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Autopeças podem perder 100 mil postos em 2 anos
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
05/08/2010 | 07:01
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O setor de autopeças deve perder 100 mil postos de trabalho nos próximos dois anos. É o que estima o sindicato dos Metalúrgicos junto com outras entidades do segmento. A ameaça real de demissões já ronda as empresas e acontece por conta de portarias do governo federal que permitem a importação de ferramentas e moldes usados, em especial da China.

Na região, o segmento é o segundo que mais emprega trabalhadores, com cerca de 26 mil postos de trabalho. Apenas entre Santo André e Mauá são 12 mil vagas, que já sofrem baixas por conta da "concorrência desleal" com a oferta do exterior.

"O que acontece com a importação é uma competição desonesta, uma jogada financeira que nos prejudica. Ninguém consegue competir com produtos importados, de péssima qualidade, como tem ocorrido. Não é só questão de fazer investimento - que é feito pelas empresa de autopeças - , nem mesmo qualidade. O problema é que lá fora as condições de trabalho são precárias, há muito suicídio, não dá para competir com isso. Não dá para nivelar por baixo", reclama o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Martinha.

Para o sindicalista, o maior problema é que atualmente as montadoras tornaram-se principal destaque no setor metalúrgico - no Grande ABC o segmento automotivo possui cerca de 100 mil postos recém-conquistados e muito comemorados pela categoria - o que tornou ainda mais complicada a situação das autopeças.

"Estamos nos tornando apenas montadoras, excluindo as empresas fabricantes de autopeças e de ferramentais. Estamos jogando no lixo mais de 100 mil empregos diretos no setor metalúrgico, por ano, com grande incidência aqui no Grande ABC e, em especial, em Santo André" argumenta.

Para reverter a situação e minimizar os danos da entrada das importações, uma comissão participou ontem de reunião em Brasília com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, solicitando a retirada da portaria que permite a entrada no país de peças e moldes já usados. "Esse produtos são materiais difundidos, então, se você não funde, não tem trabalho de ferramentaria. Isso já vem pronto e usado, o que é pior."

De acordo com o diretor do sindicato, Adilson Torres, o Sapão ficou decidido que uma comissão quadripartite será montada para tentar resolver a situação. "Teremos integrantes do sindicato, das empresas, parlamentares e também do Ministério para discutir alternativas."


Trabalhadores do segmento têm jornada maior e piso inferior
Além da ameaça de demissões que ronda o setor de autopeças, os 26 mil trabalhadores da região ganham até metade do valor pago nas montadoras e enfrentam jornadas de trabalho maiores, em média de 44 horas semanais, contra as 40 já adotadas pelo setor automotivo.

"Montadora é uma situação diferenciada, eles mandam no mercado. Enquanto o piso médio de montadora é de R$ 3.600, nas empresas de autopeças é R$ 1.600, mas chega a R$ 900", conta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Martinha.

O sindicalista estima que são 100 empresas nas duas cidades - além das que funcionam em São Bernardo e Diadema -, trabalhando para atender as montadoras. "Esse é nosso desafio: melhorar as condições desses trabalhadores e evitar demissões", conclui.

 




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