Num relatório publicado nesta terça-feira, essa organizaçao norte-americana contabiliza 96 casos de violaçao de mulheres albanesas cometidas pelas forças sérvias e iugoslavas pouco antes dos bombardeios e, principalmente, durante o ataque.

A ofensiva da Organizaçao do Atlântico Norte (Otan) contra a Iugoslávia aconteceu de março a junho de 1999.

Segundo o informe da Human Rights Watch, as violaçoes nao constituiam atos esporádicos e isolados cometidos por indivíduos, mas sim instrumentos de terror contra a populaçao civil, para roubar as famílias e obrigá-las a fugir de seus lares.

Todos os casos levantados pela organizaçao se referem a violaçoes coletivas, em que estao envolvidos no mínimo dois agressores. ``Nao se trata de atos acidentais cometidos por alguns loucos', afirma o diretor da divisao de direitos da mulher da Human Rights Watch, Regan Ralph.

"A violaçao foi utilizada como instrumento de guerra em Kosovo e deve ser castigada como tal. Os homens que cometeram esses crimes horríveis devem comparecer à justiça", exige o documento.

"(...) Me disse que tirasse a roupa, que chupasse sua coisa... Eu nao sabia o que fazer, mas ele apertou minha cabeça contra seu corpo e começou a me bater, até que desmaiei. Quando recobrei os sentidos, ele estava em cima de mim, senti uma dor muito forte...', relata uma vítima de 22 anos num dos vários testemunhos publicados no relatório.

``Me torturaram. Como estava grávida, me perguntaram onde estava meu marido... Um dos soldados disse ao outro: Bata nela, para que aborte'', afirma outra mulher de 21 anos, grávida de 7 meses quando aconteceram as violaçoes.

Os abusos ocorreram nas casas das vítimas, quando estavam fugindo ou durante a detençao. A maioria destes delitos foi cometida por paramilitares sérvios ``que vestiam diferentes uniformes, usavam longos cabelos presos com lenços amarrados na frente, barbas também longas e ainda grandes facoes', relata o informe.

``Em vários casos, as vítimas e testemunhas conseguiram identificar os autores como agentes da polícia especial sérvia com uniforme de camuflagem azul, ou como soldados do Exército iugoslavo com uniforme verde oliva', diz o documento.

A Human Rights Watch pediu ao Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia que abra processos nao apenas contra os autores das violaçoes, mas também contra os oficiais que os dirigiam.

A investigaçao da organizaçao nao confirmou as alegaçoes da Otan de que as tropas sérvias e iugoslavas abriram acampamentos, onde violavam mulheres em Pec e Djakovica, duas cidades do Oeste de Kosovo.

Por outro lado, ``desde o final da guerra têm sido comprovadas violaçoes de mulheres sérvias, albanesas e ciganas, cometidas por albaneses pertencentes, em alguns casos, ao Exército de Libertaçao de Kosovo (ELK)', garante o informe.