Esportes Titulo Especial
Primeiro de Maio festeja 100
anos de história e conquistas

Clube de Santo André inaugurou participação
do Grande ABC no Campeonato Paulista

Thiago Postigo Silva
18/08/2013 | 07:07
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Orlando Filho/DGABC


 No início do século 20, um esporte, que inicialmente era de elite e origem inglesa, começou a cair no gosto dos brasileiros, chamado de futebol. E no Grande ABC não foi diferente. Com a modalidade crescendo, principalmente entre trabalhadores, alguns clubes surgiram, entre eles o Primeiro de Maio Futebol Clube, especificamente em 18 de agosto de 1913.

A história da agremiação, que hoje completa 100 anos, inicia com grupo de operários italianos, que se encontrava periodicamente em 'peladas' da época. Na data acima, se reuniu no antigo número 60 da Rua Oliveira Lima, no armazém da família Piagentini, e criou a agremiação, com nome sugestivo em homenagem aos trabalhadores.

A primeira sede ficava na Rua Gertrudes de Lima, 13, esquina com a atual Fernando Prestes. A estreia oficial veio como presente de Natal, no dia 25 de dezembro do mesmo ano, contra o Sport Club Operário. A agremiação utilizou camisas verde e branca, e receberia futuramente o apelido de 'Os Flechas Verdes'.

Aos poucos, o Primeiro de Maio ganhou destaque no cenário paulista e o primeiro troféu dos diversos que o clube conquistou em 100 anos foi a Taça Senador Flaquer, em 1916, após vitória sobre o Serrano Atlétic Club do Alto da Serra, de Paranapiacaba.

A equipe também entrou para história ao ser a primeira do Grande ABC a participar de um Campeonato Paulista. O time disputou em 1917 a Segunda Divisão do Estadual, organizada pela APSA (Associação Paulista de Sports Athleticos) – que depois viraria Apea – filiada à Confederação Brasileira de Desportos. 

O clube ainda conseguiu o primeiro campo oficial entre as ruas Campos Sales, General Glicério, Luiz Pinto Flaquer e Agenor de Azevedo (a última se tornou Rua Brás Cubas). A então crônica esportiva o apelidou ‘o campo da Rua Brás Cubas’, enquanto os andreenses o conheciam como ‘o campo da biquinha’, nome que ainda remete aos dias de hoje. 

A expansão do Primeiro de Maio parecia não ter fim e, em 17 de abril de 1921, iniciou a grande rivalidade com o Corinthians de Santo André. Naquele dia, o Primeiro de Maio goleou o Timão do Grande ABC por 4 a 0, resultado que foi comentado por muito tempo, alimentando o dérbi. 

O auge foi em 1926, quando a equipe venceu a Segunda Divisão do Paulista e conquistou o direito de participar no ano seguinte da elite do Estado, que contava com clubes como Palestra Itália (atual Palmeiras), Corinthians Paulista, Ypiranga, Santos, Portuguesa, Comercial e Guarani. 

O desempenho foi modesto, com destaques para vitória (3 a 2) sobre o Bugre e a goleada sofrida (9 a 0) para o Palestra Itália. 

No ano seguinte, Primeiro de Maio e Corinthians de Santo André se fundiram para tentar formar grande força na região. Mas a rivalidade entre os clubes impediu o sucesso da equipe, que não disputou competições em 1928 e 1929. O futebol retornou em 1930, mas foram apenas mais dez anos de atividades porque, em 1940, a agremiação perdeu seu campo e preferiu desativar, gradualmente, o futebol. 

Se a bola parou de rolar no campo, nas quadras apenas iniciou. Ganharam força o basquete, o vôlei e, especialmente o futebol de salão, que chegou forte em 1956, conquistando diversos títulos e ajudando a expandir a modalidade no Brasil. Foi uma época de prestígio e muitos troféus.

Além destes, outros esportes – como xadrez, tênis de mesa, natação, entre outros – começaram a ser praticados no clube, que, em 1962, adquiriu a atual sede na Rua Portugal, com 19 mil metros quadrados. 

Porém, com os altos custos das competições oficiais, o Primeiro de Maio foi desistindo de participar dos torneios, preferindo apenas dar ênfase às categorias de base e à parte social, como é hoje.

Gol em 1967 no futebol de salão não deixa memória de ex-jogador

O ano era 1967 e uma partida de futebol de salão movimentava a região do Vale do Paraíba, mais precisamente a cidade de Taubaté. A cinco minutos do fim, o time da casa vencia por 1 a 0 o Primeiro de Maio Futebol Clube, de Santo André, que estava com um jogador a menos, mas com o empate iria para a final. 

Com a torcida local já comemorando, o ala Adilson Stella, mais conhecido como 'Lulinha', do time do Grande ABC, recebeu passe de lateral no meio da quadra e arriscou o chute. Com caminho certo a seguir, a bola passou por entre as pernas do fixo adversário, bateu na trave e caprichosamente parou no fundo da rede, para silêncio total do ginásio. 

Os últimos instantes foram cenas de filme de drama, mas a vaga na decisão ficou nas mãos do time de Santo André, que saiu escoltado do local e comemorou a classificação apenas em São José dos Campos. 

Esse lance continua vivo na memória de 'Lulinha', hoje com 66 anos. O ex-jogador lembra como o futebol de salão foi forte no clube. “Joguei aqui por dez anos e éramos bem recebidos em todos os lugares, com faixas e até banda de música. Nosso juvenil (nos anos 1950 e 1960) era o melhor do Brasil”, cravou 'Lulinha'. “Chegamos a encarar até a seleção uruguaia”, recordou. 

Presidente afirma que plano é verticalizar nos próximos anos

Trigésimo primeiro presidente do Primeiro de Maio – cargo já ocupado pelo ex-prefeito Bruno José Daniel –, Nelson Roberto Mazzucatto ressaltou que a tendência da agremiação nos próximos anos é verticalizar, já que praticamente não tem mais espaço para construção na sede da Rua Portugal. A área conta com 19 mil metros quadrados. 

“Agora temos que verticalizar o clube. Não temos muito espaço”, destacou o mandatário. “Espero estar nos festejos dos próximos 100 anos, mas acho que não vai dar”, brincou.

Porém, ele é um dos principais personagens do primeiro centenário do clube, que não para de ser homenageado. 

Na quarta-feira, a Câmara realizou sessão solene para parabenizar o Primeiro de Maio, que também teve o lançamento oficial do selo e do carimbo do Correios com os símbolos da agremiação.

O Primeiro de Maio apresentou o livro sobre o centenário com o título '100 anos, Primeiro de Maio Futebol Clube'. Hoje, por volta das 11h, terá um confronto entre a seleção masters, com jogadores de São Paulo, Palmeiras, Corinthians e Santos, e do Primeiro de Maio. 

Para completar os festejos, o clube realiza sábado à noite o jantar de aniversário no salão social, com show do cantor Fábio Júnior.

Categorias de base e social são prioridades da agremiação

Com 3.300 famílias de associados e 12 mil frequentadores, o Primeiro de Maio Futebol Clube hoje não enfrenta problemas financeiros, mas mantém poucos atletas profissionais, como no vôlei feminino, que conta com parceria da Prefeitura e tem times nas categorias principal e sub-20. 

Segundo o vice-presidente de esportes da agremiação, Ricardo André Pederiva, o trunfo é que todos os dirigentes são voluntários. “Estamos aqui porque gostamos do clube”, ressaltou. “Organizamos torneios que têm custos, mas recuperamos o investimento com alguns patrocínios de empresas, nossas festas, entre outras coisas.” 

Ele ressaltou que os associados não diminuem porque os títulos vão sendo passados de geração para geração. “Aqui é um clube familiar e as famílias vão crescendo. Hoje, o clube é social e o esporte é consequência. Os sócios têm convivência forte entre eles e isso é bastante forte”, frisou. 

Sobre o retorno a competições oficiais, destacou ser muito complicado. “Tem os custos da taxa de viagens e para manter o time também, principalmente de ponta. Além do mais, quando desponta um jogador, outro clube com maior poder aquisitivo vem aqui e pega”, justificou Pederiva. “Mas mantemos nossa base forte e, inclusive, temos jogadores (de futebol de salão) que foram à Itália e à França.”

História de família passa pelo clube andreense

O sentido de família está bem forte no clube. Que o diga Paulo Serra, 70 anos, sócio e praticamente um conselheiro da agremiação. 

A história da sua família se confunde com a do Primeiro de Maio. Seu pai, Américo Pinto Serra, foi presidente do clube entre 1948 e 1950, mas atuou por muitos anos diretamente na diretoria, com influência para tomar decisões importantes à agremiação. 

Paulo Serra, inclusive, ajudou o pai na compra do atual terreno do Primeiro de Maio. 

Contudo, a coincidência está principalmente no fato de pai e filho conhecerem suas mulheres no próprio Primeiro de Maio. 

“Sou sócio do clube há 64 anos. Meu pai me colocou de sócio aos 6 anos (na época, o título não se estendia aos integrantes da família e era individual). Aqui também é minha casa. Eu vi minha mulher pela primeira vez no ginásio”, recordou Paulo Serra. 

As festas também ficaram registradas. “O que gosto mais de lembrar é o baile da saudade. Eles arrumavam o salão e só entravam casais. Era muito bom”, disse Serra. “A história da minha família se confunde com a do clube. É impressionante”, completou.




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