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Indústria sente a crise e adia investimentos no 2º semestre
Por Leone Farias
Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
29/07/2005 | 08:11
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A atual crise política, aliada ao cenário de juros altos e câmbio desvalorizado, está levando as indústrias do Grande ABC a adiarem investimentos diante da perspectiva de redução na atividade industrial nos próximos meses. A tendência é generalizada na região, segundo as lideranças empresariais.

Ignácio Martinez Conde-Barrasa, diretor titular do escritório do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, a intenção de adiar a destinação de recursos para ampliação das fábricas é a regra no setor industrial da região. Como diretor da indústria de autopeças de Diadema Autometal, Conde-Barrasa não vê outro comportamento senão o da cautela neste momento. "Vamos aguardar a evolução do quadro político e econômico para realizar os investimentos que estavam sendo planejados", afirmou o diretor.

Outro empresário da região, o diretor da fabricante de autopeças MRS, de Mauá, Fausto Cestari Filho – também ocupa a vice-presidência do Ciesp – afirma que desde abril último decidiu segurar investimentos, mas as turbulências no governo e no Congresso reforçaram a decisão de postergar planos. Ele considera que juros altos e o dólar mantido muito baixo desde o início do ano por si só já eram fatores para o esfriamento do mercado e redutores do investimento. "Mas a crise política agravou esse cenário", afirma.

Mais cautela– O empresário Hermes Soncini, diretor regional da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, afirma que a tradicional cautela do empresário brasileiro na hora de investir foi reforçada. "É um fator que pesa bastante no comportamento do empresário, especialmente na hora de decidir sobre investimentos. O fator psicológico conta muito nesse momento, e é influenciado pela crise política."

Soncini, proprietário da indústria de móveis São Marcelo, em São Bernardo, viu suas vendas caírem 20% no primeiro semestre. "O receio do consumidor e os baixos níveis de renda deixam o setor moveleiro numa situação de venda bastante caótica. Desde o final de abril para cá as vendas só caem. Nossa esperança é que no segundo semestre a situação melhore", afirmou.

A avaliação é confirmada pela pesquisa Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação, da Fundação Getúlio Vargas, divulgada nesta quarta-feira. O levantamento mostra que neste mês o percentual de empresários que avaliam a demanda atual como fraca e os estoques, excessivos, é o maior desde julho de 2003. Do total, 27% consideram a demanda baixa e 14% os produtos estocados em excesso.

Fôlego– Na avaliação do diretor titular do Ciesp de São Bernardo, Mauro Miaguti, as pequenas e médias indústrias são as que estão sendo mais prejudicadas por esse cenário econômico. "O pequeno empresário não tem fôlego para trabalhar dois ou três meses nesse ambiente de paralisia", avalia.

Além dos escândalos que trazem insegurança aos investidores, os industriais consideram que os temas que estavam em discussão no Congresso – como o projeto da PPP (Parceria Público Privada) para investimentos em infra-estrutura e o de alteração do Simples (sistema simplificado de impostos) – ficaram de "stand by". "As reformas que deveriam ser votadas ficam para segundo plano", afirma o diretor-adjunto do Ciesp de São Caetano, Willian Pesinato.

Prudência– O economista-chefe do Decon (Departamento de Economia) do Ciesp, Carlos Cavalcanti, afirma que ainda não é possível dizer que a produção industrial já foi afetada pela crise política. "Vamos ter que observar, nos próximos meses, como a crise política vai rebater na atividade da indústria. Em princípio não estamos fazendo aposta nenhuma. Teremos que olhar mais atentamente os resultados da economia nos próximos meses", afirmou.




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