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Paixão que move os Motociclistas
Fabio Leite
Especial para o Diário
15/01/2006 | 08:51
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Na altura do km 23 e ‘uns quebrados’ da via Anchieta, em São Bernardo, Loris Boy, 59 anos, dá a partida e faz o seu triciclo, artesanalmente motorizado, roncar alto. Os demais integrantes do Tribo da Lua já chegaram ao ponto de encontro. Entre eles, mulheres e crianças. O destino nesse fim de semana é um ‘bate-e-volta’ na Baixada Santista. Faça sol ou sob chuva – não importa – tocam pela estrada.

“Nosso negócio mesmo é viajar”, conta o mecânico Lourival Benedito da Silva, o Loris Boy. Também descem a Serra Big Jonis, 48 anos, e os Dragões da Liberdade, motoclube que nasceu em Santo André há quatro anos. Pelo caminho pode se avistar Neblina, 36, montado em sua Harley Davidson, e seus colegas motociclistas em suas choppers (motos modificadas com frente lançada). Todos devidamente trajados com capacetes, botas e o inseparável colete estampado com seus Pets (brasões dos motoclubes).

“O colete é a nossa segunda pele. Você tem de honrá-lo”, conta o técnico Jonis Rodrigues, o Big Jonis. “É uma maneira de distinguir os motociclistas dos motoqueiros e assim sermos respeitados”, define o conferente andreense Antônio Pedro Miranda, 45 anos, o Índio, que ainda é um próspero (motociclista que aguarda ser apadrinhado por um motoclube). Também compõem o figurino outros adereços personalizados, como óculos, correntes, bandanas e os bottons que recebem nos eventos que freqüentam, como esse de Santos.

Durante o percurso, os estradeiros tornam-se uma atração à parte. Além da lendária Harley, motocicleta que surgiu no começo do século passado, modelos com Honda Shadow, Yamaha Drag Star e Suzuki Cruisers roubam a cena com seus alforjes em couro, pneus e pára-lamas largos e escapes cromados. O velocímetro não rompe os 100 km/h. “A gente anda na manha, curtindo a paisagem”, conta Big Jonis. “É um hobby que tira nosso estresse”, completa o encarregado Marcos André, o Neblina, presidente do motoclube de Ribeirão Pires que leva seu nome.

Visto de longe, o comboio de motociclistas remete a uma gangue pronta para invadir um território estrangeiro. Mas o objetivo das famílias que compreedem os motoclubes de hoje é muito distante dos ideais que moviam os motociclistas do passado. “Hoje é tudo uma família. Ainda existem algumas gangues como antigamente que ainda deformam a visão dos motociclistas, mas são poucas”, conta Índio. Até por isso, eles passam batidos pelos policiais rodoviários. “É difícil nos parar num comando”, completa.

Já ao nível do mar, os motociclistas do ABC topam com outras centenas de adeptos da modalidade. O encontro, semelhante aos que ocorrem todas as quintas-feiras na feirinha no estacionamento do hipermercado Carrefour, em São Bernardo, chega a reunir mais de mil adeptos da modalidade, uma festa verdadeira festa, com churrasco, cerveja e, como não podia deixar de ser, muito rock‘n roll. Ao som de Steppenwolf e The Doors, conversam sobre motos, trocam peças, combinam próximos encontros e até fazem tatuagens.

Social – De mal a ‘turma da pesada’ não tem nada. Boa parte dos eventos promovidos pelo motoclubes são de caráter social. “Nós arrecadamos alimentos não perecíveis na entrada dos encontros e mandamos para associações carentes”, explica o caminhoneiro por profissão e motociclista por paixão Pedro Carlos de Almeida, 57 anos. Big Jonis vai mais além: “todas as nossas festas são beneficientes. Nós criamos o motoclube para ajudar a tirar as crianças das ruas e levar o respeito ao trânsito”.




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