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O alvo somos nós

Serra, Eduardo Jorge, Verônica, eles são apenas parte do problema. O problema inteiro é outro

Por Carlos Brickmann
12/09/2010 | 00:00
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Serra, Eduardo Jorge, Verônica, eles são apenas parte do problema. O problema inteiro é outro: todos os que pagam Imposto de Renda e pensavam estar a salvo de bisbilhotagem, protegidos pelo Estado brasileiro, representado pela Receita Federal. Não é questão de saber se o dinheiro de alguém é lícito ou ilícito, que disso a Receita tem obrigação de cuidar; a questão é que a vida da pessoa passa a ser pública, ao alcance das candinhas e dos fuxicos. O presidente Lula sabe o que é isso - ele não queria expor sua filha, e ela foi exposta. O caseiro Francenildo, todos ficaram sabendo, andou recebendo dinheiro do pai.

Não se pode tratar um problema como este como tema eleitoral. Discute-se se isso rende votos ou não (o que vem sendo debatido pelos dois lados). O rendimento eleitoral que se dane: quando uma cláusula constitucional é violada e a reação é de deboche ("cadê esse sigilo que não aparece?"), a vítima é a população. Sigilo é bobagem? OK: que se quebre o sigilo dos processos de família, então, especialmente os litigiosos. Há gente que se negou, gente que deu, gente que traiu, gente que tem hábitos estranhos, gente que gosta de ficar nu e ser pisado por profissionais de salto alto, gente que treme só de pensar que alguém possa descobrir o real motivo de uma separação. E ninguém, a não ser o cônjuge, tem nada com isso. Aberto o sigilo, tudo vira tema de fofoca pública.

Não dá. Aliás, nem é um assunto que se deva discutir. O sigilo é protegido pela Constituição, e pronto. Respeitar a Constituição é obrigatório. Para todos.

FALA QUEM CONHECE
Pedro Simon, do PMDB, com 32 anos de mandato no Senado, unanimidade quando se discute capacidade de trabalho e honestidade pessoal, está lançando um novo livro: "Senado Federal: análise crítica e propostas alternativas". Simon vai fundo: os problemas do Senado são criados pelos senadores, por ação ou omissão. "Não dá para dizer que é culpa dos funcionários a nossa televisão ter mais funcionários do que a Globo ou nossa gráfica ter mais servidores do que a gráfica da Veja". Não chega a propor a solução mais drástica: fechar gráfica e TV. Para que TV do Senado?

UM ALVO COMO NÓS
Em São José dos Campos há um radialista, João Alckmin, que se destaca pelo combate aos caça-níqueis. Já sofreu dois atentados a bala. Pois não é que Alckmin descobriu que seus sigilos foram quebrados ilegalmente, mais de 50 vezes, em todo o país? Até as PMs de Estados distantes tiraram sua casquinha. Donos de jogos ilegais? Talvez; mas boa parte das violações coincide com a época em que seu primo-irmão, Geraldo Alckmin, foi candidato à Presidência. Ambos têm relações frias, mas se tivessem achado algo, como explicar essa distância ao eleitor?

A AÇÃO DO GOVERNO
O caso foi levado por um deputado federal da base governista, Luiz Antônio Medeiros, ao então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que determinou à Polícia Federal um "rigoroso inquérito". Alguns anos depois, a PF enviou o rigoroso inquérito ao juiz da 2ª Vara Federal de São José dos Campos. Embora dispusesse das senhas de quem operou a violação dos sigilos, ninguém foi identificado. Conclusão: se crime houve, já está prescrito. Claro: se anos depois de receber as senhas não se sabe de quem são, qualquer crime prescreve mesmo.

QUESTÃO DE LINGUAGEM
Como já ensinou Luiz Fernando Veríssimo, num texto brilhante, "rigoroso inquérito" não é sinônimo de "inquérito rigoroso". É exatamente o contrário.

É HOJE
Já que citamos nosso idioma e as violações de sigilo, há uma frase de Dilma que tem de ser lembrada. O primeiro a explicá-la ganha um picolé de chuchu: "Tem um salto mortal entre os vazamentos na Receita e a minha campanha".

CADEIRA VAZIA
Hoje é o debate dos candidatos à Presidência da Rede TV! Entra exatamente no horário do Pânico. Vão os de sempre: Serra, Marina, Plínio. Falta a de sempre: Dilma. A desculpa, agora, é o nascimento do neto.




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