Política Titulo Presidente do partido em S.Bernardo
Gravação expõe exigência de vagas em gabinete de vereadores do PSL

Resende avisa que futuros eleitos terão de reservar espaços em S.Bernardo; Nishikawa contesta tática

Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
06/08/2019 | 07:00
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DGABC


Gravação de uma discussão entre o deputado estadual Coronel Nishikawa (PSL), de São Bernardo, e seu chefe de gabinete, Walter Resende Filho (PSL), à qual o Diário teve acesso mostra Resende exigindo que eventuais vereadores eleitos em São Bernardo reservem duas vagas nos gabinetes para a indicação de candidatos derrotados no pleito do ano que vem.

O áudio tem dois minutos e 22 segundos e começa com fala de Resende, que é presidente do PSL em São Bernardo. Nishikawa mostra contrariedade com a orientação do dirigente, dizendo que a imposição é falta de respeito. Resende confirmou o tom da conversa na sexta-feira, quando só alguns trechos foram repassados à equipe do Diário. Ontem, ele não retornou aos contatos para detalhar o caso.

“Uma coisa que estou pedindo aos candidatos é o seguinte: ‘Eu quero que você me reserve pelo menos duas vagas no seu gabinete’. Não é para mim, é para quem estiver trabalhando na campanha”, discorre Resende, no início da gravação. Ele é interrompido imediatamente por Nishikawa. “Eu sou contra isso daí.”

O chefe de gabinete do parlamentar prossegue e diz que “todos” já tinham concordado com o pedido e tenta explicar que a exigência de duas vagas em gabinetes seria uma maneira de não perder esses possíveis candidatos. “A partir do momento que ele (candidato) mostrou vontade de ser candidato, você concorda que ele é um ótimo cabo eleitoral?”, questiona Resende.

Nishikawa mostra contrariedade de novo. “Eu convidei algum de vocês para vir comigo?”, indaga. “Quem foi que eu chamei para vir trabalhar comigo? Ninguém, ponto. Eu não faço isso. O cara que quer ser candidato não pode ter esse desvio. Eu sou contra essa imposição. Quando você impõe, você não tem respeito. Por que sou respeitado? Porque não prometo nada para ninguém.”

O Diário mostrou ontem que Nishikawa, Resende e outro assessor do parlamentar – David Monteiro de Mello – são investigados pela PGJ (Procuradoria-Geral de Justiça), instância máxima do Ministério Público paulista, por suposta prática de pedágio no gabinete – quando parte dos salários de assessores é devolvida para lideranças do escritório. O MP não informou se o áudio integra a denúncia apresentada contra os políticos do PSL.

Procurado, Nishikawa declarou que não é presidente da sigla e que nunca exigiu qualquer parte de salários de seus assessores. O parlamentar disse também que não compactua com a exigência de vagas em gabinetes de outros políticos que poderiam ser eleitos – ontem ele usou a tribuna da Assembleia para se defender das acusações (veja mais abaixo). Cada um dos 28 vereadores de São Bernardo tem direito a indicar dez assessores.

Parlamentar avisa que vai processar autor de denúncia

Após o Diário mostrar que ele é investigado pelo Ministério Público paulista por suposta prática de pedágio em seu gabinete, o deputado estadual Coronel Nishikawa fez uso do plenário na Assembleia, ontem, e declarou que processará o autor da denúncia.

“Vou processá-lo por falsa comunicação de crime e, principalmente, por denunciação caluniosa, e também vou processá-lo por manchar a nossa honra. Vamos entrar com processo criminal e processo civil. Não tenho medo da verdade”, disse o parlamentar.

Nishikawa sustentou a teoria de que estaria sofrendo ataques por já ser apontado como candidato à Prefeitura de São Bernardo no ano que vem, situação que ele já negou em outras ocasiões. Durante inauguração de seu escritório político em São Bernardo, o senador Major Olímpio (PSL) declarou que o parlamentar seria coordenador das campanhas eleitorais da sigla na região.

“Eu sempre disse que não queria (ser candidato a prefeito de São Bernardo). Eu não sei se isso fez com que pessoas nos acusassem. Se for o caso, eu disputo a Prefeitura de São Bernardo para dizer que sou inocente. Para dizer, também, que jamais desonrarei minha farda”. Nishikawa é coronel da reserva do Corpo de Bombeiros, no qual atuou por 30 anos.

Ainda durante a fala na Assembleia, o deputado fez crítica ao Ministério Público e à maneira como a denúncia foi aceita pela instituição. “Sem fundamento. Foi feita uma denúncia anonimamente e estranhamente foi (aceita) e deu andamento nisso”, declarou. Ao Diário, ele argumentou que o MP acolheu a acusação “sem prova”. “Fui ao banco e tirei extrato das minhas contas. Minha renda nunca ultrapassou ao que ganho. Não há um tostão a mais na minha conta.”

Deputado de primeiro mandato, Nishikawa recebeu 23.094 votos em 2018. 




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