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Brasil exorciza fantasma e põe ouro no peito pela primeira vez

Neymar assume responsabiliade, brilha e, nos pênaltis, dá o único título que faltava à Seleção

Por Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
20/08/2016 | 07:00
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O rabisco sobre o nome de Neymar na camisa de um torcedor recém-apaixonado por Marta e pela Seleção feminina é a imagem que marcou a histórica campanha do Brasil, que terminou ontem com a sonhada medalha de ouro no peito. Foi suada, sofrida e, nos pênaltis, contra os temíveis alemães, após empate por 1 a 1 no tempo normal, que persistiu na prorrogação.

Em seis jogos, os brasileiros aprenderam a odiar e amar os comandados de Rogério Micale. Nos dois primeiros jogos, a bola insistiu em não entrar, a confiança caiu e as críticas subiram na mesma proporção. Era preciso reação ou ter de engolir uma eliminação melancólica. Foi contra a Dinamarca que o Brasil ressurgiu e passou a atropelar os adversários.

O grande teste seria a decisão contra a Alemanha. Não que os europeus botassem medo pelo elenco que trouxe ao Rio – assim como o Brasil, os germânicos também tiveram problemas na liberação de jogadores –, mas pelo peso que a partida tinha. Há 120 anos a Seleção perseguia o ouro olímpico, era a conquista que faltava na galeria da única pentacampeã do mundo.

Além disso, ecoava por todos os cantos o trauma adquirido na semifinal da Copa de 2014, quando os alemães venceram o Brasil impiedosamente por 7 a 1. Era um fantasma a mais que os brasileiros teriam de exterminar.

O primeiro tempo deu a impressão que os mais de 60 mil torcedores brasileiros no Maracanã ontem, enfim, assistiriam algo inédito. Neymar, de falta, pôs o Brasil à frente com atuação segura. A sensação era que, desta vez o ouro não escaparia.

A confiança durou até o começo do segundo tempo, quando Meyer deixou tudo igual e devolveu ao Maracanã o clima apreensivo de antes da partida. Os mesmos fantasmas voltavam a assombrar o Brasil.

Quis o destino que o grande jogo da final do futebol, prestigiado por gente de todos os países e até pela lenda Usain Bolt, que torceu pelo Brasil no camarote de Neymar, fosse decidido nos pênaltis, após a persistência do 1 a 1 na prorrogação.

Essa geração suportaria o gigantesco peso nas costas? Esta era a pergunta que todos faziam antes do primeiro pênalti. Candidatos a heróis e vilões batiam e convertiam as cobranças. Foi assim com os alemães Ginter, Gnabry, Brandt e Süle; E com os brasileiros Renato Augusto, Marquinhos, Rafinha e Luan. Até que Petersen parou no predestinado Weverton.

Coube a Neymar, aquele que teve o nome rabiscado pelo torcedor após o segundo jogo na Olimpíada, bater o quinto pênalti. Bola na rede, medalha no peito e o passional brasileiro, pelo menos por um dia, voltou a amar a Seleção Brasileira como nos velhos tempos.

Antes torcedor, Weverton vira protagonista e pede respeito ao time

Weverton estava em casa quando o Brasil iniciou a preparação para a Olimpíada. Depois de um jogo do Brasileirão pelo Atlético-PR, recebeu telefonema que certamente iria mudar sua vida. Do outro lado, um convite para assumir a vaga deixada por Fernando Prass, que precisou ser cortado após lesão no cotovelo direito.

Depois de passar cinco jogos sem ser vazado, ontem ele conheceu o amargo gosto de sofrer um gol com a camisa da Seleção Brasileira. Mas o futuro reservaria para ele algo grandioso. Na disputa de pênaltis, voou para rebater o chute de Petersen e virou herói.

Como se fosse o dono do jogo, levou a bola embora. “Só quero falar uma coisa: Pátria amada, o ouro é nosso, mas a glória é de Deus. A bola é minha porque está na história. Muita gente tentou, mas Deus botou essa geração para fazer história. Merecemos respeito pelo o que fizemos. Jogo de luta, de vontade, com a cara do Brasil. A torcida toda está de parabéns”, discursou o novo herói brasileiro.

Neymar rebate críticos após o ouro

De uma só vez, Neymar deu as respostas que os críticos esperavam. Comandou a conquista do único título que a Seleção Brasileira não tinha e mostrou que pode ser decisivo com a amarelinha – assim como tem sido no Barcelona, clube onde joga. Depois de converter o pênalti decisivo, chorou e, mostrando muita maturidade, mediu as palavras para não se exceder.

“Tenho muita coisa para falar, mas ainda não encontrei palavras. O quanto falaram da gente, e nós respondemos com futebol. (Vencer a Olimpíada) É uma das coisas mais felizes que já aconteceram na minha vida. Estou muito feliz, mas é isso aí. Fazer o quê? Agora vão ter de me engolir!”, disse, encerrando a entrevista concedida a TV Globo na beira do gramado e repetindo frase famosa dita pelo ex-técnico Zagallo na final da Copa América de 1997.

Neymar voltou pouco tempo depois ao gramado para falar. Desta vez, porém, não foi uma entrevista, mas um anúncio. “É uma coisa que conversei com a minha família. A partir de hoje não quero mais ser capitão da Seleção Brasileira”, disse o camisa 10, que deve comunicar a decisão ao técnico Tite.

Além de devolver a Neymar o status de ídolo, o ouro, segundo o técnico Rogério Micale, servirá para recuperar a confiança ao futebol brasileiro. “É um resgate da nossa autoestima. A gente viu que não está tudo perdido. O nosso futebol está vivo, precisa de acertos, mas podemos fazer o povo um pouco feliz neste dia de hoje. Fico muito feliz de poder participar disso”, comemorou o treinador.

Jogador do Santos, o são-bernardense Gabriel fez questão, assim como o xará Gabriel Jesus, de homenagear Fernando Prass, cortado dias antes da estreia. “Não tem rivalidade. Ele é um cara excepcional, queria muito que estivesse aqui. Prass é experiente, a gente sentiu falta dele. Espero que ele possa se recuperar o mais rápido possível. Esse ouro é dele também, ele faz parte de tudo isso.”

Gabigol assumiu que as criticas mudaram o perfil da Seleção. “A gente sabia que tinha time muito bom, mas precisava correr um pouquinho mais, precisava caprichar. Foi isso que a gente fez. Foi importante a confiança de todos”, disse. 




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