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Um dia com o prefeito Avamileno
Flávia Braz
Especial para o Diário
09/04/2006 | 08:22
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"Ele tem mania de tomar o café da manhã de pé, mas eu logo aviso: senta e come direito. Refeição tem que ser feita na mesa". A frase é da primeira-dama, Ana Maria Avamileno. Adivinhar o nome do personagem tornou-se tarefa simples: João Avamileno, seu "companheiro" - como ela mesma gosta de dizer - há mais de 40 anos e, não por acaso, prefeito de Santo André desde janeiro de 2002. O chefe do Executivo abriu a porta de seu apartamento, ou casa número dois como a família prefere chamar, para o Diário já pronto para encarar mais uma jornada de trabalho. De calça social azul marinho, camisa branca e sapato preto, o prefeito tomou calmamente seu café da manhã, "em uma mesa posta especialmente para a reportagem" e relembrou sua infância em Boracéia, interior de São Paulo, onde, segundo ele, cansou de caçar passarinho. "De tanto que caçou passarinho acabou virando prefeito para pagar seus pecados, né João?", brinca a primeira-dama.

Pai de quatro filhos e avô de cinco netos, o petista João Avamileno, aos 61 anos, divide o apartamento com a mulher, o filho mais velho e dois netos: "Mas nossa casa mesmo não é essa. Aqui é mais o nosso dormitório". A casa oficial, segundo o prefeito, é hoje o endereço da confecção de Ana Maria. "Lá ele gosta de fuçar nas coisas, mexe na parte elétrica, faz um monte de reparos. Aqui como não tem onde fuçar ele empeteca as paredes de fotos", alfineta a esposa. O rádio na lateral da sala deflagra a paixão do prefeito eclético. "Gosto de Roberto Carlos, Raul Seixas, música sertaneja...". A primeira-dama confirma: "Domingo a primeira coisa que ele faz quando acorda é ligar o rádio."

No dia-a-dia, porém, a música acaba ficando de lado. O dia na Prefeitura começa por volta das 9h. Já no gabinete, Avamileno recebe o secretário de Governo, Mário Maurici, que não se sente à vontade com a presença da reportagem. "Não consigo conversar assim. Está parecendo o Big Brother (reallity show da Globo)", comenta, rindo. Reformado no começo do ano, o gabinete do prefeito ainda não tem decoração. Até a charge do presidente Lula, já enquadrada, está sem espaço definido na parede. "Ainda não tivemos tempo de ajeitar as coisas", explica Avamileno.

Após breve conversa com o chefe de gabinete, o executivo dirige-se ao anfiteatro da Prefeitura, onde abre uma palestra aos servidores. O discurso não dura cinco minutos, e o prefeito se prepara para dar início à agenda externa: hora de visitar obras. O elevador em manutenção não muda a rotina de Avamileno. "Todos os dias desço e subo de escada. É o momento de andar um pouquinho". Sob sol forte, acompanhado pelo vereador Antonio Leite, ele passa quase uma hora andando pela rua em manutenção e conversando com moradores. A recepção é, no geral, muito boa. Alguns mais simpáticos: "Lá onde eu moro o senhor é muito conhecido". E outros menos contentes: "Falta remédio e se tem são sempre muito caros, o senhor precisa dar um jeito nisso".

A próxima parada do prefeito, que nunca anda sozinho - além dos dois seguranças há também alguns secretários -, é no Hospital da Mulher. Desta vez é a vice-prefeita, Ivete Garcia, que se junta ao grupo. A andança pelo hospital, que continua em obras, termina por volta do meio-dia e a conversa só continua na mesa de um restaurante. A primeira-dama é presença garantida. "Costumo almoçar na confecção com a Ana, só vou para restaurantes quando tenho algum compromisso diferente". No prato, salmão e uma porção de arroz. "Eu sou bom de garfo, gosto de comer bem e não tenho frescura". Para acompanhar, o prefeito toma vinho tinto. "No almoço não costumo beber, mas na janta tomo sempre uma ou duas taças de vinho".

Depois do almoço, o prefeito visita mais quatro obras, conversa com técnicos e secretários, faz perguntas e cobra prazos. "Acelera, mas capricha. Tem que caprichar", diz ao engenheiro de uma das obras. O jeito reservado e sereno não faz de João Avamileno alguém menos simpático e até mesmo engraçado. Que o diga o coordenador da reforma de uma antiga UBS (Unidade Básica de Saúde), que, ao reclamar da quantidade de pombas que habitavam o prédio, ouviu do prefeito: "Se fosse no tempo em que eu era moleque caçava todas, com estilingue".

O dia, segundo o prefeito, não tem hora certa para acabar e, apesar de Avamileno garantir que quando chega em casa gosta de assistir televisão, a esposa é enfática na hora de desmentí-lo: "Isso é o que ele fala, mas não consegue ficar acordado. Senta no sofá e em menos de cinco minutos já está roncando", conta, aos risos. As piadas, porém, não foram de autoria exclusiva do chefe do Executivo e de sua esposa. Ao concluir a última visita do dia, a construção da EPAC (Escola Parque Ciência), já sem o capacete branco de proteção, cujo uso é obrigatório em locais com obras, Avamileno foi surpreendido com o chamado de um de seus funcionários: "Prefeito, tira o capacete!". Com o riso no canto da boca, de quem já entendeu a piada, o prefeito respondeu: "Já tirei, agora é só meu cabelo branco mesmo".



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