os cafés mais especiais. “Nosso produto ficou em primeiro lugar em concurso de Santa Rita. Já vendemos microlotes para os Estados Unidos e o Japão. E há cinco anos comercializamos lotes grandes para a Itália. A diferença de preço entre saca mais comum e uma top é quase o dobro, sendo que a primeira custa, por exemplo, R$ 450 e, a segunda, R$ 800. Mas o preço é flutuante, pois é uma commodity. E se consigo maior pontuação na análise, obtenho preço melhor”, explica. É quando Paulo decide passar outro tipo de café para eu provar, desta vez acompanhado de inebriante doce de marolo – fruta local cujo sabor se assemelha ao de marula, mas o aspecto é semelhante à fruta do conde.
Tour intitulado Café: do pé ao bule, com duração de quatro horas, inclui passeio técnico pela lavoura, caminhada pela trilha do palmito e mesa de café rural ao custo de R$ 100 por pessoa, e é realizado aos fins de semana, entre 9h e 16h. É necessário agendar pelo telefone (35) 9 9901-6403. A colheita do café, caso deseje se programar, ocorre de maio a outubro. Se o visitante apenas quiser comprar o café, pacote de 500 gramas (independentemente da variedade) cujo grão é moído na hora sai por R$ 15. Isso é que eu chamo de luxo.
PELA CIDADE - Se quiser explorar mais da cidade gracinha de Cachoeira de Minas, todo segundo e quarto domingos do mês é realizada a feira de artesanato e gastronomia Café com Arte na Praça da Bandeira, onde está a Igreja Matriz São João Batista. Lá também há a Padaria São João, aberta 24 horas, ideal para quando a fome bater.
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