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Quantos anos você quer viver?

A última semana foi marcada pela perda de um grande ícone da comédia brasileira, Dercy Gonçalves

Por Do Diário do Grande ABC
28/07/2008 | 00:00
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A última semana foi marcada pela perda de um grande ícone da comédia brasileira. Morreu aos 101 anos Dercy Gonçalves. Debochada e atrevida durante toda sua história, demonstrou um vigor físico invejável que marcou os últimos anos de sua trajetória. Afinal de contas, quem se imagina desfilando no sambódromo ou contracenando no teatro com uma centena de anos? Com certeza, muito poucos.

E um número menor ainda terá o privilégio de viver até essa idade conservando razoável saúde física e mental. Pelo menos uma vez na vida, você leitor já deve ter feito essa pergunta: Quantos anos você quer viver?

Como conceito, longevidade significa qualidade do longevo, ou seja, qualidade daquele que tem muita idade. Longevidade está sempre relacionada com expectativa de duração de vida. Expectativa esta, formulada em função de um complexo de fatores influentes, tais como: hereditários, climáticos, ambientais, alimentares, comportamentais e medicinais.

As mulheres brasileiras têm expectativa de vida de 75 anos, e os homens, de 68 anos, segundo o relatório de Estatística Sanitária Mundial 2007, divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O Japão é o país com maior expectativa de vida do planeta (82 anos), enquanto a Suazilândia, um reino africano, está no extremo oposto, segundo a OMS, com 32 anos.

Mas, de uma forma geral, o que temos observado é um crescimento global da população geriátrica com crescimento na expectativa de vida. O aumento da longevidade dos brasileiros se deve, principalmente, à queda de 64% na mortalidade infantil entre 1980 e 2006. A pesquisa aponta que as melhorias na condição de vida da população, que passou a ter mais acesso a serviços de saúde, saneamento, habitação e educação, também contribuíram para o incremento na esperança de vida do brasileiro.

Outro fator que tem contribuído, recentemente, para esse desenho populacional geriátrico, em países sub-desenvolvidos como o Brasil, é a progressiva redução nas taxas de fecundidade, assim como já ocorrido nos países desenvolvidos. A maior expectativa de vida das mulheres está relacionada, entre outras coisas, ao forte crescimento no número de homens jovens e adultos vítimas de homicídios.

Frente a todos esses dados, lembro de uma célebre frase que aprendi com um de meus mais célebres professores, o finado doutor Zerbini: "O importante é acrescentar vida aos anos e não anos à vida". Acho que todos gostaríamos de viver muito, porém vivendo bem.

Mudança demográfica cria necessidades específicas de saúde

Qualidade de vida é a grande questão dessa história. Questiona-se muito o que esse boom geriátrico trará na bagagem. A problemática decorrente do envelhecimento, no que diz respeito à saúde, tende a ser a mesma que se verifica nos países desenvolvidos com o aumento de doenças crônicas requerendo cuidados continuados e custosos, agravada pelo fato da persistência de problemas básicos como a desnutrição e doenças infecciosas.

Até o momento dispomos de pouca informação de caráter oficial a respeito do aumento demográfico dos idosos nas diferentes regiões do país e procurando traçar as perspectivas em termos de demanda de serviços, principalmente nas áreas da saúde e assistência social.

Chegaremos ao ano 2025 com uma população de cerca de 34 milhões de pessoas acima de 60 anos, uma população maior do que a total de qualquer Estado brasileiro na atualidade. Essas pessoas hoje se encontram no apogeu de suas vidas produtivas, muitas em posição de decisão sobre os rumos políticos e econômicos da nação.

Cabe a essa geração trabalhar para que se inicie um planejamento a curto, médio e longo prazo, visando ao estabelecimento de uma política de bem-estar social e de cuidados à saúde da população de idosos no Brasil. Saúde e muitos anos de vida!

Ruy, de Santo André, está a caminho dos 101

Daniel Trielli
Do Diário do Grande ABC

A primeira imagem que Ruy Silva guarda na memória tem no mínimo 94 anos. É a estátua que fica na chamada Biquinha na orla de São Vicente, cidade onde nasceu e morou até os 7 anos de idade.

Ruy Silva trabalhou como ferroviário, conferente de armazém, cobrador de ônibus e foi funcionário de editora. Nascido em 10 de setembro de 1907, ele é morador de Santo André desde o meio do século passado e diz que "São Pedro esqueceu" de levá-lo para o céu, por isso beira os 101 anos.

A verdade é que os motivos da longevidade de Ruy Silva podem ser vários. Da simples genética ao fato de que nunca fumou ou bebeu, ou por ter andado tanto, indo e vindo dos diversos lugares que trabalhou até se aposentar de vez em 1982, com 74 anos. Até hoje ele não precisa tomar remédios. Todo o cuidado médico que necessita se resume ao par de óculos e ao aparelho de audição.

A vista prejudicada atrapalha um pouco, mas nunca impedirá por completo, um dos hobbies de Ruy: um grande presépio mecanizado nos fundos de sua casa na Vila Lucinda, que ele atualiza, conserta e enfeita constantemente desde que começou a montagem, em 1951.

E se o ouvido precisa de ajuda, a memória continua forte. Recordando as décadas passadas, Ruy lembra, sem hesitar, de nomes completos de personagens secundários de sua vida, endereços exatos de locais onde trabalhou e de datas precisas de eventos relevantes.

Como o dia em que, trabalhando para a Editora Brasília, de Santos, teve de visitar um cliente no Centro da Capital para fazer uma cobrança. O escritório ficava em um prédio que, até aquele dia, não era nacionalmente famoso: o Joelma. Era 1º de fevereiro de 1974, e o devedor em questão, não tendo dinheiro trocado, sugeriu que os dois descessem e tomassem um café. Com o troco, pagaria a dívida. Quinze minutos depois, ao voltarem ao prédio, o incêndio histórico que matou 179 pessoas já havia começado. E o devedor escapou por causa de Ruy.

Hoje ele reconta essas histórias e também lembra de antigas travessuras da infância e da vida adulta. A irreverência, aliás, é um aspecto sempre visível na personalidade de Ruy, que insiste para a filha Maria de Lourdes deixar ele sair sozinho, passear no Centro de Santo André para "ver as meninas". Afinal, como o próprio Ruy diz: "Não pode deixar a vaca deitar".

VOCÊ SABIA?

- A candidata mais velha do País, nas eleições municipais de 2008, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), é Deodata Pereira Borges. Segundo o órgão, Deodata tem 99 anos. Ela, porém, faz questão de corrigir - e já contestou formalmente o registro no TSE: são 103 anos, como aponta seu documento de identidade. No dia 1º de agosto, faz 104. Deodata tenta se eleger vereadora pelo DEM em Feira de Santana, na Bahia., É a segunda vez que Mamãe, como é conhecida, tenta alcançar um cargo eletivo. Em 2006, concorreu a uma cadeira na Assembléia Legislativa da Bahia e teve 13.500 votos, votação considerada expressiva, mas insuficiente. Lúcida e sem grandes problemas de saúde - possui uma limitação de movimentos no braço direito, depois de uma fratura no início do ano -, ela promete ser atuante na política. "Há muita coisa a ser feita pela população, por isso quero chegar lá", prega Deodata.

- O ser humano com a maior extensão de vida registrada foi Jeanne Louise Calment, uma francesa que viveu até os 122 anos e 164 dias. Ela nasceu em 21 de fevereiro de 1875 e morreu em 4 de agosto de 1997. Embora tenha feito exercícios a vida toda (aos 85 anos começou a praticar esgrima e aos 100 anos ainda andava de bicicleta), fumou até os 117.

- Das dez pessoas mais velhas da história mundo, só uma é do sexo masculino: o japonês Shigechiyo Izumi, em segundo lugar, viveu por 120 anos e 237 dias (29 de junho de 1865 a 21 de fevereiro de 1986).

- Atualmente, a pessoa mais velha do mundo é a norte-americana Edna Scott Parker, hoje com 115 anos. Ela nasceu em 20 de abril de 1893 e foi reconhecida como a mais idosa após a morte da japonesa Yone Minagawa, em 13 de agosto de 2007. Minagawa, por sua vez, viveu 114 anos e 221 dias. 




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