“Temos de ter muito cuidado na análise, mas isso pode significar um suave reaquecimento. O medo retrai os empregadores, que, num primeiro momento, preferem oferecer horas extras a fazer contratações. Somente num segundo momento, com a cristalização da tendência, as admissões começam a ocorrer”, avalia Cimar Pereira, técnico que acompanha a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE.
Outro aceno de recuperação do emprego foi a queda da PEA (população economicamente ativa) em outubro, em relação ao mês anterior. Foi o primeiro recuo desse tipo durante todo o ano e, embora muito pequeno, de 0,4%, significou a saída de 86 mil pessoas da classificação “desocupado ou à procura de trabalho”. O aumento da PEA é um fenômeno típico de crise no mercado e atua como um intensificador do crescimento da taxa de desemprego.
A explicação é simples: a queda de rendimento familiar, causada pelo desemprego ou simplesmente pela perda do poder aquisitivo do salário, faz com que vários membros da família saiam a campo em busca de ocupação, mesmo aqueles que normalmente não o fariam, como adolescentes e idosos. Isso aumenta a população economicamente ativa do país e, por conseqüência, a taxa de desemprego, já que a quantidade de postos criados nunca acompanha a mesma proporção.
Quando a situação começa a voltar à normalidade, a PEA diminui. Em outubro, a chamada não-PEA (população não-economicamente ativa) aumentou 1,4% em relação a setembro. “Pode ser o reflexo do mercado de trabalho começando a reagir, mesmo que de forma retardada. Pode ser um bom sinal. Mas, ainda temos de olhar isso com cuidado”, diz Pereira.
Ele lembra que, com a parcela extra de dinheiro entrando na economia neste mês, via 13º salário, ainda se espera uma elevação de consumo que puxe a reação da economia. “Só poderemos saber que reação é essa a partir de maio ou junho.”
Em documento distribuído a seus clientes intitulado Brasil: O país entrou nos trilhos?, o banco Credit Suisse First Boston afirma que o “vale da economia brasileira” ocorreu no segundo trimestre do ano e, a partir do terceiro trimestre, os sinais de recuperação se tornaram mais evidentes. De acordo com projeção do banco, em 2004 o consumo privado e os investimentos devem crescer mais do que os 3,5% esperados para o PIB. Para o consumo, o CSFB está prevendo incremento de 5% e, para investimentos, 6,4%. Neste ano, o banco prevê que ambos fechem no negativo com, respectivamente, -3,3% e -7,6%.
“O primeiro trimestre de 2004 ainda deve apresentar picos de desemprego que levarão a taxa a até 14,5%”, diz Alex Mourad, analista do banco.
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