O plano de governo lançado pelo candidato do PSD a prefeito de Cáceres, no Mato Grosso, Leonardo Albuquerque, configura-se numa cópia idêntica ao programa apresentado pelo prefeito petista Celso Daniel, morto em 2002, na eleição majoritária de 1996 em Santo André. O caso polêmico criou situação de instabilidade no pleito local, que tem elevado o tom em contornos nacionais. O pessedista, por sua vez, jogou a responsabilidade a ex-aliado e fez BO (Boletim de Ocorrência) para livrar-se do ônus.

Somente há mudança no plano de governo quando se faz menção a Santo André e Grande ABC que, naturalmente, o prefeiturável substitui por Cáceres e região do Mato Grosso. Em levantamento dos materiais de campanha, trechos inteiros estão dispostos na mesma ordem cronológica e com as mesmas palavras, o que comprova a reprodução (veja trechos reproduzidos na arte acima). A localização em regiões totalmente distintas - a cidade mato-grossense fica no Pantanal - entre os municípios não foi impedimento para o plágio.

As prioridades e compromissos são iguais, constatados logo na apresentação. "Nosso programa de governo expressa uma proposta para o município, mas obrigatoriamente, até por sermos polo, tem foco regional, fundamenta-se num projeto de sociedade eminentemente social democrático. Uma sociedade em que todos tenham acesso aos bens sociais e aos serviços públicos e participem de sua gestão", diz trecho copiado na íntegra, assim como os demais repetidos sem meio-termo.

Há 16 anos, a campanha de Celso Daniel era para retomar o poder do Paço, considerando que comandou a Prefeitura de Santo André na gestão 1989 a 1992. No pleito anterior, como ainda não existia reeleição, o projeto petista de continuidade com José Cicote, em 1992, saiu derrotado para Newton Brandão (PSDB), que morreu em 2010. A vitória só veio em 1996, quando Celso voltou à disputa. Depois disso, foi reeleito em 2000 e assassinado em 2002.

O pessedista concorre em Cáceres com Edson Penha Mendes, o Edinho (PT), e Francis Maris Cruz (PMDB). A coligação ‘O futuro começa agora', com 12 partidos aliados, alegou que o episódio se deve ao uso de má-fé por parte do engenheiro Adilson Reis, integrante do grupo do candidato Leonardo que iniciou a discussão sobre o plano de governo.

A defesa fez BO no dia 2, no qual relata que Leonardo não tinha conhecimento do plágio. Até então no PSD, Adilson afirmou, em carta aberta à população da cidade mato-grossense, que a acusação de cópia não procede. Em sua justificativa, o engenheiro aborda que, quando também concorreu na eleição majoritária de 1996, teve como referência o documento formulado por Celso Daniel. Por isso, sugeriu ao então correligionário para tomar diretrizes. A proposta, segundo ele, era para fazer adequações, porém, Leonardo não constituiu comissão para elaborar o plano e entregou a minuta na íntegra ao cartório eleitoral de Cáceres neste ano.

Surpreso com a informação, o presidente do PT de Santo André, Luiz Turco, argumentou que, ao tomar conhecimento oficial do caso, adotará junto aos diretórios envolvidos as providências cabíveis no âmbito judicial. "Daremos encaminhamento no Ministério Público, Justiça Eleitoral. A questão é grave e por isso necessária alguma providência."

Por enquanto, o PT de Cáceres informou que não entrará com medida judicial por entender que a "ação da cópia não autorizada já demonstra a falta de caráter". Contudo, acredita que o MP não se furtará dessa iniciativa. A polícia do município do Mato Grosso investiga o caso.